O “Público” e a sua nova Direcção (ou será “direção?)

Os colunistas e o novo acordo ortográfico

O jornal continuará a publicar textos de colunistas e convidados que seguem o novo acordo ortográfico.

José Manuel Barata-Feyo
17 de Setembro de 2022
«Uma das razões que levam o leitor Elysio Correia Ribeiro “a assinar e a ler diariamente o PÚBLICO é a de não ser agredido com o português (?) do ‘aborto’ ortográfico”. “Neste aspecto, o jornal é caso único – julgo – no confrangedor panorama da imprensa escrita que, sem ser a isso obrigada, correu a cumprir uma lei que, ainda por cima, foi adoptada à revelia do que ela própria afirmava (tinha de ser implementada por todos os países lusófonos) por uma classe política farisaica e ignorante, e contra a opinião de praticamente todos os que profissionalmente manejam a língua.”»

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É um caso sui generis no panorama da imprensa portuguesa generalista de implantação nacional. Existem outros jornais que igualmente recusam a cacografia brasileira — como o “Novo” ou “O Diabo” ou o “Página Um” –, mas foi o “Público” aquele que há mais tempo declarou expressamente a sua determinação em continuar a ir para as bancas (e para a Internet) sempre redigido em Português; inclusivamente, e isto não é coisa pouca, dadas as óbvias implicações políticas da decisão, a Direcção lançou em 2015 a edição “Público – Brasil”, igualmente no «português escrito em Portugal».

Desde pelo menos 2011, sucederam-se naquele jornal os artigos denunciando o estropício, tanto de jornalistas “da casa” como de colaboradores ou colunistas externos e ainda um sem número de artigos de opinião dos autores mais diversos, de “figuras públicas” — representando, no seu conjunto, todo o espectro partidário — ao mais comum dos leitores — também transversalmente, de diversas origens, estatutos sociais e grau de escolaridade ou académico.

De entre todos os artigos ali publicados sobre o #AO90, a maioria dos quais foram aqui reproduzidos, merece especial destaque Nuno Pacheco, director adjunto e (evidentemente) membro do Conselho de Redacção do jornal; apenas deste autor, é possível contar 51 “posts” no site da ILCAO (12.09.200817.06.2015) e outros 82 aqui mesmo, no Apartado. Nota de relevo ainda para o comentador político Pacheco Pereira que, além de diversos textos sobre o assunto, cunhou a expressão porventura mais certeira e exacta para descrever a língua univérrssáu e suas consequências: «um Acordo Ortográfico que se pretende impor manu militari».

Pois agora o que se prefigura na Redacção do “Público”, num futuro bem mais imediato do que seria previsível há apenas alguns meses, é a mudança do Director. Com tudo aquilo que essa mudança poderá implicar, evidentemente. Para já, o que sabemos sobre as orientações redactoriais e, por consequência, a respeito do que poderá (ou não) vir a suceder quanto ao AO90, é que… não sabemos coisa nenhuma; sobre isso, pelo menos até ao momento, nem uma palavra. O que não costuma ser bom prenúncio; por definição, o silêncio precede algo de muito “barulhento”…

Bom, sejamos optimistas. Como se diz em brasileiro, pensámentu pôzitchivu

(Qui orrô, mi adisculpi, viu?)

Conviria, porém, mesmo tentando ver a coisa pelo lado bom, não dar uma de anjinhos. “Conteúdos editoriais” e “conteúdos comerciais”, especialmente quando concatenados ambos os termos na mesma frase, não aparenta de facto — nada, nada, nadinha — ser bom prenúncio. Em 2020, que se saiba — e pouco ou nada mais se soube sobre o assunto daí em diante –, o Governo, com um gesto magnânimo e extremamente generoso, espalhou 15 milhões pelas redacções e, principalmente, pelas “redações” de jornais, rádios e canais de TV; para pagar “publicidade institucional”, dizem.

Tais “ajudas”, depreende-se, irão somar-se à mesmíssima publicidade institucional que toca aos OCS de forma regular: éditos, avisos, alertas, concursos etc. Aliás, essa regularidade é uma das mais importantes fontes de financiamento no ramo, chegando em alguns casos a ser a única receita para além das vendas do produto jornalístico em si, em papel ou por meios digitais, neste caso com publicidade paga também pelo sector empresarial privado.

Bem vistas as coisas, assim como sucede quanto ao próprio acordo da língua brasileira, isto é tudo uma questão de dinheiro. O qual, como sabemos, não tem nem cor (bem, as notas de dólar, se calhar por serem verdes, gozam das preferências gerais) nem opinião nem credo e nem mesmo nacionalidade. Como dizia já não sei quem, “um escudo é um escudo”. Agora, o escudo até já nem tem cotação cambial, mas não faz mal, se não houver dólares pode ser em euros, ou em francos suíços, vá, no problem, isso troca-se numa data de offshores.

Não há-de ser nada. Fiemo-nos noutra coisa sem ser na virgem. Decerto o “Público”, onde é tudo boa rapaziada, estará, ao invés do que sucede com a maioria dos media tugas, imune a qualquer OPA governamental. O que significará, por conseguinte, que poderemos continuar a ler aquilo em paz e sossego, sem conspurcações brasileirófonas.

Esperemos que ao menos desta vez haja um escrutínio realmente democrático e que naquela Redacção ninguém acabe a votar sozinho.

Casamento de novo director do Público com deputada do PS levanta reservas

Margarida Davim
revista “Sábado”, 10 de Abril de 2023
www.sabado.pt

Conselho de Redacção do Público deu parecer positivo ao nome de David Pontes para substituir Manuel Carvalho. Mas, em declaração de voto, duas jornalistas defendem que preocupação quanto às fronteiras entre conteúdos editoriais e comerciais e casamento com socialista deviam ser “motivo para dar um parecer negativo à indicação” do novo director.

O jornal Público já tem novo director indigitado. David Pontes sucederá a Manuel Carvalho quando, a 1 de Junho, este sair da direcção do diário da Sonae. O nome escolhido pela administração teve o parecer positivo do Conselho de Redacção. Mas os jornalistas que compõem este órgão deixaram, nesse texto, claras as reservas que Pontes lhes suscita.

Uma das preocupações dos jornalistas do Público é a de que esta nomeação não dê garantias de uma separação entre os conteúdos editoriais e os comerciais.

“Atendendo à natureza das funções recentemente desempenhadas por David Pontes nesta e noutras empresas de comunicação social, o CR entende, porém, ser imperioso sublinhar que o novo director deve garantir e zelar por uma clara distinção entre as esferas editorial e comercial e reforçar os mecanismos de transparência do jornal quanto aos conteúdos apoiados e aos conteúdos promovidos“, lê-se no parecer a que a SÁBADO teve acesso e que foi redigido já depois de Pontes ter respondido a um pedido de esclarecimentos a este órgão.

“A independência e o rigor informativo são os principais activos desta redacção e devem constituir prioridade para a nova direcção editorial, à qual compete a missão de preservar a marca Público, salvaguardando-a da dispersão e da descaracterização que podem advir da multiplicação de chancelas e projectos”, frisam o Conselho de Redacção.

Director deve abster-se de escrever sobre temas em que é “parte interessada”

Os membros do Conselho de Redacção alertam ainda para a necessidade de o novo director evitar conflitos de interesse nas matérias sobre as quais escreve, defendendo que “os jornalistas do Público, e por maioria de razão o seu director, devem inibir-se de escrever sobre questões em que possam ser considerados parte interessada e recomendam a esse respeito uma política de transparência perante os leitores”.

Em causa está o casamento de David Pontes com a deputada do PS Carla Sousa. De resto, este parecer tem uma declaração de voto assinada por duas jornalistas que entendem que esta circunstância e as dúvidas sobre a separação entre o que são conteúdos jornalísticos e conteúdos comerciais seriam por si só suficientes para o Conselho de Redacção chumbar o nome de Pontes.

“Subscrevemos as reservas apontadas pelos nossos colegas do CR, que partilhamos, mas, no nosso entender, estas são motivo para dar um parecer negativo à indicação de David Pontes para novo director do Público”, escrevem numa declaração de voto, na qual expressam preocupação pela “frágil delimitação das fronteiras entre os conteúdos editoriais e os conteúdos apoiados, a qual ameaça os princípios fundadores do Público e retira o foco do jornalismo a que nos devemos dedicar”.

A declaração de voto defende ainda que, sendo David Pontes casado com uma deputada do PS, é “inadequado que não considere que se deva abster de fazer comentário político, evitando assim a suspeição sobre óbvios conflitos de interesses”.
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Novo Império (escola de samba, Figueira da Foz, Portugal)

Fragmento de troca de comentários, em data incerta (talvez 2017), entre dois utilizadores do Facebook. Este recorte, encontrado e repescado por mera casualidade, estava perdido entre dezenas de materiais e conteúdos diversos numa das várias “colecções” que ao longo do tempo foram sendo guardadas (à cautela) em locais e em suportes diferentes.

[Tradução]

— Mihail Cazacu (Bucareste, Roménia)
Porque é que em Portugal se fala Português, uma língua brasileira, em vez de uma das línguas europeias?
— Garcia Francisco (Portugal)
Em Portugal falamos Português, que é efectivamente uma língua brasileira, dado o facto de nós termos sido descobertos em 1876 por uma navegadora brasileira de nome Fafá de Belém. A capitã Fafá atravessou o Atlântico num barco chamado Chico Buarque e encontrou terra num local hoje conhecido como sendo a costa de Portugal, perto de Évora, uma cidade costeira de onde eles enviavam escravos portugueses para o Brasil. Depois de estabelecido o comércio de escravos, os colonizadores brasileiros começaram a desenvolver o local e por fim começaram a enviar [para cá] as suas telenovelas, que sem dúvida se tornaram no ponto fulcral da Cultura deste jovem e ingénuo país. Apenas em 1958 conquistamos a independência em relação ao [Brasil] […]

Evidentemente, este “diálogo” tem tanto de virtual como de — não sendo brutal na adjectivacão — irónico. O ilustre desconhecido, Garcia Francisco de sua graça, merece uma saudação calorosa pelo extraordinário sentido de humor com que destrói uma intrigante dúvida existencial de certa cabecinha extremamente baralhada. Presume-se que a interlocutora romena tenha ficado mergulhada numa ainda mais intrincada teia de ignorância sobre Portugal e a Língua Portuguesa e sobre o crioulo brasileiro mai-lo seu “gigantismo”. É, no entanto, algo curioso que até entre alguns estrangeiros já comece a pairar a fábula brasileirista.

A resposta não é de todo irónica, afinal. Podemos mesmo dizer que é reveladora — e tristemente — do ponto a que chegou já a “difusão da língua” brasileira no mundo, ou seja, da intensa campanha de desinformação e de intoxicação da opinião pública promovida pelos lacaios neo-imperialistas da tugalândia.

Ainda menos piadético do que este “diálogo”, se tal coisa é possível dizer a respeito das golpadas visando a estupidificação em massa, é a gravação que seguidamente [agradecimentos a Paulo Martins pela indicação] podemos “apreciar” ao vivo e a cores: as “exigências” que brasileiros em Portugal pretendem impor ao país que os acolheu (e que os qualifica), na sua auto-assumida condição de colonizadores. Em suma, para este naipe extremamente “selecto”, é um escândalo que em Portugal se fale Português. Acusando os “portuguesinhos” do habitual no seu discurso característico e atirando-lhes para riba dos lombos os insultos habituais (que nós somos “preconceituosos” e xenófobos”, essas lindas coisinhas), em especial os “académicos” do calçadão — a coberto da total impunidade conferida pelos brasileiristas tugófilos — fartam-se de malhar no país, nos seus habitantes e na sua Língua.…e


Nada disto é meramente casual, evidentemente. O linguicídio é “apenas” uma das facetas mais visíveis e notórias do processo em curso que visa a aniquilação da identidade nacional. Além do factor identitário fundamental, substituindo a Língua Portuguesa pela brasileira a coberto de um “acordo ortográfico” que de acordo nada tem e de ortográfico ainda menos, os brasileiristas nascidos em Portugal promovem sistemática e violentamente o esmagamento cultural e o radical apagamento da História de todo e qualquer resquício da Pátria que tanto os seus egrégios avós como aqueles bastardos gerou.

Com a maior das “levezas” (superficialidade) foram sucessivamente permitindo — e até mesmo facilitando — a eliminação de conteúdos portugueses. Em especial na Internet e nos sistemas informáticos — a começar pela extinção do “código de matrícula” do Português-padrão (CHCP 860) — mas também nos demais canais e meios de informação, difusão e entretenimento.

Já aqui foram escalpelizados alguns dos casos mais flagrantes de apagamento selectivo e eliminação sumária (Google e outros “motores de busca”, Wikipedia, programas de edição de texto, “corretores” cacográficos compulsivos, etc.). Todos os endereços de serviços e de plataformas que eram “https://domínio.com.pt” ou “pt.domínio.org” ou “domínio.xxx.pt-pt”, por exemplo, e que continham “interfaces”, documentação ou quaisquer outros conteúdos portugueses e cuja ortografia era a da Língua Portuguesa mantiveram o endereço (URL) mas o que agora deles consta está tudo na cacografia brasileira, escrito na língua brasileira e com conteúdos brasileiros; existem casos em que os anteriores conteúdos portugueses (imagens, entradas de enciclopédia, expressões idiomáticas, etc.) foram substituídos pelos equivalentes brasileiros.

Evidentemente, convém ir ilustrando e documentando o golpe de Estado, também a página de abertura da Wikipédjia Lusôfona contém apenas assuntos brasileiros (negócios, de preferência)

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos é uma parceria firmada entre o Brasil e a França, no ano de 2008, com o objetivo de transferir tecnologia para a fabricação de embarcações militares. É um componente da Estratégia de Defesa do Estado para o desenvolvimento do poder naval do país com a produção de quatro submarinos convencionais (propulsão diesel-elétrica) e do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro. O programa fará do Brasil um dos poucos países a contar com tecnologia nuclear, ao lado de Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China e Índia.

Apesar de o programa ter iniciado em 2008 com o objetivo de prover a Marinha do Brasil com uma “força naval de envergadura”, parte dele remonta à década de 1970 quando a Marinha começou a procurar o domínio da energia nuclear. (leia mais…)

Veja-se um outro caso ao acaso, que isto está por todo o lado e já infectou tudo: a versão “pt” (brasileira) da Google Maps utiliza para os transportes públicos portugueses a terminologia exclusiva do Brasil. Assim, o famoso “eléctrico 28” é uma espécie de monumento alfacinha em movimento a que agora os brasileiros impõem que se chame “bondji vintchioito” ou “bondjinho 28”.Temos portanto, por força do AO90, da “língua univérsáu” e, em suma, por ordem dos novos “bwana” cá do indigenato, que “em nossa cápitáu próvinciáu” Lisboa temos “bondes”, o que aliás é extensível a toda a colónia, onde também passamos a ter ponto de “ônibus” onde na anticlíngua tínhamos “paragens de autocarro” (uma chinesice que ninguém entendia, “ônibus” é muito mais “fáciu, viu”).
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São Bento do Corcovado

Palácio de São Bento, Assembleia da República (Lisboa, Portugal)

 

De acordo com dados de 2010,[4] o desempenho do Brasil em participação política é comparável ao de Malauí e Uganda, considerados “regimes híbridos”, enquanto o desempenho em cultura política é comparável ao de Cuba, considerado um regime autoritário.[4] No entanto, a média geral do país é inferior somente à do Uruguai (nota 8,17), do Chile (nota 7,84) e da Argentina (nota 7,02) na América do Sul.[4] Dentre os BRICS, a Índia (nota 7,74) e a África do Sul (nota 7,56) possuem desempenho melhor.[4] [Wikipedia brasileira]

Com as devidas desculpas pela auto-citação, devo rectificar uma afirmação nela contida:

Esta campanha, utilizando as mais modernas tácticas (a CPLP), ferramentas (o AO90) e armamento (os OCS), foi lançada em 1986 por um “sindicato” de políticos brasileiros e portugueses que, em 1990, congeminaram um “acordo” político garantindo ao Brasil a tomada de posse administrativa da Língua Portuguesa e, re-baptizando-a como “língua universal”, outorgando àquele país o direito de se imiscuir (ou mandar) nos assuntos internos (ensino, diplomacia, exploração de recursos) de Portugal e dos ex-PALOP (agora PALOB). [post “Assinar de cruz”]

De facto, a fraseoutorgando àquele país o direito de se imiscuir nos assuntos internos de Portugal” peca por defeito. Conforme noticia o portal oficial da República Federativa do Brasil (em baixo, texto e áudio), o plano de anexação política em curso de execução desde 2008 tem agora o respaldo não apenas do Governo brasileiro como também do Congresso de Brasília, ou seja, literalmente, do poder executivo e do poder legislativo (mais ou menos) instituídos naquela federação.

O que significa, portanto, no que diz respeito a Portugal (e restante CPLP), que o Brasil já pode dispensar os acordos leoninos de bastidores, as conversações secretas, as negociatas e os “cambalachos” com os seus comparsas portugueses. Doravante, estribados na mesma “lógica” do “acordo ortográfico” (eles são 210 milhões e nós apenas 10 milhões), o Brasil está “legalmente” autorizado (por si mesmo e pelos vendidos portugueses) a não apenas ditar como a legislar sobre quaisquer matérias (literal ou metaforicamente) que sirvam os seus interesses.

O mais natural é que em Portugal ninguém sequer se aperceba de ter sido cumprida mais esta etapa do plano, como anteriormente ninguém se apercebeu da substituição de uma organização supra-nacional (os PALOP) por outra integralmente fabricada pelo Brasil (a CPLP), ninguém se apercebeu de que o objectivo principal sempre foi o esbulho das riquezas naturais de Angola e de Moçambique (Angola especialmente, claro), ninguém se apercebeu do golpe diplomático-político-económico a que os envolvidos chamam Acordo de Mobilidade e ninguém se apercebeu de que o Acordo Ortográfico representa a eliminação sumária da Língua Portuguesa substituindo-a pela brasileira. Muito menos a alguém passou sequer pela cabeça o maquiavelismo da montagem e encenação desta espécie de peça em três Actos:

Acto I: imposição a Portugal e PALOP, com a “assinatura” protocolar de dois pequenos Estados da CPLP, de uma cacografia alienígena a pretexto de uma pretensa “unificação” da língua brasileira, para o efeito re-baptizada como “língua universal”.

Acto II: brasileirização intensiva com a cobertura política de uma organização internacional fictícia (a CPLP), abarcando primeiramente os sectores educativo, editorial, comercial e de tradução, e posteriormente invadir — com participações directas ou através de assalariados de fachada — as mais diversas áreas industriais.

Acto III: a deformação das crianças e dos jovens de Portugal através de intensos “banhos” com insistentes “mergulhos” no caldo cultural brasileiro, não apenas a língua mas também os costumes e tradições, como as escolas de samba, abarcando já todos os níveis de educação escolar, incluindo as escolas portuguesas nas ex-colónias e ainda os centros culturais e de ensino (mesmo os destinados a PLE – Português Língua Estrangeira), em especial nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

É este o guião da peça. Como envolve imenso ilusionismo e toda a sorte de truques, ninguém acredita no que os seus olhos vêem.

Pois bem, há novidades sobre o feérico espectáculo: enquanto o respeitável público está muito entretido ou imensamente distraído, as portas do teatro estão a fechar-se para sempre. Em breve ninguém poderá sair, escapar dali.

E dessa sorte eles não devolvem o custo dos bilhetes, nem em espécie de embrutecimento nem em contado de convulsões.

Escola de Samba Costa de Prata | Site Oficial (escostadeprata.pt)

 

  • Presidente da Câmara defende participação maior do parlamento brasileiro na CPLP

O presidente da Câmara participa de evento internacional em Portugal. Durante o encontro, Arthur Lira (PP-AL) anunciou a criação de comissão mista e encontro de países de língua portuguesa na Câmara. Mais informações na matéria do repórter Antonio Vital.

Na abertura do seminário sobre os 25 anos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, defendeu uma maior participação do parlamento brasileiro no fortalecimento da instituição, que reúne nove países e 260 milhões de pessoas em quatro continentes.

Lira anunciou apoio à criação de uma comissão mista do Congresso Nacional para tratar dos temas e propostas relativos à CPLP, entidade que busca reunir e viabilizar interesses comuns dos países do bloco na economia e na cultura.
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Assinar de cruz

«Apesar da manifesta melhoria das relações comerciais, apesar da TAP, da Embraer e dos contactos, um oceano de percepções continua a separar Portugal do Brasil. Que os brasileiros tenham cultivado o antilusitanismo, no século XIX, para construírem a sua própria identidade (que não existia antes da independência), compreende-se; que o continuem a fazer até hoje, quase 200 anos depois, já se percebe menos.» [Carlos Fino, 03.09.2018]


A expressão-chave nesta série de artigos e gravações sobre a colonização linguística brasileira é “português do Brasil” (com variantes como “português brasileiro”, por exemplo), essa tremenda mentira em que nem bebés de chupeta acreditam; para as crianças portuguesas — ou seja, para as principais vítimas da intoxicação malaco-becharense — aquilo que estão a aprender a falar e a escrever é brasileiro, é mesmo a língua brasileira. No que têm toda a razão, evidentemente, jorrando como sempre acontece pela boca das crianças a verdade crua, sem dourados, torções ou disfarces.

https://www.facebook.com/groups/616234322684043/posts/689189422055199/?__cft__[0]=AZWZka-dOHi8Uxu-5UVUh0kT2AQr2o1XhxlI02hGbEcxIu1t-uGGK2kGaJTAvt2G5k_1F0f_CFymySFADyZbCTjualwICiWC1Q8RB0Rs2o0R5jxWCRKeOvwq3KNZN-efNZIqvgF_Pqw_8Ah3qahss7H1mI-vpouXbnkwHIn2Xg_AjYPIii47J_lJODr0Qu7GEYo&__tn__=%2CO%2CP-y-RNo caso específico de mais esta notícia, de um órgão de comunicação social português, o enunciado da matéria jornalística mantém-se mas agora com outros e mais pormenorizados exemplos da campanha neo-imperialista, racista e xenófoba em curso; esta campanha, utilizando as mais modernas tácticas (a CPLP), ferramentas (o AO90) e armamento (os OCS), foi lançada em 1986 por um “sindicato” de políticos brasileiros e portugueses que, em 1990, congeminaram um “acordo” político garantindo ao Brasil a tomada de posse administrativa da Língua Portuguesa e, re-baptizando-a como “língua universal”, outorgando àquele país o direito de se imiscuir (ou mandar) nos assuntos internos (ensino, diplomacia, exploração de recursos) de Portugal e dos ex-PALOP (agora PALOB). As medidas mais concretas e imediatas já em curso de execução incluem a priori a perversão do Acordo de Schengen, que Portugal subscreveu enquanto país-membro da União Europeia, e a “negociação” — intermediada por portugueses comissionistas — com Angola e Moçambique da exploração de petróleo, diamantes, ouro, gás natural, madeiras exóticas e mão-de-obra “barata”.

Assumir ou presumir ou pretender que a destruição da Língua Portuguesa, que a permanente lavagem ao cérebro a que são sujeitos os portugueses e que o condicionamento mental das nossas crianças são meras “coincidências”, fingir que a campanha neo-imperialista brasileira é só mais uma “teoria da conspiração” ou, em suma, como corolário do infelizmente ancestral deixandarismo lusitano, continuar a assobiar para o lado e “vê-las passar”, corresponderá fatalmente a assinar de cruz uma extensa certidão de óbito passada à maioria ainda em vida e de novo aos seus egrégios avós.

“Oi, beleza?” Como os ‘influencers’ brasileiros transformam o português dos mais novos

Rádio Renascença
rr.sapo.pt, 14.10.21
14 Out. 2021 • Pedro Mesquita , André Rodrigues

Youtubers

Com a proliferação de canais de youtubers brasileiros, o português do país do samba substitui, por vezes, o português original no dia a dia de crianças entre os quatro e os dez anos. A escola acompanha com preocupação, os pais procuram corrigir o mais que podem. Mas nem sempre conseguem exercer o papel de regulação. Há crianças a adormecer “por exaustão”, reconhece uma professora.

“Oi, galera”, “Beleza?”. São as expressões do português que se fala no Brasil e que estão a tornar-se cada vez mais frequentes no vocabulário das crianças portuguesas. Basta entrar no YouTube e, rapidamente, se percebe que escolha é coisa que não falta.

Um dos mais populares em Portugal é Luccas Neto, que já superou a marca dos 32,6 milhões de inscritos no seu canal.

É um negócio de família, pode dizer-se: Luccas é irmão de Felipe, um dos primeiros youtubers a fazer sucesso no YouTube. O canal mais voltado para o público adolescente conta com mais de 40 milhões de inscritos e mais de 10 mil milhões de visualizações.

Mas é na faixa entre os quatro e os 10 anos que o fenómeno regista um crescimento mais acentuado. Há poucas crianças dentro destas idades que nunca tenham visto, pelo menos, um vídeo de Luccas Neto.

O que mais preocupa pais e educadores é o facto de verem e ouvirem horas a fio, muitas vezes sem controlo parental.

E acabam por imitar: “Oi galera, como é que você está? Digo esse tipo de coisas que também aprendi com o Luccas”, conta à Renascença Vasco (nome fictício), um menino de oito anos.

“Já pedi aos meus pais, se eu podia ser youtuber, mas eles ainda estão a pensar”, confessa Rita (nome fictício), com nove anos de idade.

Da imitação ao sonho de ser uma estrela do streaming infantil, vai um passo demasiado curto. O português sambado vai gradualmente substituindo o original.

“A minha mãe não se importa, mas o meu pai não gosta muito que eu fale assim”, reconhece a menina de nove anos, aluna na Escola das Devesas, em Gaia.

Outra casa, outra família, a mesma preocupação: Vasco admite que expressões como ‘oi’ são frequentes. Mas os pais não lhe dão margem para abrasileirar o português. “Eles já me avisaram de muita coisa que eu digo em brasileiro e não digo em português, conta.

A escola já se apercebeu do fenómeno

A fluência e a rapidez com que as crianças interagem umas com as outras em português do Brasil surpreendem as famílias e, também, os professores.

A sala de aula e, sobretudo, o recreio tornaram-se os locais preferidos para replicar falas que vão de Luccas Neto a Maria Clara e JP, de Luluca a Felipe Neto e tantos mais que tomam uma parte do tempo livre das crianças que crescem de olhos pregados nos tablets e nos smartphones.

“Eles até me ensinam, porque eu questionei como é que tenho alguns alunos que ainda não conseguem ler e eles encontram estratégias, dizem as palavras Luccas Neto no microfone do Google e aparece-lhes”, reconhece Carmen, professora do primeiro ciclo do Ensino Básico.

Também Cristina, educadora de infância, sente essa tendência nos mais pequenos: “eu sinto que as crianças com quatro, cinco ou seis anos têm livre acesso. Quase todos têm um tablet ou acedem ao telemóvel dos pais e eu vou descobrindo personagens de youtubers”.

A chave do sucesso destas personagens está nas situações que os vídeos retratam. As guloseimas estão presentes nos vídeos de Luccas Neto, a par com alguns comportamentos menos correctos que são retratados, até em contexto de sala de aula.

Vasco reconhece que o seu ídolo Youtube “goza com as pessoas e com a professora”.

Mas, depois, “aprendeu que gozar as pessoas, ainda por cima a professora é mau, porque, depois, ele tem de levar os castigos”.

E esta é a mensagem que este fã retém, a par de outras menos didácticas servidas a toda a hora.

Exaustão na aula, depois de uma madrugada ao telemóvel

Os vídeos são como as cerejas. Cristina relata duas situações em que alunos de nove e dez anos de uma das suas turmas “adormeceram por exaustão… Eles relatam que estão a ver no telemóvel dos pais ou no tablet esse tipo de vídeos”.

“Se uma criança acorda a meio da noite e tem um tablet no quarto, se estiver sozinha, pode fazer o uso que quiser do tablet. Eles podem ter os headphones e ninguém se apercebe do que eles estão a ver”, acrescenta.

Para Cristina, o mais preocupante na ausência da regulação parental no consumo destes conteúdos é a ausência “de quem os ajude a terem um espírito crítico daquilo que eles estão a ver”.

“Eles estão a ter acesso a muita coisa que não controlam, não têm ninguém que os ajude a perceber se aquilo está certo ou se foi só uma brincadeira disparatada que nós também já tivemos quando éramos crianças”, remata.

[Transcrição integral de peça jornalística da Rádio Renascença (original em rr.sapo.pt) publicada em 14.10.21, assinada por Pedro Mesquita e André Rodrigues. Destaques, sublinhados e “links” meus. Corrigi a cacografia brasileira do original. Imagem/citação de Joker de: “Joker Quotes” (Facebook).]

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Fia lux e fata lux es

Seria com certeza redundante, além de pretensioso e arrogante, especular sobre o que está por detrás disto. Que “sociedade secreta” (ou apenas “discreta”) e que ligações existirão porventura entre esta espécie de maçonaria católica e a sua congénere pretensamente secular; mais complexo ainda seria, a partir daí, determinar as relações de ambas as seitas, que facilmente se confundem, com outras organizações de características similares.

De uma coisa poderemos estar certos, porém, não apenas quanto a esta mas a respeito de todas as “famílias” e “irmandades” organizadas: não havendo para os seus membros o mais ínfimo risco ou a mais remota espécie de perigo, não sendo nem eles mesmos nem as respectivas “famílias” alvo de qualquer tipo de perseguição, de restrição de movimentos, de reunião, de expressão ou até de propagação das suas “ideias” (ou da sua total inexistência), pois então, por exclusão de partes, algo de muito difícil compreensão (ou de sinistro) compelirá tais “sociedades” a manter-se voluntariamente na clandestinidade. Se nada obsta a que se expressem ou manifestem, se ninguém pretende  segregá-los, denegri-los, caluniá-los, desonrá-los ou cometer contra eles qualquer espécie de violência — física, moral ou psicológica –, se não existe a mais ínfima reserva política ou condicionante jurídica especificamente dirigida a tais organizações, então, se se escondem por detrás do anonimato, se operam apenas nos bastidores, movimentando-se na sombra, como fantasmas ou demónios, algum motivo muito forte ou motivações quiçá inconfessáveis terão os “manos” para persistir no seu bizarro secretismo.

Não se tratando de organizações terroristas (se bem que, à semelhança dessas, também não divulguem  registos nem apresentem contas de espécie alguma) e não perseguindo objectivos de carácter subversivo (muito pelo contrário, já que todos os seus dirigentes pertencem à oligarquia dominante), torna-se para o comum dos mortais ainda mais “incompreensível” essa espécie de brincadeiras “discretas” das tais sociedades “secretas” (ou vice-versa). Ao fim e ao cabo, trata-se de adultos, nenhum deles conhecido por ser muito pobre, indigente, alienado ou particularmente ascético, praticando uma variante do infantil “vamos jogar ao esconde-esconde”. De repente, é facílimo, basta-lhes tirar o avental ou despir a batina e pronto, acabou-se a brincadeira, estão instantaneamente de volta ao seu elemento natural e ao seu ambiente habitual, os corredores do Poder, os “passos perdidos” da política, os recintos inexpugnáveis onde escorre o néctar borbulhante e se degustam canapés requintados enquanto se fecham negócios, compram-se nações e trespassam-se povos, decreta-se o apagamento de memórias inconvenientes e inventam-se “factos” indesmentíveis.

Terá decerto sido num desses lautos repastos que despacharam os confrades entre si, com a solícita participação de tribunos aspirantes, a chamada “questão ortográfica” — flagrante exemplo dos tais “factos indesmentíveis” inventados de raiz —  e como abichar mais uns milhões à conta daquela ridícula vigarice, distribuindo-os depois irmãmente (em sentidos lato e restrito) pelos demais convivas ali presentes e não esquecendo a aquiescência dos políticos envolvidos, a “neutralidade activa” dos respectivos lacaios (vulgo, deputados) e a anestesia, a passividade, a geral paralisia proporcionada pelo competentíssimo trabalho de lavagem cerebral realizado por “jornalistas” e “fazedores de opinião” a soldo. Ah, pois, contas são contas, meus amigos, e naquelas confrarias só pára gente de respeito, no que tange a metal sonante, pague-se o que se tiver de pagar, compre-se quem se tiver de comprar, até ao último centavo não há cá dívidas, raios, para alguma coisa servem os tampos das mesas, por baixo passa tudo.

São assim mesmo, os “irmãos”, quando despojados de suas vestes comprometedoras e interrompendo a contra-gosto seus estilizados rituais, aquilo é tudo gente que honra com escrúpulo compromissos, venha o primeiro que duvide, nunca, jamais um único daqueles senhores deixou por liquidar o montante que prometeu, desonrou a palavra dada a outro envolvido, roeu a corda numa qualquer negociata ou sequer chibou-se quanto a qualquer das piquenas ilegalidades que sempre ocorrem quando se congeminam fraudes, sempre que se compra, vende ou troca o que não é trocável, vendável ou comprável.

E também, que diabo, vejamos, será que existe mesmo alguma coisa absolutamente imune a transacções porque, mesmo tendo um valor incomensurável, ainda assim — ou por isso mesmo — não tem preço?

E haverá de facto alguém que de todo não se venda? Mas então porquê, santo Deus?!

Porque não tem valor? Pois. Não se vende porque não tem valor. Só pode.

Há uma nova tradução da Bíblia para Português. E os leitores vão poder pronunciar-se

Ângela Roque
24 Março 2019 , rr.sapo.pt,

Conferência Episcopal Portuguesa apresenta, esta segunda-feira, a tradução de ‘Os Quatro Evangelhos e Salmos’, feita a partir das línguas originais, mas a opinião de quem lê vai ser tida em conta para uma próxima edição. Trabalho iniciado em 2012 envolve mais de 30 biblistas, incluindo dos PALOP.

 

A edição de ‘Os Quatro Evangelhos e Salmos’ faz parte do projecto de tradução de toda a Bíblia, promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). O objectivo é conseguir um texto uniforme, traduzido directamente das línguas originais (hebraico, aramaico e grego), que possa ser usado na liturgia, na catequese e em todas as actividades da Igreja, quer em Portugal quer, futuramente, nos outros países lusófonos, que também colaboram neste trabalho. O projecto arrancou em 2012, e segue o acordo ortográfico.

A comissão coordenadora do projecto é presidida por D. Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo, e também ele biblista, e inclui vários elementos da Associação Bíblica Portuguesa (ABP).

Em entrevista à Renascença, o padre Mário Sousa, presidente da ABP e professor de Novo Testamento no Instituto Superior de Teologia de Évora, explica que já estava na altura da Bíblia ter uma nova tradução em Português, destacando, para além do grande número de colaboradores, o facto de se pretender sujeitar o texto à apreciação dos leitores antes de se avançar para uma versão definitiva.

Por que é que houve necessidade de uma nova tradução da Bíblia?

Porque sempre se sentiu, sobretudo nas traduções litúrgicas, que determinadas expressões não estavam, talvez, bem conseguidas, e que talvez fosse importante fazer-se uma revisão. Depois a Conferência Episcopal julgou ser pertinente em vez de se fazer apenas uma revisão e completar os textos – porque, de facto, nem todos os textos são usados na liturgia, e por isso nem toda a Bíblia estava traduzida a nível litúrgico -, fazer-se uma tradução de raiz, partido das línguas originais, ou seja, do hebraico e do grego, e também do aramaico, para determinadas passagens.
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