Cabo Verde (também) põe a língua de fora

Constituição da República Portuguesa

Artigo 11.º

Símbolos nacionais e língua oficial

1. A Bandeira Nacional, símbolo da soberania da República, da independência, unidade e integridade de Portugal, é a adoptada pela República instaurada pela Revolução de 5 de Outubro de 1910.
2. O Hino Nacional é A Portuguesa.
3. A língua oficial é o Português.

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“Cabo Verde ganha se mostrar ao mundo o que sabe em crioulo”

Sara Azevedo Santos

Está a ser traçado o caminho para que o cabo-verdiano seja reconhecido como língua oficial no país, em paridade com o português. Em Lisboa, há um curso para promover o crioulo.

Em Cabo Verde, segundo a Constituição deste país, a língua oficial é o português mas o Estado está a criar as condições para que o crioulo cabo-verdiano seja oficializado juntamente com a língua de Camões.

Durante o mês de Fevereiro, o Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV) em Lisboa iniciou um curso básico de língua cabo-verdiana para todos aqueles que queiram aprender a comunicar nesta língua.

Adelaide Monteiro, natural da ilha de Santiago, dá aulas de crioulo há mais de 20 anos, tanto para nacionais como estrangeiros, mas este é o primeiro curso em parceria com o CCCV. Uma ideia que já estava pensada há algum tempo, mas apenas este ano se conseguiu concretizar.

A professora explica que os principais inscritos nesta edição são falantes de língua portuguesa mas nem todos são portugueses. Adelaide Monteiro explica que a maioria dos alunos que teve ao longo dos anos foram estrangeiros que foram trabalhar para Cabo Verde e queriam aprender a segunda língua do país.”Os principais motivos apresentados pelos alunos para se inscreverem é conseguirem comunicar com cabo-verdianos. A maioria já conhece Cabo Verde e quer aprofundar o seu conhecimento da língua”, diz Adelaide Monteiro ao DN.

A língua oficial deste país insular é o português, mas está explícito na Constituição de Cabo Verde que o Estado está a criar as condições necessárias para oficializar o cabo-verdiano em paridade com a língua portuguesa. Para Adelaide Monteiro, os linguistas já fizeram muito deste trabalho com a criação de gramáticas e manuais para ensinar a língua como língua materna e estrangeira. Acredita que a partir de agora a oficialização está nas mãos dos governantes.

“Do meu ponto de vista há uma insegurança da parte dos órgãos decisores em apostar na língua cabo-verdiana como língua de ensino. Essa insegurança advém de um desconhecimento de tudo o que se tem feito a nível do estudo do crioulo”, analisa a professora.

Falar “sem traduzir”

Adelaide Monteiro considera que é necessário criar uma política linguística para o cabo-verdiano e introduzi-lo nas escolas em conjunto com o português. Antes de começarem a escola, muitas crianças expressam-se quase exclusivamente em crioulo. Quando chegam às aulas têm de aprender a fazê-lo em português, o que se pode traduzir em dificuldades no ensino e na aprendizagem. “Cabo Verde é um país jovem e isto quer dizer que a língua é tão jovem quanto o país. Não vai desaparecer, mas é preciso que alguém tome conta deste instrumento. Tomar conta de uma língua é desenhar uma política para ela“, afirma a professora.
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Código de leitura

A República Portuguesa torna-se assim em séria candidata a figurar no Guiness World Records 2023 como recordista mundial das naturalizações. Ou da emissão de cartões de cidadão português e, por inerência, de passaportes europeus.

As razões para tão expedita quanto rápida “solução”, como sempre omissas e envoltas na tradicional aura de mistério, aparecem — também como é costume — empasteladas e confusas, através de “informações” contraditórias, com incontáveis “deslizes” ou lapsus linguae à mistura. O que, de novo e como quase sempre tem sucedido, ressalta de um indício apriorístico: o Governo serve-se da agência BrasiLusa, o seu principal órgão de propaganda oficial (existem outros, mas de índole oficiosa, os avençados e/ou financiados através de publicidade, por exemplo), contando para o efeito com a tradicional solicitude, a canina obediência à voz do dono daquele órgão central de intoxicação social.

Se bem que seja necessário dispor de alguma experiência de base na matéria, isto é, na árida tarefa de desmontar (ou apenas filtrar) a mais do que evidente desinformação que as estâncias governativas pretendem veicular, ainda assim um módico de bom senso e outro tanto de simples discernimento devem bastar para tornar claro, claríssimo, aquilo que ontem, dia 18 de Fevereiro de 2023, foi atirado por mero acaso para a arena mediática.

A forma de apresentação das duas “locais” abaixo transcritas mantém o modelo em uso, aqui no Ap53, mas desta vez com um pequeno extra: correlação através de “links” a conteúdos anteriores, incluindo extractos dos “posts” respectivos, com destaques e sublinhados realçando declarações e factos; o extra consiste numa cor… extra: a azul (ou rosa), os “links”, a cor-de-laranja os nomes ou designações de membros do Governo, do Partido do Governo e de instituições ou serviços ligados ao ou na dependência do Governo.

Para início de “conversa” fica a sugestão de uma operação algébrica extremamente simples: em 900X365=Z, qual será o reZultado? 150.000? Ai. Aquilo não dá 332.000? A sério? Ui. E afinal, como é? São 150.000 a legalizar em tempo record, para constar do Guiness, ou afinal são 300.000 (150000+150000), como diz a “notícia” da BrasiLusa? «Os restantes estrangeiros, que serão cerca de 150 mil» (esta formulação está assinalada a vermelho no texto) são os mesmos 150 mil ou afinal são outros 150 mil?

Mas que trapalhada! Ou, melhor dizendo, não arriscando absolutamente nada no aparente paradoxo, mas que evidente é tudo isto!

Imigrantes da CPLP terão “solução equivalente” à dos que fugiram da guerra da Ucrânia

www.dnoticias.pt
Agência Lusa 18 Fev 2023

Os imigrantes de países da CPLP vão beneficiar de um “estatuto de protecção até um ano”, equivalente ao dos cidadãos que entraram no país para fugir à guerra da Ucrânia, anunciou hoje o Ministro da Administração Interna.

José Luís Carneiro, que falava numa iniciativa do PS dedicada às migrações, disse que “a solução foi encontrada e será tornada pública nos próximos dias”, tendo sido desenvolvida em conjunto com a ministra Adjunta, Ana Catarina Mendes, e o secretário de Estado da Modernização Administrativa.

Na sexta-feira, o SEF já tinha anunciado que estava a preparar um novo modelo para regularizar a situação dos milhares de imigrantes que manifestaram interesse, entre 2021 e 2022, em obter uma autorização de residência em Portugal.

“Para os cidadãos de países oriundos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), houve um diálogo (…) tendo em vista encontrar uma solução que seja equivalente à que foi encontrada para protecção internacional aos cidadãos que aqui vieram em resultado da guerra no Leste da Europa”, referiu.

O ministro adiantou que essa solução permitirá que estes cidadãos “possam beneficiar de um estatuto de protecção até um ano que permite acesso directo à segurança social, saúde e número fiscal“.

Significará uma resposta para 150 mil pessoas. Cerca de 50% das manifestações de interesse que temos pendentes no Serviço de Estrangeiros e Fronteira têm origem nos países da CPLP”, salientou.

[Transcrição integral de despacho da Agência BrasiLusa publicado no jornal “Diário de Notícias” da Madeira em 18 Fevereiro 2023.
Introduzi destaques, sublinhados e “links” (com uma espécie de código de cores).]

Será que subsiste ainda alguma espécie de dúvida sobre as reais intenções dos “acordos” em catadupa (CPLB, AO90, Estatuto de Igualdade, Acordo de Mo(r)bilidade) entre um país com 215 milhões e outro com 10 milhões de habitantes ?

A expressão “imigrantes da CPLP” é um truque politicamente pueril; não passa de mero álibi, fingindo os seus propagandistas meter no mesmo saco o potencial contingente de imigrantes provenientes do Brasil (212.560.000 hab) à mistura com, por exemplo, os de S. Tomé e Príncipe (219.000 hab) ou de Cabo Verde (556.000 hab) ou de Timor (1.318.000 hab). Macau, Goa e Guiné-Bissau integram o “clube” dos mais pequenos, em número de nacionais, e quanto a Angola (33M) e a Moçambique (31M) — que não ratificaram o AO90 — as diferenças em relação às dimensões do “gigante” são também… gigantescas. Continue reading “Código de leitura”

Que lhes faça bom proveito

O textículo agora transcrito saiu no “Público” em Maio de 2021, o que para para os actuais padrões de sofreguidão informativa é uma eternidade, mas não apenas vem a propósito dos acontecimentos mais recentes, como também ilustra perfeitamente aquilo que se consolidou já no sistema de ensino em Portugal, ou seja, a chamada “discriminação positiva”: os alunos, em qualquer grau de ensino, do Básico ao Superior — e neste, por motivos óbvios, com particular descaramento –, são altamente privilegiados pelo simples facto de provirem da única ex-colónia portuguesa na América do Sul.

Esta “discriminação positiva”, além de selectiva e, portanto, sendo discriminação na mesma, foi positivamente concedida em exclusivo aos estudantes brasileiros, em função das suas “queixas” sistemáticas e das suas ainda mais sistemáticas “acusações” de preconceito, racismo e xenofobia (1, 2, 3, 4, 5).

“Queixas” e “acusações” essas que não passam de simples vitimização como arma política (1, 2, 3), na minha nada modesta opinião, e digo nada modesta porque foi aqui reiteradamente declarada, escalpelizada e demonstrada com não pequena soma de provas, incluindo fotográficas.

Para ver montagem fotográfica ampliada click AQUI. Imagem original de https://www.pragmatismopolitico.com.br

Curiosamente, não temos notícia de “queixas” semelhantes (nem diferentes) por parte dos milhares de outros estudantes provenientes de qualquer das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia, angolanos, moçambicanos, cabo-verdianos, santomenses, guineenses, timorenses, macaenses, goeses. Nada de mais natural, claro: a Língua de todos os países e territórios de onde provêm é a portuguesa.

A língua brasileira afastou-se irremediavelmente — e deliberadamente e ferozmente, porque politicamente — da sua matriz lusitana, ao contrário do que sucedeu com a Língua Portuguesa nos PALOP.

O Brasil declarou a sua independência política em 1822 e a sua autonomia linguística ao mesmo tempo. Em 1955, rasgando o acordo ortográfico firmado 10 anos antes, o Brasil declarou a autodeterminação da língua brasileira.

Não venham agora tentar impor essa língua aos portugueses. Não se armem em vítimas. Experimentem não mentir alarve e abundantemente. “Falar” não é o mesmo que escrever. O “sotaque” não tem nada a ver com coisíssima nenhuma. Gramática é uma coisa, eliminação da Gramática é outra; só existem “variedades linguísticas” se a Gramática for comum. E isso da “gramática mentau” só pode ser mais um exclusivo brasileiro. Não existe “português europeu”, como não existe “português angolano” ou “português macaense”, por exemplo, e muito menos existe “português africano” (outra invenção neocolonialista brasileira); “português brasileiro”, uma expressão de viés político, não apenas não existe como é paradoxo e oximoro, já que ambos os termos se excluem mutuamente.

A vossa língua não é meia coisa nenhuma. É a língua brasileira.

Os brasileiros “têm meia língua portuguesa”? Quando as palavras são motivo de discriminação

O que o Atlântico separa a língua portuguesa une. Ou não? Matias foi alvo de chacota por causa do sotaque; Jullyana foi avisada para fazer um exame em português europeu e a Thalita disseram que os brasileiros só têm “meia língua portuguesa”. A todos pedem (ou exigem?) que falem “português correcto”. Mas, no Dia Mundial da Língua Portuguesa, perguntamos: o que é o português correcto?

“Por favor, façam o exame em português de Portugal, porque eu não entendo nada do que vocês escrevem”: a ordem foi dada antes de um exame do curso de História da Arte, mas não havia sido a primeira vez que Jullyana Rocha se tinha sentido confrangida por não falar português europeu.

Antes, quando foi mudar a morada a uma repartição de Finanças, teve o mesmo problema. “Fui com todos os documentos e expliquei à senhora que precisava de mudar a morada fiscal. Tentei-me explicar umas quatro vezes e ela simplesmente dizia que não entendia o que eu estava a falar. Ainda nem usávamos máscara, por isso não havia nenhum impedimento”, recorda a brasileira de 25 anos, a viver em Portugal desde 2017.

Não é caso único: os relatos de brasileiros a viver em Portugal que dizem ser discriminados por “não falarem português correcto” multiplicam-se nas redes sociais. Na página de Instagram Brasileiras não Se Calam, por exemplo, em que são partilhados relatos de xenofobia, é recorrente encontrar denúncias de discriminação por causa da língua: em situações do quotidiano, nos locais de trabalho, e, diversas vezes, nas faculdades.

Foi lá que Jullyana e os colegas brasileiros foram avisados para realizar o exame em português europeu, e foi esse momento, aliado a muitos outros de discriminação, que a fizeram sair do curso e optar por estudar Marketing remotamente, numa universidade brasileira: “Não quis voltar para o sistema de ensino de aqui.”

Também Matias Guimarães foi alvo de chacota quando chegou atrasado a uma aula. “Quando entrei na sala, o professor começou a fazer uma série de críticas e piadas sobre o meu sotaque, sobre eu ser burro pelo meu sotaque, por não falar direito”, relata. Pelo que tem ouvido, refere, “há pelo menos um professor em todas as faculdades que reclama que os brasileiros não falam da maneira mais correcta”. Mas o que é, afinal, o português correcto?

“A língua pode ter diversas cores”

“Desde que somos crianças, a escola diz-nos que certas formas são correctas e outras são incorrectas”, começa por enquadrar Ronan Pereira, doutorando em Linguística pela Universidade Nova de Lisboa. Há, no entanto, uma premissa que é importante não esquecer: “As línguas não são elementos estáticos. Elas variam territorialmente, ao longo do tempo, de acordo com as classes sociais, etárias… Mas, por algum motivo, temos na nossa cabeça que a língua é uma coisa só.”

Ora, quando uma criança vai para a escola, não é possível abordar todas as formas que uma língua pode ter. O ensino foca-se, então, no ensino da gramática normativa, aquela que nos diz as regras a seguir para escrever e falar correctamente. É essa gramática que estabelece o padrão, e é importante que seja ensinada, “porque, se todos começássemos a escrever como nos apetece, a coisa ficava confusa”, refere o linguista.

Quando falamos de português europeu e português brasileiro, estamos a falar de “duas variedades linguísticas” — o que mostra que “a língua é uma definição algo abstracta e, neste caso, vemos como a língua portuguesa pode ter diversas cores”. E nem é preciso atravessar um oceano para encontrar estas variedades: dentro do território continental encontramos muitas formas de falar português. A diferença é que “uma pessoa de Évora vai ter muito mais em comum na sua gramática mental com alguém de Coimbra do que com alguém de São Paulo”.

Os “entraves” linguísticos começaram a sentir-se no dia-a-dia de Mônica Santos logo desde que veio para Portugal, há três anos. “Uma atitude quotidiana como ir a uma padaria era muito difícil, porque o meu simples pedido de um pão era pouco percebido pelas pessoas, porque não queriam”, conta. “Existia uma certa necessidade de demonstrar que não estava a falar da melhor forma, era satirizada”, continua.

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Um país, um sistema

Como é possível que ninguém se aperceba da relação de causa e efeito ou sequer suspeite das manobras políticas e das movimentações económicas em curso, à conta e sob a cobertura da “língua universáu”? Nem um comentador profissional, e há tanto disso nos canais televisivos “de informação”, na imprensa escrita, nas plataformas virtuais, nas redes anti-sociais, a nenhum deles ocorre a mais ínfima suspeita sobre os verdadeiros negócios da China que se vão traficando? Nem um só jornalista, de entre as centenas de “especialistas” em Tudo&MaisAlgumaCoisa que autopsiam até ao osso e à náusea a mais insignificante “notícia” ou “tragédia” ou “problemática”, a nenhum deles assiste a cena de perder o medo e ao menos fazer umas perguntinhas inocentes?

Muito raramente, decerto por ingenuidade (será?), a alguém surgido da mais completa obscuridade lembra pespegar algures dados e resultados que ilustram perfeitamente — e denunciam espectacularmente — o que é de facto o AO90, para que serve a CPLP e, em suma, quanto vale a tal “língua universáu”.

Um desses lapsus calami foi publicado no passado dia 3, com a cacografia brasileira, no insuspeito diário “Público”.

E indica resultados globais e tudo! Ena, mas que luxo. Ora então vejamos, assim por alto.

  • As trocas comerciais entre “os PLP” e a China atingiram o montante final de US$167,565 (cento e sessenta e sete mil milhões de dólares americanos).
  • As trocas comerciais entre o Brasil e a China montaram no mesmo período a US$138,005 (cento e trinta e oito mil milhões de dólares americanos).
  • Portanto, as trocas comerciais do Brasil representaram 82,4% do total das trocas comerciais entre “os PLP” e a China.
  • Esses 82,4% representam, grosso modo, a (des)proporção entre o Brasil e os restantes países da CPLB, tanto a nível de população (210 milhões para 45 milhões) como de extensão territorial.

http://pgl.gal/xxii-coloquio-da-lusofonia-decorrera-em-setembro-em-seia/Aparentemente, por conseguinte, não terá sido à conta da instauração pacífica do II Império que o Brasil ganhou balúrdios com os chineses à custa dos seus amigalhaços tugas. “Aparentemente”. Como era antes? Quando, porquê e em que circunstâncias terá o “gigante” saltado a Grande Muralha?

Convém espiolhar os outros resultados do artigo e ainda mais consultar relatórios, procurar notícias, cruzar dados, relacionar datas com marcas de timing político.

«Os PLP» é uma espécie de sigla de uso pessoal do autor do artigo agora reproduzido. Refere-se ele, evidentemente, à CPLP, o que significa, na prática, o Brasil, ou seja, a CPLB. Assim como a ingenuidade dos crentes na “lusofonia“, ainda que vagamente divertida, permite enquadrar a questão sem tergiversações, também a credulidade (ou será já a arrogância?) de alguns entusiastas na “causa” brasileirófila facilita enormemente a compreensão daquilo que está em causa e em que consiste, ao certo, o processo de extermínio linguístico iniciado em 1986.

E daí concluir o óbvio. Não é astronomia, física quântica ou engenharia aero-espacial.

A China e os países de língua portuguesa

 

 

 

A China tem-se revelado um parceiro comercial da maior importância para os oito Países de Língua Portuguesa (PLP). Todos têm uma característica comum com a China, o facto de terem o oceano a uni-los e, nos últimos anos, todos têm vindo a celebrar acordos económicos significativos com este país. Os PLP decidiram explorar esses acordos a seu favor, através das respectivas participações na iniciativa chinesa – Uma Faixa e uma Rota (a Nova Rota Marítima da Seda).

Os PLP usufruem de vantagens concorrenciais, beneficiando de um melhor acesso a financiamento, crédito e facilidades económicas da China, pelo facto de terem estreitas relações com a cidade chinesa de Macau (de origem portuguesa). Desde o regresso de Macau à administração chinesa (criação da Região Administrativa Especial de Macau – RAEM em Dezembro de 1999) que o governo central da China tem vindo a promover o desenvolvimento de Macau, nomeadamente, com a criação, em 2003, do Fórum para a Cooperação Económica e o Comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mais conhecido por Fórum Macau.

A importância do Fórum Macau foi expressamente destacada pelo presidente chinês XiJinping e pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, nas duas reuniões que se realizaram com o Governo da RAEM, em Pequim, no passado dia 21 de Dezembro. Para além da integração de Macau no projecto da Grande Baía de Cantão (iniciativa que agrega 11 cidades, onde se incluem Macau e Hong Kong), o Governo central reforçou o apoio a Macau com o projecto da “Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau”, em Hengqin (Ilha da Montanha), iniciativa que pretende promover a diversificação e sustentabilidade das actividades económicas de Macau, nomeadamente para “contribuir para o novo avanço da integração de Macau no desenvolvimento” da China. Tendo XiJinping referido que “A pátria é sempre o forte apoio para a manutenção da estabilidade e da prosperidade de Macau a longo prazo. Deste modo, o Governo central vai continuar a cumprir firme e escrupulosamente o princípio de ‘um país, dois sistemas’ e apoiar plenamente a diversificação adequada da economia” de Macau.

As trocas comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa foram de US$167,565 mil milhões, entre Janeiro e Outubro de 2021, um aumento homólogo de 40,92%. As importações Chinesas dos Países de Língua Portuguesa foram de US$115,431 mil milhões, um aumento homólogo de 35,12%, sendo as exportações da China para os Países de Língua Portuguesa de US$52,134 mil milhões, correspondendo a 55,69% de aumento homólogo. Podemos constatar que a balança comercial é, globalmente, muito favorável aos PLP, com um superavit de 63,297 mil milhões.

Os valores das trocas comerciais da China com os PLP colocam o Brasil em primeiro lugar, seguido de Angola, Portugal, Moçambique e com valores bem inferiores os restantes países: Timor-Leste, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Desde 2009 que o Brasil tem feito da China o seu principal parceiro comercial, quer ao nível das exportações, quer das importações, substituindo cerca de um século de primazia dos EUA. A imensidão continental do Brasil justifica que ocupe, isolado, o primeiro lugar nas trocas comerciais dos PLP com a China. Só as trocas do Brasil, entre Janeiro e Outubro de 2021, totalizam US$138,005 mil milhões, sendo a balança comercial favorável ao Brasil em US$51,774 mil milhões. Algumas previsões internacionais, nomeadamente do FMI, assinalam as potencialidades económicas do Brasil que, ao recuperar da grave crise pandémica, poderá ascender da actual situação de 12.ª maior economia do mundo, em termos de PIB, em 2020, para a 7.ª e mesmo, a médio prazo, para a 4.ª economia do mundo. Não é assim de estranhar que o Brasil tenha sido escolhido para integrar a plataforma de relacionamento internacional com a China – os BRICS, que partilha com a Índia, a Rússia e a África do Sul.
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Aniversário fúnebre

Terminou aquela insuportável cerimónia fúnebre e, do cadáver adiado, em câmara ardente durante dois dias, sobraram pela 13.ª vez apenas os despojos do costume: discursos ocos de alguns convivas, os lugares-comuns rituais, com especial destaque para as baboseiras proferidas pelo primeiro-ministro António Costa e pelo Presidente Marcelo, e, para findar com um remate sinistro o geral vazio de ideias e a total ausência de princípios, foi oficializada a entrega das riquezas naturais de Angola aos interesses económicos do Brasil; o mesmo que sucederá, já de seguida, a Moçambique e a qualquer das outras ex-colónias portuguesas onde, por mero acidente da fortuna, para tremendo azar dos locais, porventura sejam descobertos filões de ouro, diamantes, petróleo, gás, pedras preciosas ou até madeiras exóticas, terras para cultura intensiva, mão-de-obra barata…

Na verdade, esta era de ultra-capitalismo — feroz, selvagem, virulento — ficará para a História do Esquecimento como sendo aquela em que a espécie humana ultrapassou, talvez irreversivelmente, a barreira da sua própria condição: o ser-humano deixará para a posteridade uma mole de gente indistinta, massas inertes infinitamente replicadas, peças de uma gigantesca máquina que sabe o preço de tudo e não conhece o valor de nada.

No artigo que se segue um cronista — português, logo, minimamente alfabetizado — irrita-se muito justamente com a aniversariante organização brasileira (paga, com magnanimidade, pelos impostos dos portugueses) e atira-se às canelas, em sentido figurado, note-se, do também ele optimista irritante Costa e do ainda mais irritante Marcelo, o Presidente-Rei que ficará para os anais com o cognome de O Baril.

Além de algumas preciosas (e tenebrosas) revelações, o autor utiliza (e bem) a Guiné Equatorial do ditador sanguinário Obiang como sendo um (ou o) problema fulcral da Comunidade dos Países de Língua Oficial brasileira. Pois sim, vale pela intenção, mas não, esse é o menor dos problemas da brasilofonia e da CPLB. Problemas reais são a neo-colonização às avessas e a extinção da Língua-matriz substituindo-a pela cacografia e o léxico e a prosódia e a sintaxe transitoriamente em uso no Distrito Federal de Brasília.

A CPLP irritante

João Gonçalves*

 

Se realizarmos uma sondagem fora do “meio” sobre o significado do acrónimo CPLP, poucos saberão – e não perdem nada com isso – tratar-se da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa“.

 

Esta CPLP reúne em “cimeiras”. Desta vez, coube a Luanda receber mais uma. Lá foram Marcelo e Costa, este devidamente parabenizado num jantar oferecido pelo general Lourenço. Consta que Marcelo “puxou” pelo “parabéns a você nesta data querida” e ambos, Costa e Marcelo, desmentiram existir qualquer “irritante” entre eles. Fizeram juras de acrisolado “amor” institucional que culminaram com Costa, no seu tradicional registo de brutalidade política, a insinuar que a Guiné Equatorial entrara na CPLP, em 2014, pela mão de Passos e de Cavaco. Vamos por partes. Logo à cabeça, a língua. Acerca da qual ninguém, na prosélita CPLP, se entende por causa do “acordo ortográfico” de 1990. No país do sr. Obiang, então, a questão nem se coloca. A Guiné Equatorial ignora por junto a democracia e a língua. Todavia, nada disso impediu que os ex-presidentes de Angola e do Brasil, respectivamente Eduardo dos Santos e Dilma Rousseff, tivessem forçado a mão dos outros a aceitar a presença de Obiang na CPLP. Sem a menor capacidade geoestratégica na Europa, ou seja onde for, a CPLP caiu definitivamente na irrelevância e na inutilidade que a caracteriza desde a sua brilhante “ideia” fundadora. Quanto a interesses e negócios – as determinantes não “irritantes” da exigência angolano-brasileira de incluir a Guiné Equatorial na CPLP e que os outros inalaram e engoliram com receio que se desfizesse tão ilustre agremiação -, Costa nada disse e desfez-se em retórica democrática. Por outro lado, se, em 2018, o Estado concedeu 1,5 milhões em isenções fiscais à filha de Obiang através da Zona Franca da Madeira, por que é que não se exigiu simultaneamente democracia e respeito pelos direitos humanos no “seio” da CPLP? Só agora é que se lembrou? Enfim, desta irritante CPLP, a única coisa que me interessaria seria a defesa da língua, matéria em que falha clamorosamente. E logo a matéria não petrolífera ou bancária, e um dos melhores meios de influência de Portugal, como Vasco Pulido Valente escreveu há sete anos. A CPLP será o que sempre foi. Um pretexto frívolo e inconsequente para o país lavar alguma má consciência “colonialista” que possa ter sobrado dos idos de 70 do século passado. O que representa nada, porque os “parceiros” se estão nas tintas para isso.

João Gonçalves

*Jurista

 

[Transcrição integral (incluindo destaques a preto) de artigo da autoria de João Gonçalves publicado no

O textículo seguinte reflecte, com as naturais limitações do analfabeto escrevente, aproveitando a fantochada da 13.ª cimeira, a posição oficial dos lobbies empresariais que suportam (e financiam, presumo) a política expansionista e neo-colonialista do Brasil.

Refere o deputado brasileiro o português Agostinho da Silva (vídeo em baixo) como sendo uma espécie de arauto, apoiante entusiasta da brasileirização da ex-potência colonizadora e das ex-colónias portuguesas em África. Este “exemplo” é citado como paradigma do conceito de “lusofonia” (o disfarce de “língua brasileira no mundo”), quando — que eu saiba, as minhas desculpas caso esteja equivocado — aquele professor tuga limitou-se a dar aulas no Brasil. Imagino a surpresa dos brasileiros, de facto, ao esbarrar num professor universitário da “terrinha”; isso não encaixa de forma alguma no arquétipo do portuguesinho no Brasil, esse “gigante” dos “coroné” e do preconceito chauvinista, “Seu Manuéu” padeiro, de bigode e cuspindo no chão, mais sua consorte D. Maria, anafada e brutal, igualmente de bigode e também padeira.

Os 25 anos da CPLP

“Pravda”, 19.97.21
José Fernando Aparecido de Oliveira

 

A CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – nasceu do objetivo de criar um diálogo tri-continental permanente entre os oito países de língua portuguesa espalhados pelo mundo, situados na África, Europa e América. Esse processo ganhou impulso decisivo na década de 1990, com o empenho do então embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira. José Aparecido dava vida ao antigo sonho visionário do português originário Agostinho da Silva.

 

O primeiro passo para sua consolidação foi dado em São Luís do Maranhão, em novembro de 1989, durante a realização do Primeiro Encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. O Encontro foi promovido pelo presidente José Sarney, com a mobilização de seu ministro da Cultura, o mineiro José Aparecido de Oliveira. Ali nasceu o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que se ocupa da promoção e difusão do idioma, e tem sua sede em Cabo Verde.

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