«Não te empenhes em adquirir riquezas, nem gastes a tua inteligência com isso, pois basta olhares e já não existem; baterão as asas como a águia e voarão pelo céu.»
(BÍBLIA, Provérbios, 23 – 7)
Há várias maneiras de ver a comunidade brasileira em Portugal e uma delas é o número: 300 mil. Impressiona certamente, até por ser um recorde para Portugal, país por tradição mais habituado a ser de emigrantes do que de imigrantes. Mas a propósito desta visita do presidente Lula da Silva e do reatar das cimeiras luso-brasileiras, dei por mim a pensar em nomes e mais nomes de gente que nasceu no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Curitiba, em Salvador, no Recife ou até em Belém, com quem me fui cruzando nestes últimos anos, com maior ou menor intimidade, e que tanto contribuem para hoje um Portugal mais diverso sim, mas sobretudo mais rico. Vou citar alguns, só para dar exemplos: Álvaro Filho, jornalista que já publicou no DN e senhor de grande cultura e de uma escrita criativa: Ricardo Bernardes, maestro que organiza concertos em que não esquece compositores que de alguma forma uniram os dois lados do Atlântico; Paulo Dalla Nora Macedo, que fez do seu Cícero Bistrot tanto um restaurante de nível em Lisboa como uma galeria de arte e ainda organiza tertúlias que falam do Brasil e de Portugal; Luciano Montenegro Menezes, CEO do WTC Lisboa; Paula Cajaty, que fez de Portugal a casa da sua editora Gato Bravo; e evito de propósito falar de tantos diplomatas que conheci, com quem fui aprendendo sobre esse gigante com mais de 200 milhões de habitantes e quase cem vezes maior do que o antigo colonizador. Alguns até me ajudaram quando preparava uma tese de doutoramento sobre o reconhecimento da independência do Brasil; bem, farei uma excepção nisto dos diplomatas. Não vou referir nomes de anteriores embaixadores, até por respeito com o actual embaixador, Raimundo Carreiro Silva, que hoje publica no DN um artigo sobre as relações entre os dois países, mas sim o de um ex-conselheiro cultural, Carlos Kessel, um apaixonado por Eça de Queiroz, tão conhecedor da obra do escritor do século XIX como dos que a estudam, que foi quem, a partir de Barbados, onde agora é ministro-conselheiro, me alertou da morte de Alfredo Campos Matos no início do ano. Campos Matos era o autor de Dicionário de Eça de Queiroz e certamente dos que mais sabia[m] do romancista e diplomata que na juventude foi repórter deste jornal.
Brazil, Rio de Janeiro, Rua Luís de Camões, Real Gabinete Portuguez de Leitura.
Durante séculos, Portugal foi dando gente ao Brasil. Mais ainda depois da independência. E hoje lá viverá um milhão. Uma das maravilhas do Rio de Janeiro é o Real Gabinete de Leitura, construído pela comunidade portuguesa, clubes como o Vasco da Gama e a Portuguesa foram fundados por emigrantes e Carmen Miranda saiu de cá com dez meses. Hoje é o Brasil que dá gente a Portugal. Daí o português doce da senhora da pastelaria ou do barbeiro. Quem como eu ficou deslumbrado na infância por telenovelas como Roque Santeiro e pelos programas de Jô Soares aprecia a pronúncia de além-mar, tão linda na música popular brasileira.
É importante construir uma boa relação entre Portugal e o Brasil. E equilibrada. Temos de ter noção de que o Brasil é muito mais central para nós do que Portugal para os brasileiros. Mas não deixa de ser um país das oportunidades, um irmão de língua, um parceiro com quem devemos ambicionar sempre mais, até no desenvolvimento das parcerias económicas, pois é um colosso agro-industrial e também tecnológico. Quanto à comunidade brasileira, que se integre, pois só pode ser bem-vinda num país que, voltou esta semana a sublinhar a ONU, há muito que não tem os dois filhos por mulher que permitem substituir as gerações.
Por culpa das disputas políticas portuguesas, e depois também do próprio pelas declarações sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, esta visita de Lula tem estado envolvida em polémica. Tal não irá desaparecer de um momento para o outro, mas é importante que não se perca de vista o essencial: é muito importante para Portugal uma muito boa relação com o Brasil.
(…) o objectivo é promover os interesses geoestratégicos do Brasil, aproveitando as raspas dos negócios (estrangeiros), se possível, isto é, correndo atrás das migalhas que porventura possam sobejar dos milhões traficados entre o “país-continente” e, por exemplo, o petróleo venezuelano, a carne argentina, as minas chilenas e até, se calhar, nunca se sabe do que são capazes os meliantes da “língua universáu”, produtos da Colômbia. Uma versão revista e aumentada da CPLP, por conseguinte, sustentadas ambas as teatralizações pela patranha fundamental, aquilo a que chamam “difusão da língua“; da língua brasileira, bem entendido, porque, dizem os mesmos, “eles são 220 milhões e nós somos só 10 milhões“. O Estado português, que paga a CPLP e as demais despesas das negociatas, incluindo os “pacotes” de “turismo linguístico” (…)[post“Uma questão de milhões”, 12.03.21]
“Temos de aumentar o nosso investimento no Brasil”, apela António Costa
António Costa quer que as empresas portuguesas invistam mais no Brasil. O primeiro-ministro exortou os empresários nacionais a apostarem mais neste mercado tendo em conta o potencial que existe. O Presidente do Brasil reforçou que Portugal é a porta de entrada para a Europa e que a língua facilita os contactos empresariais.
“Somos o 18.º investidor no Brasil. Francamente, 18.º não é a nossa posição. Temos de aumentar o nosso investimento no Brasil“, sinalizou António Costa durante a abertura do Fórum Empresarial Portugal Brasil, que decorre em Matosinhos nesta segunda-feira. Perante mais de 120 empresários no auditório do CEiiA, o primeiro-ministro português também convidou os empresários brasileiros a investirem em Portugal.
A aposta nas energias renováveis, o ecossistema “muito dinâmico” de empreendedorismo e o regime “bom para acolher investimento em inovação”, através das zonas livres tecnológicas foram três dos elementos identificados para o Brasil apostar mais em Portugal. O líder do Governo português sinalizou ainda a parceria do CEiiA com a Embraer e a Força Aérea Portuguesa para o desenvolvimento do avião militar KC-390 e também do “Super Tucano”.
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Lula quer empresários portugueses e brasileiros a partilharem empresas
Lula da Silva voltou a assinalar que o Brasil “está de volta” e que está a recuperar o investimento perdido durante os tempos de Jair Bolsonaro e de Michel Temer. Só em infra-estruturas, serão 23 mil milhões de reais de investimento em 2023. No entanto, para captar os empresários, é preciso mais. “Sem estabilidade política, social e jurídica, ninguém vai colocar um centavo no país”, sinalizou.
O chefe de Estado brasileiro também referiu que é necessário tratar da “credibilidade” e uma “relação directa com o país”. Afastadas estão novas privatizações. “Queremos convidar é os empresários a fazerem parcerias.” Lula da Silva referiu ainda que “o Brasil está preparado para voltar a ser um país grande”.
25 de Abril de 2023
A dois dias do fórum económico que vai decorrer no Porto, o chefe de Estado brasileiro anunciou que a agência de promoção de investimentos, a Apex, vai abrir um escritório em Lisboa. O objectivo é “mostrar a seriedade e o carinho da nossa relação”, assegurou Lula da Silva. A Apex é o equivalente no Brasil à agência portuguesa AICEP.
Lula da Silva reforçou a mensagem da recuperação com o Brasil com o facto de ter “14 mil obras paralisadas” na área das infra-estruturas e de “4.000 obras paralisadas” só na área da educação. O Presidente do Brasil notou ainda: “Portugal, para nós, não é um país estrangeiro. É uma extensão da nossa casa. É assim que precisamos de nos relacionar”.
«Soares e Lula da Silva apresentam livro de Sócrates sobre tortura em democracia» [“Jornal de Negócios”, 14.10.2013]Do lado português, António Costa garantiu que as cimeiras luso-brasileiras “voltarão a ser anuais” e sinalizou os 13 acordos assinados neste sábado. O documento prevê, por exemplo, as equivalências no ensino básico e secundário, o reconhecimento mútuo das cartas de condução entre os dois países e o alargamento da parceria com a Embraer na reparação de material militar brasileiro na aviação.Também foi assinado um memorando no domínio da energia com o objectivo de promover “o desenvolvimento e a implementação da cooperação institucional, técnica e científica, bem como a partilha de conhecimento, e incentivar a realização conjunta de programas, projectos e actividades. Estão previstos “programas e iniciativas de eficiência energética, na integração de electricidade de base renovável na rede, no armazenamento de energia e de combustíveis renováveis, como o hidrogénio e o bio-metano.Na área da geologia e minas, o executivo nacional e o brasileiro dizem querer “promover o desenvolvimento e a implementação da cooperação institucional, técnica e científica, bem como a partilha de conhecimento, e incentivar a realização conjunta de programas, projectos e actividades”. Este compromisso prevê “a constituição de parcerias, partilha de conhecimentos na pesquisa geológica e na exploração mineral e a contribuição para a transição energética sustentável na óptica da verticalização do sector”.
Fica assim, portanto, escarrapachada (…) a verdade nua e crua sobre as reais finalidades políticas e empresariais do #AO90. Já ninguém voltará a dizer “não percebi, faz-me um desenho”. Aí está, enunciada com toda a clareza, a estratégia urdida ao longo das últimas três décadas: a “língua universau” brasileira, funcionando como pretexto “ideológico” para dar cobertura política à CPLB, resulta naquilo que o agora citado pau-mandado formula como sendo «a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.» Tal cidadania (da língua brasileira, repita-se) acarretará as mais óbvias implicações, tanto as já aqui profusa e repetidamente documentadas como aquelas que, embora previsíveis, como foi agora exarado, pelo que podem os adeptos da brasileirofonia ficar descansados, «o ‘premiê’ português sabe disso e vai lutar em Bruxelas por um regime especial de cidadania para os cidadãos dos países de língua» brasileira. [post «Portugal, um Estado brasileiro na Europa», 01.09.22]
Previamente, asseguram o tamponamento de qualquer opinião que possa pôr em causa os seus objectivos. Ou seja, primeiro amordaçam. Com a técnica do costume, é claro: um rótulo infamante (por exemplo, “xenofobia“) serve na perfeição como rolha.
Surgindo a oportunidade, ainda que seja por “mera coincidência“, então aproveitam a boleia do “acaso” e livram-se da batata quente o mais depressa possível. Alguma outra distracção há-de aparecer logo a seguir e assim os consumidores de causas e indignados profissionais ficarão entretidos com um novo brinquedo.
A imigração em massa de brasileiros para Portugal é um fenómeno recente, é certo, mas cujas raízes remontam a 1986 e cujo plano em progressão geométrica já aqui foi exposto por várias vezes e de diversas formas. O quadro que se segue condensa a sequência de acontecimentos que determinaram as consequências, ou seja, o que agora se vê.
Diz a imprensa que “mais de 93 mil da CPLB” (com o truque da troca do B pelo P) obtiveram autorização de residência em Portugal — ou seja, livre-trânsito para a Europa — em apenas um mês. O que resulta numa média de 3.100 por dia. Chamam-lhes “imigrantes lusófonos”, porque para puxar o lustro à jogada a adjectivação aportuguesada (portuguesa, lusitana, lusofónica) dá imenso jeito; e dizem que, desses 93 mil, «a maioria são brasileiros».
E que maioria! Entre 51%? e 99%, a quanto monta, ao certo, essa maioria?
Bem, se nos fiarmos nos números oficiais, «os nacionais do Brasil representam, até ao momento, 86,5% dos pedidos de autorização de residência CPLP, seguidos dos cidadãos de Angola, com 3,8%, e de São Tomé e Príncipe, com 3%.»
Mais de 93 mil da CPLP com autorizações de residência em Portugal num mês
Mais de 93 mil imigrantes lusófonos, a maioria brasileiros, obtiveram autorizações de residência em Portugal no primeiro mês de funcionamento do novo portal disponibilizado pelo SEF para atribuição automática deste documento, segundo um balanço feito hoje.
A plataforma para obtenção de autorização de residência em Portugal para os cidadãos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) entrou em funcionamento em 13 de Março e destina-se aos imigrantes lusófonos com processos pendentes no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) até 31 de Dezembro de 2022 e para quem tem um visto CPLP emitido pelos consulados portugueses após 31 de Outubro de 2022.
Num comunicado de balanço, o SEF indica que, desde 13 de Março, recebeu 114.131 pedidos para atribuição de certificados de autorização de residência por parte de cidadãos da CPLP.
Dos 114.131 pedidos feitos no ‘portal CPLP’, acessíveis nos sítios http://www.SEF.pt e http://www.ePortugal.gov.pt, o SEF emitiu mais de 103.572 documentos com referência para pagamento, dos quais 97.631 foram liquidados e resultaram na concessão de 93.209 autorizações de residência, de acordo com aquele serviço de segurança.
O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras indica que os nacionais do Brasil representam, até ao momento, 86,5% dos pedidos de autorização de residência CPLP, seguidos dos cidadãos de Angola, com 3,8%, e de São Tomé e Príncipe, com 3%.
O SEF sublinha que, no âmbito deste processo, são consultadas as bases de dados, sendo o certificado de autorização de residência CPLP emitido se o requerente não estiver identificado como sendo objecto de indicação para efeitos de regresso ou de recusa de entrada e de permanência.
Aquele serviço de segurança refere que foram detectados 6.043 alertas, que obrigaram a uma consulta mais detalhada para aferir, ou não, a atribuição de uma autorização de residência CPLP.
O SEF frisa ainda que este novo modelo, exclusivamente digital, se dirige aos cidadãos da CPLP com manifestações de interesse entregues até 31 de Dezembro de 2022 e aos que sejam portadores dos novos vistos consulares CPLP emitidos após 31 de Outubro de 2022, dando acesso à educação, saúde, segurança social, actividade profissional, formação profissional e justiça, representando assim uma oportunidade para estes cidadãos regularizarem a sua situação.
Segundo o SEF, estas concessões de autorização de residência são automáticas e “exclusivamente ‘online’, sem necessidade de outro tipo de interacção com o serviço ou deslocação física a um posto de atendimento”.
No entanto, no caso de menores envolvidos no processo de legalização, é necessária a deslocação “em momento posterior a um posto de atendimento do SEF”.
A autorização de residência para os imigrantes da CPLP tem um custo de 15 euros e a disponibilização deste documento em modelo electrónico demora geralmente 72 horas.
Além de Portugal, integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
A autorização de residência ao abrigo do acordo de mobilidade da CPLP é inicialmente válida por um ano, renovável por dois períodos sucessivos de dois anos.
Dados do SEF dão conta de que a população estrangeira que reside legalmente em Portugal aumentou em 2022 pelo sétimo ano consecutivo, totalizando 757.252, e a comunidade brasileira foi aquela que mais cresceu, além de ser a mais numerosa.
No final do ano passado, residiam em Portugal 233.138 brasileiros.
[Transcrição integral. Cacografia brasileira corrigida automaticamente.
Destaques a “bold” e “links” (a verde) meus.]
Isto tinha tudo para descambar em desastre e, se de facto ainda não há notícia de mortos e feridos a lamentar, o futuro não se apresenta decerto nada risonho para angolanos, moçambicanos, guineenses e demais cidadãos das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia. Naturalmente, vão atrás da designação da suposta organização supra-nacional sobre a qual, teoricamente, o “acordo de mobilidade” incindiria transversalmente, mas isso não é mais do que pura retórica para enganar “distraídos”. Ao fim e ao cabo, os cidadãos dos PALOP não passam — para os políticos envolvidos em tão sinistro plano — de meros efeitos colaterais, de um custo acrescido, se bem que insignificante, face à esmagadora maioria (nunca menos e muito provavelmente mais de 90%) dos recém-chegados. A suposta “comunidade de países” diz respeito apenas aos 27 estados sul-americanos e ao único estado europeu que “adotaram” o brasileiro como língua nációnáu.
Na dita “comunidade” brasileira um país serve como capacho de entrada na Europa e de trampolim para África. A dita “mobilidade” só existe num sentido. A dita “reciprocidade” vale apenas no papel.
Todos os custos para um e todos os benefícios para o outro, eis aquilo em que consistem os sucessivos “acordos” entre Portugal e o Brasil.
Chegou a vez de africanos pagarem também os seus “direitos” de vassalagem aos novos bwana.
“Portugal está a dizer às redes de imigração ilegal: temos aqui um negócio espectacular”
A pouco mais de uma semana de ser aprovada em Conselho de Ministros a nova Agência para as Migrações, o processo de extinção do SEF, anunciado há já dois anos pelo governo, segue para o capitulo final. Isto num momento em que estão a entrar em Portugal um dos maiores números de sempre de imigrantes. Que riscos há a ter em conta?
Está prevista para o Conselho de Ministros do próximos dia seis de Abril a aprovação do diploma que cria a nova Agência Portuguesa para as Migrações e Asilo (APMA), que vai substituir o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) nas funções administrativas de processamento de vistos de residência para estrangeiros e asilo para refugiados, confirmou a deputada socialista Susana Amador, uma das convidadas do podcast Soberania, uma parceria DN/Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT). Continue reading “Três mil e cem por dia”
Constituir acervo sobre o #AO90, todo o seu historial, incidências, consequências e, em suma, as mentiras descabeladas de que se sustenta, coloca a quem o faz vários factores que podem — ou poderão ou poderiam, depende de cada qual — condicionar (ou não, de todo) as matérias seleccionadas para o efeito, sobretudo quando são prévia ou simultaneamente comentadas. A adjectivação implícita pode mesmo revelar-se algo arriscada, literal e figurativamente, apesar de todas as chamadas “garantias” dos mais elementares direitos titulados na Constituição da República.
A (triste) realidade, com a qual deparamos inevitavelmente se nos abstrairmos da retórica política, é que as “garantias” de “liberdade de opinião e informação” não garantem per se coisa alguma — do que resulta, na prática, a absoluta nulidade daquilo que se convencionou designar como “liberdade de pensamento”. Neste pressuposto, todo o capítulo da “lei fundamental” portuguesa, em que teoricamente são consagrados direitos, liberdades e garantias, vale o que vale: por alguma estranha razão, seria talvez mais prudente não quantificar esse valor em vez de lhe atribuir um rotundo zero.
Vêm estes considerandos a propósito dos reflexos (condicionados) — uma variante de icterícia mental — que já vão provocando na chamada “situação” (acordista, brasileirista, comodista, capitalista ou simplemente conformista) os alertas para o processo de demolição cultural em curso. São simplesmente palavras, na verdade, mas nada existe de mais perigoso para os ditos situacionistas do que traduzirem essas palavras a realidade, relatarem factos, demonstrarem a evidência das (suas deles) golpadas.
Daí, portanto, utilizarem esses tais a arma mais corriqueira do seu gigantesco arsenal de estupidez: a rotulagem. Característica intrínseca e definidora do vazio de ideias, a rotulagem é uma espécie de reflexo pavloviano que visa exclusivamente silenciar qualquer dissidência, ou, por extensão, seja quem for que se atreva a pôr em causa o “pensamento” tido por único ou vigente.
Rotular algo como “xenofobia” ou alguém como “racista”, nas diversas gradações dos termos e incluindo variantes mais ou menos delirantes (“preconceituoso” ou “reaccionário”, por exemplo), suscita conotações que denotam sobretudo desespero de causa. Ou seja, quem atira insultos assim que uma das suas vacas sagradas é picada fá-lo simplesmente porque não é capaz de articular sequer uma frase inteligível ou elaborar um raciocínio elementar.
Não é nada difícil por conseguinte, adivinhar as “reações” [ʁi.ɐ.ˈsõjʃ] à seguinte conjugação de factores, em termos comparativos.
1 – Entre 1974 e 1978, Portugal (então “continental”) terá acolhido cerca de 700 mil “retornados”, tendo esse facto provocado um naturalíssimo abalo nas estruturas e em todo o complexo tecido social da época, com o impacto do súbito e inusitado aumento populacional daí decorrente e com as inerentes implicações a todos os níveis, habitacional, laboral, empresarial e até cultural.
‘Retornados’ poderão ter sido mais de meio milhão
A estatística oficial diz que Portugal recebeu meio milhão de ‘retornados’ de África, mas o tenente-general na reforma Gonçalves Ribeiro, que coordenou as operações de acolhimento dos desalojados, reconhece que talvez seja “um número subdimensionado”.
(…)
Simultaneamente, a certa altura a lei restringiu os apoios a quem tinha antepassados portugueses, o que excluiu boa parte da população negra. (…) Em entrevista à Lusa, Gonçalves Ribeiro assinalou como o acolhimento das pessoas que deixaram África e vieram para Portugal “surpreendeu, de uma maneira geral, o mundo inteiro, a começar por países europeus, nomeadamente aqueles que também tinham colónias”. Impressionados, perguntavam-lhe: “Como é que um país pequeno como o nosso, em turbulência política, económica e social, pôde, num espaço de tempo relativamente curto, assimilar cerca de seis por cento da população portuguesa?”.
(…)
Olhando para a barra do Tejo, Gonçalves Ribeiro lembra o dia em chegou a Lisboa, no navio “Niassa”, embarcado em Luanda um dia antes da independência de Angola, juntamente com “o derradeiro remanescente da soberania de Portugal” naquela ex-província ultramarina. Mesmo perante a ameaça de “uma série de grupos” envolvidos no PREC, mais preocupados com “o umbigo” do que com o que se passava no Ultramar, a tripulação insistiu em atracar no cais de Alcântara, em Lisboa, onde tinha à espera “pequenas hordas ululantes” que consideravam aqueles últimos militares ao serviço do “império” português “reaccionários, conservadores e fascistas”.
(…)
Compreendendo as reivindicações que os espoliados, nunca indemnizados pelo Estado, mantêm até hoje, considera que “é insustentável esse tipo de expectativa”.
2 – Ora então, se 700 mil “retornados” — com a mesma Língua e partilhando os valores histórico-culturais e familiares dos portugueses “residentes” — provocaram semelhante abalo social, como é possível compreender que outros tantos 700 mil estrangeiros de nacionalidade brasileira não causem, segundo a “verdade” oficial, o mais ínfimo impacto no mesmíssimo tecido social nacional?
3 – E, quanto a motivações, em que ficamos? Os portugueses residentes nas ex-colónias tiveram de buscar refúgio na sua Pátria — na maioria dos casos possuindo apenas a roupa que traziam no corpo, caso não fosse emprestada –, ou arriscando a viagem para o “torrão” ou arriscando a própria vida, caso ficassem em África. O que tem esse facto a ver, que similitude existe entre as terríveis provações que todos os “retornados” passaram com a imigração de livre e espontânea vontade, em massa (para os padrões portugueses)? O que motivou uns foi a pura e simples sobrevivência. E quanto aos recém-chegados, o que será?
PARTE I – Princípios fundamentais
Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado
a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam; (…)
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais (…);
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português (…);
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa; (…)
PARTE III – Organização do poder político
TÍTULO II – Presidente da República
Artigo 127.º – (Posse e juramento)
(…)
3. No acto de posse o Presidente da República eleito prestará a seguinte declaração de compromisso: Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.
«Este é um primeiro episódio a tratar da massiva emigração de brasileiros para Portugal. Iniciaremos a reflexão juntamente com o apontamento do presidente Marcelo Rebelo de Sousa em seus pronunciamentos nos Consulados Gerais de Portugal no Rio de Janeiro e São Paulo. Para o presidente da República Portuguesa, “Está a haver uma invasão de Portugal por brasileiros”, e isso ocorre especialmente nos últimos 4 anos e coincide com o governo de Bolsonaro. Nunca antes na História do Brasil um presidente foi capaz de expulsar tantos cidadãos brasileiros… É mesmo uma pena… Muitos brasileiros chegam à Portugal desesperados, saídos de um Brasil de ódio, insegurança, injustiças, instabilidade política e caos social…»
Na intervenção que encerrou a cerimónia de abertura da Bienal do Livro de São Paulo, Presidente da República considerou que orquestra com músicos refugiados “é um retrato daquilo que o Brasil é, que Portugal também gosta de ser, que é acolhimento de refugiados e de migrantes”.
[imagem] [legenda] Marcelo Rebelo de Sousa discursou na abertura oficial da
26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
O Presidente da República afirmou este sábado à noite que “não há portugueses puros, como não há brasileiros puros”, depois de ouvir uma orquestra formada por músicos imigrantes e refugiados, em São Paulo.
Marcelo Rebelo de Sousa falava na abertura oficial da 26.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em que houve uma actuação da Orquestra Mundana Refugi, com músicos vindos da Síria, da Palestina, do Congo, da Guiné, da Tunísia e de Cuba, entre outros.
Esta orquestra tocou, entre outros, os temas As caravanas, de Chico Buarque, e Canto das três raças, que ficou famoso na voz de Clara Nunes.
Na intervenção, que encerrou esta cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a Orquestra Mundana Refugi “é um retrato daquilo que o Brasil é, que Portugal também gosta de ser, que é acolhimento de refugiados e de migrantes”.
“Não há portugueses puros, como não há brasileiros puros. Somos todos cruzamento de todos. E temos honra em sermos cruzamento de todos. E isto é uma lição própria de sociedades cultas, avançadas, progressivas”, afirmou, em seguida, recebendo palmas.
No discurso, o Presidente da República declarou-se muito honrado por Portugal ser o país homenageado nesta edição da Bienal do Livro de São Paulo.
Segundo o chefe de Estado, isso quer dizer que “Portugal já não é só nem sobretudo o Portugal do passado, é o Portugal do futuro, é o Portugal da liberdade, é o Portugal da democracia, em que é possível ter um Presidente de direita com um Governo de esquerda”.
“É o Portugal da juventude, é o Portugal da nova literatura e da nova cultura”, acrescentou.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova anual que tem o objetivo de avaliar a qualidade do Ensino Médio em escolas de todo o País. Ele é a principal porta de acesso a cursos em universidades públicas e privadas. Além disso, essa prova garante a estudantes de baixa renda o acesso aos programas governamentais de bolsas de estudo ou financiamento com juros reduzidos.[https://descomplica.com.br/tudo-sobre-enem/enem/o-que-e-o-enem/]
Guia completo da redação Enem 2022
Dá para entrar na UPorto pelo Enem?
Sim, a UPorto é uma das várias universidades portuguesas que aceitam Enem. No área de candidatura internacional, a universidade informa que aceita os resultados do Enem para a seleção de estudantes brasileiros que desejam ingressar na licenciatura ou mestrado integrado. Assim como para os estudantes portugueses, cuja nota no exame nacional tem peso de acordo com ao curso pretendido. Assim, as notas podem ter peso diferente de acordo com o curso. [“Eurodicas” (Brasil)]
Custos da UPorto
A Universidade do Porto, é uma das instituições que apresenta valores diferenciados para estudantes brasileiros. Esses valores podem ser até 45% menos do que o pago pelos estudantes internacionais. Dessa forma, os estudantes brasileiros pagam mais que os nacionais, mas menos que os demais estrangeiros, pois estão ao abrigo do acordo CPLP. Os valores se referem ao tempo integral na universidade, ou seja, cursando todos os créditos do ano. Além disso, são valores anuais, que são divididos em 10 vezes pela universidade. [“Eurodicas” (Brasil)]
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Universidade do Porto regista quatro processos relacionados com assédio sexual no último ano lectivo
A 26 de Outubro de 2020, o grupo de estudantes universitários Quarentena Académica denunciou que estavam a ocorrer actos de xenofobia e racismo por parte de alunos e professores nas Faculdades de Engenharia e Letras da U.Porto, noticiou na altura a agência Lusa.
Questionado pela agência Lusa sobre a denúncia, fonte oficial da U.Porto avançava que a instituição ponderava avançar com a “abertura de processos disciplinares”, mas avisava os estudantes, todavia, que só o poderia fazer com uma queixa formal das vítimas. Em entrevista telefónica à Lusa na altura, Ana Isabel Silva, dirigente da Quarentena Académica referiu que o movimento havia recebido denúncias de estudantes estrangeiros, principalmente de nacionalidade brasileira, de que estavam a ser cometidos “actos de xenofobia e de racismo” por outros estudantes e também por professores, designadamente da “Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP)”. [BrasiLusa/Observador (texto corrigido automaticamente)]
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Enem assim
Em resumo, os estudantes brasileiros em Portugal gozam de todas as facilidades, algumas das quais em rigoroso exclusivo, mas nem assim consideram suficientes tão profusas e generosas prerrogativas. Querem ainda mais, pois é claro, como aliás devem considerar ser seu direito natural. Daí, portanto, os acalorados protestos em escadarias académicas e também daí, também portanto, as duas fotografias de web meme que serviram para encenar uma espécie de “luta” contra o suposto “racismo” e a pressuposta “xenofobia” a condizer.
Apesar da redundância, facilitismo mais facilitista não há, os universitários brasileiros advogam o tau-tau nos mauzões dos tugazinhos, aiaiai, que lhes fazem tanto mal, e logo a eles, coitadinhos, que tanto se sacrificam tirando seus canudos cá na “terrinha”, aonde vieram parar com imenso sacrifício apenas por altruísmo, aspergindo com algumas gotinhas do seu brilhantismo este lugar “cafona” e nada “légau”.
Ou seja, visto que o deprimente rol de pungentes lamentações puxa ao jogo de palavras, substituindo a lubricidade miserabilista pelo trocadilhismo militante, então teremos que eles trocam frequentemente a tautologia pela tau-taulogia. E vice-versa.
Tau-tau esse que se espalha, qual marabunta, pelas parangonas e respectivas peças “jornalísticas” (leia-se propagandísticas) de incertos pasquins.
Como é o notório caso do”Observador” (acima citado), que titula isto: «Universidade do Porto regista quatro processos relacionados com assédio sexual no último ano lectivo».
E desembrulha a bomboca : «fonte oficial da U.Porto avançava que a instituição ponderava avançar com a “abertura de processos disciplinares».
Por fim, ou, melhor, dizendo, era este mesmo o fim, baralha e torna a dar: «o movimento havia recebido denúncias de estudantes estrangeiros, principalmente de nacionalidade brasileira».
O jornalismo, quando a serviço da política e a mando de políticos, serve na perfeição como arma de destruição maciça da verdade. Não informa, desinforma. Não esclarece, confunde. Não relata factos, inventa-os. Não atende a outros interesses que não os de quem dá mais.
Este é mais um caso flagrante. Mistura-se “assédio sexual” — um crime previsto e punido por lei (Artigo 170.º Importunação sexual) — com “denúncias” fora de contexto e com opiniões, dúvidas espúrias ou simples atoardas sobre alegações de “actos de xenofobia e de racismo”.
Quando, afinal, da imensa zaragata provocada por duas fotografias de (in)certos alunos da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, que teriam — segundo alguns ruidosos manifestantes — expressado “racismo e xenofobia” atingindo os seus colegas brasileiros, e que os “racistas” iriam levar com “processos disciplinares” em cima, bem, olha, que surpresa, afinal não, não aconteceu nada disso, a própria “subdiretora” (assim mesmo, com o título academista grafado em brasileiro e tudo) veio comunicar que… enfim… que nhónhónhó.
Faltará pois, do ponto de vista dos “atingidos”, atingir o objectivo principal: passar, obter o diploma (europeu) de qualquer coisa e de qualquer forma. Daí as queixinhas de “racismo”, “xenofobia” e “preconceito”. Qualquer aluno da 4,ª Classe entende uma relação de causa e efeito assim tão clara, evidente, básica. Lá diz o povo, na sua imensa sabedoria: “quem não chora não mama.” Continue reading “‘Preconceito linguístico’, racismo e xenofobia – 5”