O 20.º aniversário do barrete CPLP no “Público” – 4 (de 4)

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Na edição do “Público” de Domingo, 17 de Julho de 2016, uma série de artigos a propósito do 20.º aniversário da CPLP. Este é o quarto e último desses artigos, versando — quando não tergiversando — todos eles sobre o monumental barrete em que consiste aquela bizarra organização “lusófona”, sendo que aqui temos, em Editorial, uma espécie de súmula dos aniversariantes conteúdos em destaque.

Passei por cima, literalmente, de um dos artigos da série — o do actual ministro dos Negócios Estrangeiros, que não diz (como aliás seria de esperar) rigorosamente nada que interesse; se bem que não seja difícil corrigir qualquer texto esgalhado no horripilante acordês, achei por bem neste caso não estar a maçar as pessoas com o paleio de chacha em que Sua (dele) Excelência se especializou.

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O futuro (incerto) da CPLP

Direcção Editorial

17/07/2016 – 08:33

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) faz 20 anos, mas está longe de demonstrar a pujança que a idade faria pressupor. Pelo contrário, esta organização internacional está em franco declínio e precisa urgentemente de nova injecção de energia e de ideias para se revitalizar. Apesar do natural optimismo de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros (pág 10), basta ler os depoimentos de jovens dos vários países (págs 6 a 9) para se perceber a decepção e o distanciamento com que a esmagadora maioria encara o presente e o futuro de uma comunidade cuja existência parece dizer cada vez menos aos milhões de cidadãos que dela fazem parte. Em vez de política, a mensagem destes jovens situa-se na exigência de políticas de cooperação capazes de ajudar a atenuar as assimetrias entre os vários estádios de desenvolvimento social e económico dos países, única via para dar corpo ao sentimento de solidariedade que é urgente solidificar e sem o qual será praticamente impossível manter a dignidade e a influência da CPLP.

Não vai ser fácil corresponder à urgência deste apelo. Desde logo pela “grande heterogeneidade ideológica e de dimensão” que já tornou “difícil encontrar um denominador comum” entre os vários países, como bem sublinhou Francisco Seixas da Costa, ex-embaixador de Portugal em Brasília e ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus. Depois porque “os países tendem a organizar as suas políticas externas na base das suas prioridades”, sendo que as de Portugal não coincidem com as de Angola, nem as do Brasil com as de Moçambique e por aí adiante, na observação oportuna do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Martins da Cruz. Finalmente, a heterogeneidade dos níveis de desenvolvimento, as consequências da globalização e a crise que atingiu vários países, entre os quais Portugal, fragilizam a capacidade de intervenção e impõem estratégias nacionais mais egoístas.

Dito isto, a sobrevivência da CPLP depende de um golpe de asa e talvez a chave da questão não esteja tanto em promover fugas para a frente abrindo portas a novos membros, sobretudo quando não partilham os valores democráticos e a defesa dos direitos humanos. Há, no entanto, uma nova realidade por onde pode passar uma parte importante do futuro desta organização de falantes da língua portuguesa: as comunidades lusófonas em países fora da CPLP. Porque são alguns milhões, porque já há dinâmicas comuns no terreno, sobretudo em casos como a França e os EUA, e porque vêm ganhando peso económico, social e político. Veremos se lhes atribuem o papel devido.

[Transcrição de O futuro (incerto) da CPLP – PÚBLICO, 17.07.16. Destaques e “links” meus. Imagem: Por SEPRodriguesObra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=34183818%5D


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