A visita daquele senhor

1 — Primeiro, vinha a 22 e seria recebido a 25 na Assembleia da República, em sessão solene. Caso o programa estabelecido pelo Governo português fosse cumprido, esta seria a primeira vez em que um Chefe de Estado estrangeiro discursaria na sessão comemorativa oficial do 25 de Abril. De súbito, e evidentemente sem sequer consultar qualquer das entidades estaduais, o Presidente da República Federativa decide antecipar a chegada à “terrinha”, o tempo de permanência no território e, por conseguinte, a data da partida para uma das capitais europeias, Madrid.

Adivinhava-se a alteração de última hora (“atirar o barro à parede” não colou). Isso mesmo foi aqui previsto a 3 de Março p.p. e confirmado pela imprensa portuguesa apenas ontem, 20 de Abril de 2023.

Os conspiradores rejubilam e preparavam-se até para convidar o putativo presidente da sua deles República para as comemorações; ao que parece, no entanto, a coisa seria por demais escandalosa, para já ainda convém ir disfarçando o estatuto de 28.º Estado da República Federativa do Brasil, o evento público de tomada de posse ficará talvez para o próximo ano, se calhar até no 10 de Junho.

[post “A lógica instrumental do #AO90″, 03.03.23]

Lula da Silva antecipa viagem para Portugal

Agenda do Presidente do Brasil em Portugal irá começar um dia antes do previsto, numa viagem que deverá ficar marcada pela intervenção no Parlamento, a 25 de Abril.

“SIC Notícias”, 20.04.23

Inicialmente a agenda do chefe de Estado brasileiro previa um embarque rumo a Lisboa durante a manhã de sexta-feira. Com esta alteração, o programa de Lula em Portugal arranca logo na sexta-feira.

(…)

No 25 de Abril, a sessão de boas-vindas a Lula da Silva está marcada para as 10:00 e contará com intervenções do Presidente do Brasil e do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva. Só depois, pelas 11:30, terá lugar a sessão comemorativa do 25 de Abril, já sem a presença do Presidente brasileiro.

Um esclarecimento que surgiu depois da polémica devido ao anúncio, em Março, feito pelo ministro João Gomes Cravinho, no Brasil, quando disse que Lula da Silva iria discursar na cerimónia solene do 25 de Abril na Assembleia da República.

Apesar de ter sido posteriormente convidado por Augusto Santos Silva para assistir à sessão solene no hemiciclo, o convite foi declinado.

[Transcrição parcial de artigo publicado por “SIC Notícias” em 20.04.23. Destaques meus.]

2 — Da agenda do Presidente da República Federativa, que discursará de qualquer forma na sessão solene do 25 de Abril, consta uma enorme lista de negócios (em sentidos literal e figurado), em especial no que diz respeito às exportações para Portugal e, a partir deste entreposto, para a Europa e para os PALOP. Além dos negócios em que os tugas investiram milhões naquela metrópole e que, “por azar”, ou já faliram ou estão em vias disso e, portanto, é necessário “reavivar”, ou seja, torrar lá mais uns patacos, o mais urgente para o Brasil é a exportação em massa de pessoas — aquilo que o governador tuga designa como “invasão de Portugal por brasileiros“. Mas esta “invasão” apenas sucedia, bem entendido, na lógica do mesmo tuga, caso o Presidente brasileiro fosse o “outro”; com “este” não, nada disso, é tudo uma maravilha. “Lógica” futebolística, portanto: os “nossos” são melhores do que os “vossos” porque os vossos são piores do que os nossos.

Ora, lá vêm os números, esse tremendo aborrecimento, a realidade (a realidade, que horror!) estraga completamente a bondade dos “argumentos” de Sua Excelência. Afinal, parece, a tal “invasão” é culpa do “outro” mas quem bate todos os records nesse aspecto é “este”.

«Este é um primeiro episódio a tratar da massiva emigração de brasileiros para Portugal. Iniciaremos a reflexão juntamente com o apontamento do presidente Marcelo Rebelo de Sousa em seus pronunciamentos nos Consulados Gerais de Portugal no Rio de Janeiro e São Paulo. Para o presidente da República Portuguesa, “Está a haver uma invasão de Portugal por brasileiros”, e isso ocorre especialmente nos últimos 4 anos e coincide com o governo de Bolsonaro. Nunca antes na História do Brasil um presidente foi capaz de expulsar tantos cidadãos brasileiros… É mesmo uma pena… Muitos brasileiros chegam à Portugal desesperados, saídos de um Brasil de ódio, insegurança, injustiças, instabilidade política e caos social…»

[YouTube, André Carvalho LUSOaBRaço (Brasil)]
[post “Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 4”, 18.07.22]

«Mais de 93 mil da CPLP com autorizações de residência em Portugal num mês»

«Mais de 93 mil imigrantes lusófonos, a maioria brasileiros, obtiveram autorizações de residência em Portugal no primeiro mês de funcionamento do novo portal disponibilizado pelo SEF para atribuição automática deste documento, segundo um balanço feito hoje.»
«A plataforma para obtenção de autorização de residência em Portugal para os cidadãos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) entrou em funcionamento em 13 de Março e destina-se aos imigrantes lusófonos com processos pendentes no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) até 31 de Dezembro de 2022 e para quem tem um visto CPLP emitido pelos consulados portugueses após 31 de Outubro de 2022.»

[“Notícias ao Minuto”/BrasiLusa, 11/04/23]
[post
Três mil e cem por dia”, 14.04.23]

Lula da Silva “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra — Março 2011

3 — Da extremamente ocupada agenda do senhor que está cá de visita não consta, é claro, até porque oficialmente tal coisa inexiste, algo que tenha a ver com a lusofobia. Aliás, nem aos negociantes portugueses ocorre sequer tocar no assunto, nem aos homens de negócios brasileiros interessa qualquer referência a um fenómeno que, apesar de não muito antigo (desde as primeiras décadas do século XIX), recrudesceu e multiplicou-se exponencialmente a partir do momento em que o Brasil impôs a sua língua, através do #AO90, planeou o seu putativo II Império inventando a CPLB e arrasou qualquer resquício de identidade nacional com o chamado “Estatuto de Igualdade” — e suas implicações, como a cidadania automática.

Sobra o costume, enfim. Uma questão (séria) de soberania nacional é tratada como se fosse uma peladinha entre solteiros e casados. Enquanto os de um clube acham mal a presença “dele”, que não é dos “nossos”, os da outra claque barafustam porque “ele” é dos “outros”. A nenhum dos fanáticos adeptos ocorre que “ele” não vem cá dar pontapés na bola (só na gramática, mas adiante) e que ele não representa uma equipa nem a outra. Muito menos se representa a si mesmo. Qualquer Presidente da República representa o seu país. O brasileiro representa o Brasil.

Portugal não é o país dele.

Lula chega hoje a Portugal com imigrantes na agenda da cimeira e negócio aeronáutico à vista

“Diário de Notícias (Madeira)”, 21 Abr 2023
BrasiLusa/www.dnoticias.pt

O Presidente brasileiro Lula da Silva, chega hoje a Lisboa para uma visita oficial a Portugal, com uma agenda intensa, que inclui uma cimeira luso-brasileira, com assuntos da comunidade imigrante estarão em debate, mas também com um negócio aeronáutico no horizonte.

Segundo uma fonte do Executivo brasileiro, a possibilidade de exportação do avião KC-390, que já é produzido pela empresa brasileira Embraer em Portugal, para outros países da União Europeia vai ser um dos assuntos a ser discutido entre os dois governos.

Mas, na cimeira luso brasileira, que decorre no sábado à tarde, constará um capítulo “dedicado aos assuntos da comunidade imigrante do país em Portugal”, disse à Lusa a mesma fonte.

Além deste, haverá também um capítulo económico, muito virado para como incentivar as trocas comerciais entre os dois países e ainda um outro dedicado à agenda internacional e de política externa, onde o caminho para a assinatura do Acordo União Europeia-Mercosulestará em debate, com a questão da guerra Rússia-Ucrânia pendente, adiantou a mesma fonte.
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Perdeu o Pio

«Alguns intelectuais condenam essa [acordo ortográfico ] decisão, que consideram um atentado à nossa cultura e outros referem os grandes custos que resultarão da substituição dos dicionários e livros escolares. Seria preferível ficarmos “orgulhosamente sós” com a nossa ortografia?»
Duarte Pio de Bragança, 14 de Maio de 2008

Quem porventura depositar qualquer espécie de expectativa no putativo herdeiro do trono português, bem pode esperar sentado. De facto, o dito putativo já se pronunciou quanto a soberania nacional em geral e, no âmbito desta, quanto à Língua Portuguesa em particular: factores identitários? Duarte Pio não se identifica lá muito com isso.

https://www.citador.pt/frases/o-livro-e-um-mudo-que-fala-um-surdo-que-responde-antonio-vieira-3715Devo esclarecer que desconheço olimpicamente os meandros da coisa monárquica no Portugal de hoje e, portanto, pouquíssimo ou absolutamente nada entendo de facções, movimentações e outras questões intestinas que afligem aqueles que agora formam o séquito real. Parece-me, contudo, que existirão duas facções opostas (em quê ou porquê, ao certo, lá está, não faço a menor ideia), mas aquilo que interessa é que uma das duas continua a utilizar o Português em todas as suas publicações, rejeita liminar e completamente o AO90, manifesta um claríssimo repúdio pela “língua universal” brasileira e não tem qualquer receio — ao contrário da outra facção realista e de algumas seitas republicanas — de denunciar e expor o «processo de apagamento da identidade portuguesa em curso».

Felizmente, apesar de a coragem ser um bem escasso, nos tristes tempos que correm, não é de forma alguma um exclusivo daquele “partido” monárquico. Iguais desassombro e firmeza na luta contra o esmagamento neocolonialista têm também demonstrado inúmeros indivíduos — integrados ou não em partidos políticos republicanos — e organizações das mais diversas áreas, abrangendo todos os sectores de actividade, todas as classes profissionais, em suma, todo o tecido social que nos define enquanto nação independente.

É nestes pressupostos que têm perfeito cabimento, até porque reforçam significativamente o carácter mundano e cívico da luta contra o imperialismo linguístico-cultural, as referências e conteúdos provindos de qualquer das ex-colónias portuguesas, de entre as quais, naturalmente, também o Brasil.

Como no caso da recente entrevista concedida por Dom Luiz Philippe de Orléans e Bragança, um destacado político brasileiro descendente de D. Pedro IV de Portugal (D. Pedro I do Brasil), da Casa Imperial brasileira — a qual partilha com a Casa Real portuguesa, evidentemente, além dos apelidos de linhagem as mesmas raízes familiares.

O que realça ainda mais o facto de as duas casas divergirem radical e decisivamente quanto àquilo que interessa.

[…]

Numa altura em que o país celebra, em 7 de Setembro, o bicentenário da sua independência, o pentaneto de D. Pedro I reflecte ainda sobre a importância de haver uma família fundadora no Brasil “com parte da sua história que ainda está presente e que socialmente é relevante”.

Caso contrário, as referências de origem desaparecem e o país torna-se “um país bastardo, uma população bastarda e vira-lata”, um conceito utilizado no Brasil para se referir à inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em relação ao resto do mundo.

Escudo da Casa de Orléans e Bragança (Casa Imperial do Brasil) [Wikipedia]

Na opinião do deputado federal filiado ao Partido Liberal (PL), o mesmo do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, “o brasileiro hoje tem um conceito de vira-lata e um vira-lata é um bastardo, que não tem pai nem mãe, não tem origem, qualquer história vale, qualquer narrativa política do momento vale e por isso o Brasil está sempre se reconstruindo”.Em vez de se valorizar a origem portuguesa e tudo o que Portugal representou, considera à Lusa Luiz Philippe de Orléans e Bragança, os brasileiros “destroem Portugal, destroem o português, a língua portuguesa, a cultura portuguesa”. No seu entender, ensina-se uma historiografia que tem aversão a tudo o que foi feito de positivo por parte de Portugal, uma história e uma presença que permitiram que o Brasil não se desintegrasse aquando da sua independência, em 1822.O deputado não tem dúvidas de que a unidade territorial brasileira, o quarto maior território do mundo, ao contrário do que aconteceu com as colónias espanholas na América do Sul, só foi possível devido à vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro durante as invasões napoleónicas e devido ao singular processo de independência que tem como ‘independentista’ o imperador do Brasil D. Pedro I, um membro da família real portuguesa.”Aqui na região só temos histórias patéticas de país”, considera, lembrando o México que, na sua opinião, é um Estado falido controlado pelo narcotráfico.

Escudo do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1821)

No seu entender, o Brasil continua unificado graças à origem portuguesa e à esquadra portuguesa com o príncipe regente que aportou em Salvador, em 22 de Janeiro de 1808, para mais tarde instituir a cidade do Rio de Janeiro como capital do império português.

“Quando Portugal aporta ao Brasil era praticamente o país mais antigo da Europa, com instituições e regulamentos. Foi o primeiro império, o império que sabia gerir um império ultramarino. Não é qualquer país que consegue gerir colónias e interesses além das suas fronteiras e Portugal teve sucesso incrível durante centenas de anos“, diz.

O Brasil, que já era um vice-reino desde 1640, recorda, é em 1808 elevado a reino unido, com a mudança da capital de Lisboa para o Rio de Janeiro devido à ocupação das tropas napoleónicas em Portugal.

Com D. João VI, frisa, veio toda a corte que sabia gerir um país que teve “muito sucesso na criação de um país unificado, vastíssimo e sabia exactamente o que fazer com o erário público”.

Se não tivesse ocorrido essa vinda e se tivesse sido uma monarquia mais espalhafatosa, a gente não teria o sucesso que teve. A primeira administração foi extremamente frugal, voltada para a construção de uma nação“, considera.

Na opinião de Luiz Philippe de Orléans e Bragança, “se não fosse o conhecimento gestor da corte portuguesa não haveria Brasil” porque não teria havido “a disciplina de investir no que realmente era necessário para garantir que existiria um Governo, um centralismo, uma unificação e que haveria respeito por esse novo poder”.

[…]

[Transcrição parcial de artigo, da autoria de Miguel Mâncio (agência BrasiLusa), publicado no Diário de Notícias” em 24 Julho 2022. Cacografia brasileira do original corrigida automaticamente. Destaques e “links” meus.
Conteúdo indicado por Octávio dos Santos, a quem de novo agradeço.
Imagem de Dom Luiz Philippe de Orléans e Bragança de: “beta-redação” (Brasil). Imagem de topo extraída de vídeo YouTube.]

Real Associação de Lisboa

(…) Estamos sempre a falar da nossa identidade precisamente por termos identidade a mais. A nossa longa História nacional tem um peso enorme sobre os nossos ombros, hoje obrigados ao temor reverencial troikista. O nosso passado é de uma grandeza que nos faz sentir como pigmeus, muitas vezes deixando-nos sem saber como lidar com ele. Daí o nosso eterno retorno mental e retórico às épocas áureas do domínio português sobre mares de todo o mundo. Daí a nossa servidão voluntária quando nos pretendem impor ideias que são simplesmente páginas novas no processo de apagamento da identidade portuguesa em curso. Vem isto a propósito de dois ataques do rolo unidimensionalizador do estado, que encontra quase sempre, infelizmente, uma enorme passividade da sociedade portuguesa em relação aos ataques por ele prosseguidos.

Em primeiro lugar, o mal afamado Acordo Ortográfico. Não pretendo estender-me numa análise do género da que muitos têm feito, e bem, sobre as incoerências linguísticas do próprio acordo ou os errados critérios e interesses que o norteiam, como Pedro Mexia salientou num excelente artigo publicado no Expresso de 14 de Janeiro de 2012. E não o pretendo fazer porque, antes de mais, fazê-lo é aceitar a existência do próprio acordo. É aceitar que o estado é dono da língua. É aceitar que, sem que ninguém lhe tenha conferido esse mandato, o estado se pode arrogar a possibilidade de fazer o que quer com a língua. No caso em apreço, é aceitar que o estado pode convocar um grupo de alegados iluminados e permitir-lhes redesenhar a língua de milhões de pessoas a seu bel-prazer. Escapa a estes iluminados, provavelmente herdeiros da filosofia cartesiana que incorre no racionalismo construtivista – um ignóbil produto da modernidade que inspirou totalitarismos assentes no princípio de que é possível desenhar ou redesenhar uma sociedade complexa a partir de cima, ou seja, do aparelho estatal – uma coisa tão simples quanto isto: a língua é uma das instituições humanas originada e desenvolvida espontaneamente, i.e., através da interacção de milhões de indivíduos ao longo do tempo. A língua originou-se através da natural evolução humana e é por via das interacções que se registam numa comunidade ou sociedade que se vai modificando, de forma lenta, gradual e sem coerção estatal.A língua não é produto nem pode ser apropriada por um aparelho cuja fundação é posterior ao momento de origem da língua da sociedade de onde aquele emana. Sinto-me ultrajado com este acordo e pela violentíssima forma como o estado tem avançado para o impor. Raras vezes tenho sentido uma revolta tão grande, uma revolta que cada vez mais me custa calar e que é, com toda a certeza, partilhada por milhões dos meus compatriotas. É difícil, mas não impossível, resistir ao rolo unidimensionalizador da única instituição que detém o monopólio da força legítima. Mas não resistir é aceitar a coação estatal num domínio que é nosso, dos indivíduos e da sociedade, dos portugueses, não do estado. E é por isto que sou terminantemente contra a existência de qualquer acordo ortográfico. Este ou outros (e sim, sei que se fizeram vários ao longo do século XX e sempre por razões políticas). Não discuto os critérios do acordo porque, por uma questão de princípio, este nem sequer deveria existir.
[…]

Samuel de Paiva Pires
Monarquia Lisboa”, 23.01.12

Lusofobia: causa(s) e efeito(s) – 1

Fila de emigrantes brasileiros à porta do consulado do Brasil em Lisboa. Fotografia da autoria de Bruno Miranda, no original em https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/12/portugal-ve-nova-onda-de-imigracao-brasileira-apos-reabertura-de-fronteira.shtml

 

 

 

__Ouve lá. Se continuas a falar de mim e de pessoas das minhas relações, do modo como tens falado, e que não me convém, arranco-te as orelhas. O conde acudiu, metendo-se entre eles: __Maia, por quem é! Aqui no Chiado… __Não é nada, Gouvarinho, disse Carlos detendo-o, muito sério e muito sereno. É apenas um aviso a este imbecil. __Eu não quero questões, eu não quero questões!… balbuciou o Dâmaso, lívido, enfiando para dentro duma tabacaria. [“Os Maias”, Eça de Queirós]

Morder a Língua

Depois de ao menos ter visto os “bonecos” do “post” anterior, sobre este mesmo assunto, já terá formado uma ideia daquilo em que de facto consiste esta espécie de neologismo que afinal não é neo coisíssima nenhuma. E embora sejam imensas as fontes, o que implica a divisão em parcelas dos conteúdos, o que se irá proximamente fazendo, decerto o conceito tornar-se-á mais inteligível sendo ilustrado e demonstrado documentalmente. Apenas no essencial, bem entendido, até porque ao contrário do que é costume suceder com os “ismos”, que as têm largas, em matéria de política a lusofobia tem costas estreitas; tão estreitas, aliás, que apenas por uma nesga se enxergam — de tal forma é sepulcral o silêncio sobre aquela patologia anti-portuguesa… em Portugal.

Claro que outro galo cantaria, com toda a certeza, seria um cócóricócó dos diabos e não um silêncio ensurdecedor, se existissem lusófobos em Espanha (não há, de todo), por proximidade geográfica e afinidade histórica, ou se tais desmandos porventura sucedessem em qualquer das ex-colónias portuguesas em África e na Ásia; também não sucede nada nos PALOP (e Timor e Macau e até Goa), nada, nem um sinal, não existe a mais ínfima réstia de lusofobia; em todos esses países jamais ocorreu a alguém usar Portugal como bode expiatório para os seus próprios nacional-fracassos. Esse estranho fenómeno sucede em rigoroso exclusivo no Brasil e por parte de brasileiros (bom, felizmente nem todos), incluindo parte daqueles que resolveram — esperemos que não com muito sacrifício — estabelecer-se na parte mais ocidental da Europa, naquilo a que chamam “a terrinha”.

Para os mesmos brasileiros está igualmente reservado um outro exclusivo, o ainda mais estranho fenómeno da contemporização tuga para com o insulto e a ofensa. Digamos que nesta questão (literalmente) o tuga “médio” comporta-se como qualquer poltrão, é uma espécie de Dâmaso Salcede colectivo que, ligeiramente borrado, enfia-se em qualquer buraco sempre que alguém se sente, porque é gente, mas os nacional-cobardes não, esses limitam-se ao escudo invisível da passividade, “eu não quero questões, eu não quero questões”. A tal gentinha que não quer nem questões nem “conflitos com o Brasil” (ou lá qual é actualmente a fórmula que usam obnóxios), uns tipinhos que acham que tudo o que é brasileiro é légau, a começar pela sacrossanta língua universau.

Os bajuladores que bajulem, os tíbios que fiquem lá com a sua tibieza, quem insulta Portugal que morda a língua. Longe. Distância. Não aqui.

 

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.

Esta é a ditosa pátria minha amada,
A qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.

Portugal vê nova onda de imigração brasileira após reabertura de fronteira

Giuliana Vallone

“BBC Brasil”, 04.12.21

A reabertura das fronteiras entre Portugal e Brasil, em setembro, após um ano e meio de restrições relacionadas à pandemia da covid-19, vem estimulando uma nova onda de imigração ao país europeu.

Entidades que auxiliam imigrantes em território português relatam maior chegada de brasileiros e busca por informações sobre o processo de migração. Dizem, ainda, que caiu o número de brasileiros procurando auxílio para voltar à terra natal.

As razões para isso, apontadas por brasileiros recém-chegados a Portugal entrevistados pela BBC News Brasil, incluem a escalada da crise no Brasil, uma vontade de melhorar sua qualidade de vida e a familiaridade com a língua.

Além disso, o país possui uma legislação nacional favorável à imigração. Diferentemente da maioria das outras nações europeias, Portugal permite a regularização com relativa facilidade daqueles que chegam como turistas (ou seja, sem visto), mas decidem viver e trabalhar em seu território.

Foi com essa possibilidade em mente que o auxiliar de enfermagem Uelber Oliveira, de 33 anos, se preparou para viver no país. Em Lisboa há cerca de três meses, chegou sem visto para procurar emprego e se instalar na cidade.

“Está cada vez mais difícil viver, e viver com qualidade, no Brasil. A nossa luta não é mais para ter um carro bom, uma moradia boa. O problema agora é ter o básico, é conseguir se alimentar”, diz ele, que é natural de Ilhéus (BA).

Na capital portuguesa, conseguiu um emprego e aguardou a chegada da esposa, cuja viagem ficou marcada para dois meses após a sua. Atualmente, os dois trabalham como cuidadores de idosos na cidade, e já começaram o processo para regularizar sua situação migratória.

Percebi que em Portugal teremos segurança, e, mesmo ganhando pouco, muita qualidade de vida – e ainda vou conseguir mandar um dinheirinho para o Brasil”, afirma.

O movimento atual de migração de brasileiros para Portugal começou em 2014, quando as condições econômicas do Brasil voltaram a piorar, mas se intensificou a partir de 2017. Nos últimos quatro anos, o número de brasileiros residindo em Portugal registrou um aumento — batendo recorde em 2020.

“E aí veio a pandemia e fechou as fronteiras. Mas as pessoas só suspenderam seus processos migratórios nesse período”, afirma Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, entidade que auxilia os imigrantes no país. “Quando abriram as porteiras1, as pessoas voltaram a procurar Portugal em peso.”
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Os ridículos

13.ª Cimeira da CPLP – Luanda, Julho 2021 — Os diplomatas falam de uma comunidade com grandes possibilidades. Ela inclui países com reservas significativas de gás e petróleo, outros têm potencial agrícola. Se a CPLP tem ambições, a circulação de pessoas terá de ser melhorada, pelo menos para alguns grupos. [jornal “Novo”, 24.07.21]

«O português que falamos/escrevemos no Brasil é bem diferente daquele falado/escrito em Portugal.» [Luiz Fernando Casanova, tradutor brasileiro]

Pois sim, pois é. O brasileiro é tão diferente do Português quanto o Português é diferente do Galego. Qualquer texto, de qualquer tipo, escrito em Galego é imediatamente e sem qualquer esforço inteligível para um leitor português — e o mesmo sucede se invertermos os factores. Isto é naturalíssimo, claro, dado que ambas as Línguas partilham um tronco comum e, historicamente, foram na Idade Média o idioma comum aos diversos povos estabelecidos a Norte e a Sul do rio Minho. A Língua galaico-portuguesa, ancestral elo de ligação de cariz (também) político, foi partilhada ao longo de séculos, portanto, mas nem um facto nem o outro influíram minimamente na autonomização das duas “variantes”, primeiramente, e na separação, por fim, transformando-se uma e outra em Línguas nacionais independentes.

Seria possível copiar e colar todo o parágrafo antecedente, para ilustrar a situação actual das línguas portuguesa e brasileira, com a errata da ordem: onde se lê «Galego» leia-se «brasileiro» e «onde se lê rio Minho leia-se oceano Atlântico». Não se trata de mera similitude, o que sucede hoje — e desde 1822 — é rigorosamente a mesma coisa que sucedeu na Península Ibérica no século XIV, com um período de carência que se prolongou por cerca de duzentos anos. Grosso modo, o mesmo hiato temporal entre o “grito do Ipiranga” e a invenção do AO90, esse absurdo manual de colonização linguística invertida.

A consistência, a regularidade e a inevitabilidade do processo de separação verifica-se em concomitância, não apenas no plano linguístico mas também no político, com a excepção do malaquenho aleijão — um “acordo” inédito, sem qualquer precedente (ou alguma coisa vagamente parecida) em todo o mundo.

Tanto o brasileiro como o Galego apresentam notórias divergências em relação ao Português, a todos os níveis, a começar pela ortoépia (ou prosódia, não confundir com pronúncia ou sotaque e muito menos com “o falar”) e incluindo, por natural inerência, o léxico, a semântica, a ortografia e, evidentemente, a morfologia. Não entra nesta analogia, por acréscimo a contrario, que na língua brasileira a sintaxe (a construção frásica, o “modo de escrever”) não tem nada a ver com a da Língua Portuguesa — mas essa discrepância fundamental e estruturante não sucede com o Galego.

É uma questão de tempo, realmente. Apesar de alguns galegos pretenderem também, nisso concorrendo com engraxadores profissionais da tugalândia, abichar umas sinecuras à conta do AO90 puxando o lustro aos chanatos dos brasileiros, a questão na Galiza é respeitavelmente vetusta e evidentemente pacífica: Galego é Galego, Português é Português. Aliás, um “acordo ortográfico” com a Galiza não apenas jamais lembraria ao diabo como também não iria permitir bajular qualquer “país-continente” nem concorrer aos tachos sobrantes (e menores) à conta de uma putativa “língua ibérica” ou outra coisa qualquer parecida com a “língua universáu” de Malaca, Bechara, Cavaco, Lula e Sócrates.

E quem diz Galego, diz o próprio Castelhano, esse verdadeiro gigante, ou diz Catalão ou, já agora, se a questão é de “parecenças”, então porque não um acordo ortográfico luso-transalpino, pois então, o Italiano é parecidíssimo com o Português, nós por cá até temos boa pizza, em não havendo carrascão marcha o belo Chianti, ou assim, e isto já dando de barato que o Mourinho agora é treinador do AS Roma, há lá coisa mais universal do que a língua futebolística, não brinquemos.

Portugal em peso deveria começar já a treinar o seu Espanhol, a alinhavar El Acuerdo Ortográfico, salvo seja, ou em alternativa seria de tentar os nossos “irmãos” italianos (em especial no Vaticano há disso aos pontapés), fazer um verdadeiro acordo ortográfico com eles, algo mais pingue e sumarento do que o péssimo negócio (para nós) com o Brasil, para quem a fantochada ortográfica é um belo troço.

Se o que se pretende é rebolar a rir, distraindo assim o povão de golpadas e camuflando mafiosos, então ao menos que se tente a via italiana — apinhada de especialistas em omertá. Capisce?

Esqueçam de vez o elefante e habituem-se às diferenças

Nuno Pacheco
publico.pt, 22.07.21

 

Hoje, como há dez, trinta ou cinquenta anos, o português continua a ter duas variantes claras: a portuguesa e a brasileira. O acordo não alterou isso, só alterou cada uma das variantes.

O elefante estava muito sossegadinho a um canto, na sua perene inutilidade, até que alguém o chamou. E ele lá veio, arrastando o seu peso, sem saber a que propósito se lembraram da sua existência. Sim, porque na festa ninguém reparou. Ao chegar aos 25 anos, idade para ter juízo, o quarteto de consoantes que lemos como cêpêélepê mantém muitos devaneios (como a crença de que Obiang virá algum dia a ser democrata), mas já se entretém com coisas mais adultas como a livre circulação ou até os negócios, sejam eles promitentes ou duvidosos. Agora a língua, que na declaração de Luanda se reveste das pomposidades habituais (a palavra “língua” é repetida 25 vezes, seja para recomendar vacuidades como a “ampliação da [sua] difusão internacional” , ou reiterar o sonho de a ver como “oficial” na ONU), já se desembaraçara — na retórica, mais ainda não nos nefastos efeitos — do elefante. Para quê, então, trazê-lo à baila?
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Sociedades secretas, negócios discretos

Não hostilizemos quem acredita piamente em que um dia, algures no futuro, o Sacavenense ganhará a Taça dos Campeões Europeus. E ainda, sobretudo, mantenhamos a compostura, admitamos que num outro dia um OVNI azul às riscas aterrará no aeroporto internacional de Portalegre e dele sairão, como turistas, uma data de Conguitos verdes paridos em Melmac.

Acreditar em tão profanos milagres é o mesmo que negar a existência de uma sociedade secreta (ou discreta), sem dúvida a mais perigosa de todas, perante cujo poderio é virtualmente impossível fazer seja o que for.

Esta terceira mas primordial seita, estranha simbiose das duas sociedades secretas oficiais (por assim dizer), é constituída por homens de negócios e por políticos (há diferença?), por regra membros de uma das outras duas confissões (ou de ambas, que também há disso), não têm aparentemente qualquer ligação entre si e não praticam rituais próprios de espécie alguma, ocupando-se exclusivamente da congeminação (entre os membros) de grandes negócios, desfalques faraónicos, tráfico de influências (e toda a sorte de outros tráficos), extorsão, lobbying, corrupção, especulação e manipulação de mercados. Etc. Absolutamente nada fica de fora ou está ao abrigo deste tipo de ganância, daquela patológica obsessão pela acumulação de riqueza.

A Maçonaria, cujos membros dizem de si mesmos ser “Pedreiros Livres” — que de pedreiros nada têm e de livres muito menos — e a Opus Dei (ou “Obra de Deus”, uma entidade abstracta que se rege pela lei da letra morta), constituem, pela junção das partes, um imenso grupo de pressão (política, de regime, autárquica, diplomática, empresarial) e constituem, cumulativamente, um conglomerado de interesses não apenas políticos como, ou principalmente, económicos. O aparente laicismo de uns e a religiosidade fingida de outros consistem basicamente (e comummente) na propagação de uma fé inabalável no dinheiro e na prossecução da sua crença no enriquecimento pelo enriquecimento. Para tal desiderato, no qual crêem cegamente, uns e outros socorrem-se de lacaios especializados para as tarefas mais sujas e plebeias, como lavar vestígios ou “abrir portas”, com tudo o que implicam os trabalhos de tais criados pagos à peça ou à ordem, em espécie ou numerário, por grasso ou por atacado.

É com incontornável solicitude que os sabujos, a mando de membros da seita de seitas. envergando a “libré” de “facilitadores” especializados, avançam amiúde com questões aparentemente menores. As trupes de auxiliares servem (na perfeição) os interesses da selecta alcateia de gananciosos patológicos e foi assim que, por exemplo, surgiu e medrou a chamada “questão ortográfica”, ou seja, o AO90.

Ignoremos, ao invés do habitual, as já muito badaladas teorias da conspiração que envolvem as duas sociedades secretas. No entanto, bem entendido, não apenas existem bastos sinais do envolvimento de qualquer delas (ou de ambas) em questões relacionadas com o idioma em particular e com o Ensino em geral, assim como parece evidente que ambas tiveram tudo a ver com a “adoção” da cacografia brasileira; os “irmãos” de ambas as famílias estiveram envolvidos e na dita questão continuam enterrados até ao pescoço; sabemos que assim terá sido e é, sim, mas também podemos estar certos de que jamais viremos a saber ao certo em que medida ocorreu tal envolvimento, quais dos “manos” (de toga ou de batina) estiveram envolvidos e o quê ou quanto, ao certo, isso implicou: não existe nas seitas, por definição e inerência, qualquer tipo de registo; não prestam contas de nada a ninguém, nem ao Fisco nem a quaisquer outras entidades do Estado (é óbvio, eles “são” o Estado); os membros gozam de total imunidade e outorgam a si mesmos o estatuto de total e absoluta impunidade.

À míngua de provas documentais de qualquer espécie, de muito pouco ou nada servirá especular sobre algum ascendente ou assacar-lhes a mais ínfima responsabilidade (claro, nunca foram eles, nunca fizeram nada, são só apreciadores de missinhas, mais nada). Não será, por conseguinte, com vãs (e ocas) polémicas sobre qual das seitas se superioriza moralmente à outra que será possível concluir, por exemplo, pobre analogia, que em Melmac não existe só o Alf. O conceito de moral (ou imoral) está a priori  fora de cogitação, no caso vertente, pelo que a frivolidade da comparação é inútil.

Porém, sem teorias da conspiração ou sequer a mais subtil das conjecturas, ainda que, porque não há provas, não saibamos ao certo o que é a “fé” ou o que ali é feito, todos sabemos perfeitamente… o que é uma sociedade secreta, o que ali é feito, quem, quando, como e para quê. E sabemos isso de ciência exacta precisamente pelo mesmíssimo secretismo que define qualquer das irmandades: se são secretas, então  têm algo a esconder. 

São coisas que se explicam a si próprias e por si mesmas.

Desta premissa podemos nós ter a certeza. Uma certeza clara e limpa e luminosa — o oposto diametral da permanente obscuridade, a escuridão sepulcral da criminalidade ritual.

Frutas, legumes e sociedades secretas

Observador – observador.pt, 28.03.21

António Pedro Barreiro

Imagine-se que o Parlamento decidia aprovar uma nova regulação acerca da produção de legumes – não de frutas, mas apenas de legumes. Certamente, muito haveria a debater sobre uma proposta desta natureza. Seria pertinente? Que efeitos teria na produção agrícola? E que consequências produziria na dieta dos portugueses? Discussões fascinantes e necessárias. Mas, antes de todos esses debates, há uma questão prévia, que é a de perceber que coisa é essa que o legislador entende por legumes. O caso torna-se agudo quando chegamos, por exemplo, ao tomate, que muita gente acredita ser um legume, mas que a ciência sabe, para além de qualquer dúvida, tratar-se de uma fruta.

Eu posso ser o maior defensor da nova regulação sobre a produção de legumes. Mas não posso aceitar que, à boleia de uma lei sobre legumes, o legislador se sinta no direito de legislar sobre o tomate, porque o tomate não é um legume. Seria, aliás, especialmente perigoso que o legislador andasse a brincar com os equívocos e os preconceitos do senso comum, para convencer os portugueses de que o tomate é afinal um legume e deve, por isso, caber no objecto da nova legislação. A política é uma arte nobre de serviço público. Ou se faz com base na verdade – e a verdade, bem o sabemos, é a adequação das ideias à realidade das coisas – ou faz-se mal. E, quando se faz mal, faz mal ao povo.

Em Dezembro de 2019, o PAN propôs que os deputados pudessem, ao preencher o seu registo de interesses, declarar se pertencem a sociedades secretas – ou, como se tem dito, discretasDizia então o deputado André Silva que é “inconcebível que os titulares destes cargos continuem a não declarar a sua filiação em organizações marcadas por uma forte opacidade, por um grande secretismo e que apelam a fortes laços de hierarquia”. A proposta tem o seu cabimento, até porque existe o risco real de que algumas pessoas se sirvam das relações travadas no contexto da sociedade secreta para subir na vida à custa do tráfico de influências. Mas o problema, como sempre, está nos pormenores. É que, além da Maçonaria – que é, de facto, uma sociedade secreta, que se caracteriza pela opacidade, que se estrutura segundo relações hierárquicas muito fortes e que constitui, com efeito, um espaço onde o tráfico de influências é possível –, o PAN quis incluir no estatuto de sociedade secreta o Opus Dei, que não obedece a nenhuma dessas características.
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