Rábu dji peichi ná Nétchifilix

https://platform.twitter.com/widgets.js
Palavras e expressões-chave: dobragem/dublagem, “língua universau“, valor económico da língua, legendagem/subtitulação, tradução Português-Brasileiro, AO90, CPLB, neo-colonização, terraplanagem cultural.

Já sabíamos que no Brasil tudo o (muitíssimo pouco) que ali chega de Portugal é imediatamente traduzido para a língua local (a brasileira, claro). E alguns dos tugas que lá aterram, exímios poliglotas, não se coíbem de falar (e escrever) num Brasileiro mais ou menos fluente e até, por vezes, não muito ridículo: o “ator” Ricardo Pereira, por exemplo, ou, de forma exponencialmente mais circense, o actual PR ou o ex-PM Durão Barroso, também por exemplo.

Tudo nos conformes, portanto, neste particular: um “seriado” português, legendado em qualquer dos países de língua inglesa ou dobrado em Francês na Suíça e em Castelhano em Espanha, aparece agora “dublado” no Brasil. E não se trata de uma excepção; pelo contrário, é esta a regra. Para os brasileiros, o Português é tão incompreensível como o servo-croata.

Tudo encaixa na perfeição, hem? O #AO90, ficção subjacente à criação da Comunidade dos Países de Língua Brasileira (CPLB), foi impingido (por traidores portugueses) com o engodo de uma putativa “unificação”. Ora aí está ela: em Portugal e nos PALOP, a única língua permitida é a brasileira. Para os donos da língua, o Português não passa de uma bizarria, uma caturrice, um dialecto esconso porque… “eles são 220 milhões e nós só 10 milhões“.

Rabo de Peixe

Quando um barco cheio de cocaína se afunda na costa da ilha onde mora, Eduardo vê uma oportunidade para ganhar dinheiro que tem tanto de emocionante como de arriscado.
Com:José Condessa,Helena Caldeira,André Leitão
Criado por:Augusto Fraga [“Netflix” Portugal]
A série Mar Branco (ou Rabo de Peixe, no título original) chegou ao catálogo da Netflix na última sexta-feira (26). A produção já é destaque entre os assinantes, ocupando a sexta posição do Top 10 do streaming. A trama acompanha quatro jovens de um pacato vilarejo açoriano que veem suas vidas mudarem completamente quando um barco repleto de cocaína afunda na ilha. Com direção de Patrícia Sequeira, a série portuguesa baseada em fatos reais tem como showrunner Augusto Fraga e é estrelada por José Condessa, Rodrigo Tomás e Helena Caldeira. [“Techtudo” (Brasil)]

[“Tweet” apontado por Mário de Sá-Peliteiro]

“Whiskas saquetas”, Margarita

Ora, para alguém que está enterrada até acima do pescoço, ao serviço dos interesses brasileiros, na profissão de demolição da Língua Portuguesa, isto é doentio, é grave, é de facto uma patologia mental. [post “Margarita no sofá“]

E cá está ela novamente, desta vez aproveitando a boleia de uma moçambicana “ligeiramente” anti-portuguesa. Aliás, o tom sinistro de indisfarçável lusofobia perpassa pela verborreia de ambas estas mulheres com uma subtileza equivalente ao bocejo do hipopótamo.

De entre o chorrilho de enormidades, para não variar do seu estilo carroceiro, a “presidenta” do IILP esparrama nesta “local” do DN, por entre inúmeras passagens com a escova da bajulação ao Itamaraty, as suas “ideias” para que (ainda) mais fácil e rapidamente o seu querido Brasil tome conta disto tudo, de uma vez por todas. Parece um ‘cadinho aborrecida, porém, dado o facto — para ela, de todo intolerável — que Moçambique (além de Angola, como sabemos) ainda não tenha “adotado” o Brasileiro como língua oficial.

E que e que e que, blábláblá, Whiskas saquetas. Todo o palavreado do artigo, de cabo a rabo, é absolutamente insuportável. Transcrever esta abjecta porcaria já foi sacrifício suficiente, seja pelas alminhas, não vou agora citar ou destacar pedaços da asquerosa prosa, livra, que nojo.

Ora aqui está um caso flagrante em que se aplica o aforismo sobre a melhor forma de pegar num pedaço de esterco pelo lado limpo. Quem for capaz de tal proeza, pois então faça o favor de ler. Não se aprende nada, evidentemente, mas convém munir-se a gente de pelo menos alguns conselhos sensatos, como o de Sun Tzu (543-495 a.C.): “Keep your friends close and your enemies closer”.

A descolonização da língua portuguesa

Margarita Correia
29 Maio 2023

O discurso de Paulina Chiziane aquando da entrega do Prémio Camões desencadeou notícias e ondas de choque nas redes sociais, provando a importância e o impacto dos temas que abordou, que são daqueles que mexem com as pessoas e carecem de análise e discussão. Não pude ouvir o discurso em directo e não o encontrei na Internet; é no que vou lendo e na minha experiência que baseio a reflexão que aqui trago. Ao falar da necessidade de descolonizar a língua portuguesa, a autora deu exemplos da descrição de conceitos ligados à vivência africana recebiam em dicionários de língua. Ainda que o tópico seja relevante e preocupação constante de fazedores de dicionários e boas editoras, a questão da descolonização da língua não se circunscreve a esta espuma linguística e é bem mais funda.

O Brasil foi a primeira colónia a tornar-se independente, em 1822, em condições muito especiais. O processo de descolonização da língua portuguesa tem decorrido no país, mas não estará completamente concluído, segundo alguns – e.g. a norma escrita culta, especialmente a do mundo das apostilas para exames, parece estar desfasada e ainda muito dependente da norma portuguesa. Pela sua dimensão, o Brasil é hoje uma superpotência em termos de produção e edição (literária, científica, pedagógica, noticiosa, etc.), feita na sua própria variedade nacional, a variedade brasileira do português. O Brasil tem os seus próprios dicionários, gramáticas, pensamento linguístico, a sua terminologia, instituições reguladoras, investimentos na área, as suas política e planificação linguísticas mais ou menos claras. Pode fazer melhor? Pode, sim, mas a verdade é que faz muito, não depende dos demais estados de língua portuguesa e não surpreende a preponderância que tem vindo a ganhar no nosso espaço. A situação de Portugal a este nível pode ser explicada pela pequena dimensão do país, o proverbial atraso educativo que tem vindo a ser debelado nas últimas décadas, mas também pela falta de políticas e planificação linguística adequadas, pelos compromissos com a UE (e.g. a bibliometria) e, lastbutnotleast, pela mania de sermos “geneticamente poliglotas” e “falarmos bem estrangeiro”.

Foram os países africanos de língua portuguesa que tomaram a decisão de a adoptar como língua oficial (de estado, administração, ensino) e também de unidade nacional; lideranças de movimentos de libertação e elites desses países fizeram a sua formação em português, muitas em Portugal; a adopção da língua resultou, assim, em factor de discriminação entre os cidadãos desses países que a domina(va)m e os que não. Em Timor-Leste, a língua portuguesa foi entendida também como factor de identidade nacional; a sua adopção em 2002 deixou de fora os jovens que, à data, haviam sido escolarizados em língua indonésia.

50 anos após a independência dos países africanos de língua portuguesa, não sabemos exactamente quais as suas opções de política linguística e eles continuam, e.g., a não explicitar que norma de português querem adoptar, a não definir a relação do português com as línguas autóctones, a não produzir instrumentos de estandardização próprios, nem programas de ensino adequados, nem materiais didácticos, nem a formar professores suficientes. Portugal beneficia com esta “cooperação”, assim se favorecem os negócios.
Porque não são esses países ainda autónomos? Quem beneficia da situação? Será sensato pensar que Portugal descolonizará a língua portuguesa? Quem terá de o fazer? Como? Eis questões sobre as quais importa reflectir.

Margarita Correia

Professora e investigadora, coordenadora do Portal da Língua Portuguesa

 

[Transcrição integral. Cacografia brasileira traduzida automaticamente.]

Curriculum Vitae
Margarita Maria Correia Ferreira

Margarita Correia concluiu doutoramento em Linguística Portuguesa pela Universidade de Lisboa em 2000, com uma tese sobre a formação dos nomes de qualidade em português. É docente do Departamento de Linguística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 1990 e Professora Auxiliar desde 2000. Foi investigadora do Instituto Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) entre 1992 e 2014, tendo sido membro da Direcção (1999-2007 e 2008-2014), coordenadora da linha de investigação Léxico e Modelização Computacional (2007-2014), investigadora responsável (2010-2014) e presidente da direcção (2012-2014). Actualmente é investigadora integrada do CELGA-ILTEC (FLUC), unidade de I&D que resultou da fusão, em 2015, do CELGA e do ILTEC. Desenvolve actividade em Linguística Aplicada, especialmente nas áreas relacionadas com o léxico (Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Neologia, Formação de palavras) e Política linguística. Nos últimos anos tem também orientado trabalhos no domínio ensino-aprendizagem do Português Língua Estrangeira / Língua Segunda e é, desde 2029, directora do Mestrado em Português como Língua Estrangeira / Língua Segunda, da FLUL. Com José Pedro Ferreira, coordenou os projectos VOP – Vocabulário Ortográfico do Português) e Lince – Conversor para a Nova Ortografia (2010), e ainda VOP – Vocabulário Ortográfico do Português, 2.ª edição (2017). Coordenou, com José Pedro Ferreira, Gladis Maria de Barcellos Almeida e Inês Machungo, o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (CPLP e IILP, 2017). Foi, entre 2018 e 2022, presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP). Desde 2020, escreve crónicas semanais no Diário de Notícias sobre questões relacionadas com as línguas.

[Portal “Ciencia Vitae”. Cacografia corrigida automaticamente. Destaques meus.]

«Refutou muitas vezes críticas de que os seus livros não eram escritos em português propriamente dito, respondendo sempre que usava a língua portuguesa à sua maneira. O caminho para desenvolvermos a língua passa mais por cada um de nós a trabalhar com aquilo que somos e com o nosso contexto, em vez de a padronizar num acordo ortográfico?»
Paulina Chiziane: «Uma coisa é o acordo ortográfico, que tem as suas vantagens, e outra coisa é o espaço geográfico da língua portuguesa. Cada um tem a sua língua portuguesa. Eu estou em Moçambique, outro está em Timor e outro está no Brasil. Cada um fala como fala, mas um padrão de escrita sempre ajuda na comunicação, pois vai facilitar ler textos que vêm de diferentes partes do mundo. Não estou contra a padronização da grafia, não estou contra o acordo ortográfico, antes pelo contrário. Acho que toda a língua é comum. O que eu posso não estar de acordo é que um moçambicano, por exemplo, tenha de falar um português considerado padrão que vem de Coimbra ou do Porto. Eu não sou do Porto, sou de Moçambique, e mesmo dentro de Portugal a língua tem as suas variantes. Padronizar a grafia, sim, mas por muito que se exija que falemos português da mesma maneira, não acredito que isso seja possível. Devemos sempre manter dinâmica a língua.» [semanário “Novo”, 14.05.23]
[Imagem de “Whiskas saquetas” de: “ZooPlus” (um nome muito adequado ao assunto, aliás).]

‘Todo o mundo e ninguém’

«Portugal precisa de boa imigração e de investimento, do Brasil e dos países de língua portuguesa, da mesma forma que o Brasil e os outros países precisam de uma porta de entrada para um mercado europeu.»
«O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.» [José Manuel Diogo, “APBRA200”, 27.06.22] [post «Portugal, um Estado brasileiro na Europa»]

Na dita “comunidade” brasileira um país serve como capacho de entrada na Europa e de trampolim para África. A dita “mobilidade” só existe num sentido. A dita “reciprocidade” vale apenas no papel.
Todos os custos para um e todos os benefícios para o outro, eis aquilo em que consistem os sucessivos “acordos” entre Portugal e o Brasil. [post “Três mil e cem por dia”]

Brasileiros vão ter “estatuto de igualdade” digital e poder tratar do documento online: “Uma solução que é boa para todo o mundo”

O processo de digitalização “já está muito adiantado”, afirmou o secretário de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Leonardo Gorgulho, que se encontra em Lisboa para uma série de reuniões de trabalho

“Expresso”, 29.05.23

Os brasileiros residentes em Portugal vão ter um documento digital que lhes confere o estatuto de igualdade em relação aos portugueses em várias matérias e poderão tratar da documentação ‘online, garantiu hoje fonte oficial.

O processo de digitalização “já está muito adiantado”, afirmou o secretário de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Leonardo Gorgulho, que se encontra em Lisboa para uma série de reuniões de trabalho.

“Tivemos hoje uma conversa com o SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras], apresentamos a eles o documento que estamos desenvolvendo em seu formato que pretendemos seja o final (…), digital, e a receptividade foi muito boa“, referiu o diplomata.

O embaixador falava ao final da manhã no consulado-geral do Brasil na capital portuguesa, admitindo que o documento poderá estar apto naquele formato já no decurso de Junho.

“Eles estão muito satisfeitos e ficaram muito agradecidos de que a gente propicie esse tipo de alternativa“, acrescentou Leonardo Gorgulho, no encontro em que também participou o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Wladimir Valler Filho.

“Uma solução que é boa para todo o mundo. É boa para o cidadão, que vai receber em menos tempo [o cartão], é boa para o consulado, que consegue fazer o serviço e dispensa a vinda da pessoa aqui [ao consulado-geral em Lisboa] e é boa para o SEF, porque é um documento que vai ter as medidas de segurança que eles precisam que tenha”, explicou.

Segundo o responsável do Itamaraty (Ministério dos Negócios Estrangeiros), a ideia do Governo brasileiro é fazer um processo totalmente virtual dentro do e-consular (programa do consulado) com o qual as pessoas já estão familiarizadas.

“Assim como elas entram hoje no consulado para pedir passaporte e certidões entrarão no e-consular para pedir esse certificado, farão todas as etapas lá dentro, enviarão para validação e receberão um ‘e-mail’. Por esse ‘e-mail’ poderão acessar a esse documento”, especificou Leonardo Gorgulho.

O “documento vai ter um formato digital, um ‘keycode’ [código de acesso] e um ‘link’ para verificação da autenticidade. E as autoridades portuguesas através do código e do ‘link’ darão a validade necessária”, continuou.

De acordo com o responsável do Itamaraty, o Governo brasileiro espera que vá agilizar muito o processo, evitar filas e facilitar a vida das pessoas, pois não precisam de esperar agendamento no consulado para tirar o documento “e vão receber sem sair de sua casa o documento“.

No entanto, Leonardo Gorgulho alertou que se trata de “um documento só para Portugal”, acrescentando que isso demonstra a importância que o Governo brasileiro “dá à comunidade brasileira em Portugal”.

Segundo o diplomata do Itamaraty, o documento reflecte também o diálogo e a utilidade das reuniões de coordenação consular e das bilaterais regulares com Portugal ao longo dos últimos meses.

Por fim, mostra que “as soluções para os problemas podem vir de muitas formas”.

Quanto ao tempo para a entrada em vigor do processo, respondeu:”Não sei em que prazo nós vamos começar a emitir [o documento digital], mas vai ser muito em breve, não vai ser coisa de meses“.

“Estamos fazendo testes, porque isso não pode ser uma coisa leviana. Vamos fazer uma base de piloto, num ambiente controlado, mas isso tudo em etapas muito breves e próximas. A nossa ideia é que ao longo de Junho isso esteja apto”, concluiu.

[Transcrição integral. Cacografia brasileira do original corrigida automaticamente. Gráfico de: “ECO“.]

“Valor económico da língua” brasileira

“ranking” de passaportes por países em função do número de destinos

Línguas e Alfabetos: 2. Soletração

https://www.history.co.uk/history-of-ww2/code-breaking
The Enigma Machine | Image: Shutterstock

E N I G M A

O caso da língua gestual será porventura o exemplo mais ilustrativo daquilo que significa a comunicação entre seres humanos, que motivações específicas as explicam, que finalidades concretas pretendem servir e, partindo dessas motivações e finalidades, como e porquê se distinguem umas das outras.

Sempre evitando pisar os terrenos áridos da linguística e ainda que “traduzindo” quanto possível a nomenclatura técnica (de metalinguagem) envolvida, o que aqui se pretende destacar é o carácter espontâneo — e, portanto, livre — de todas as chamadas línguas naturais, do que resulta, por simples exclusão de partes, que a “língua universau” brasileira (#AO90) não passa de uma asquerosa aberração, passe a redundância.

Ainda que utilizemos para o efeito não apenas as línguas naturais como também as “artificiais”, a constatação ainda assim será a mesma: é absurdo sequer pretender tornar igual aquilo que é por natureza diferente.

https://www.magicalquote.com/movie/the-imitation-game/
«Quando as pessoas falam umas com as outras, nunca dizem o que pretendem dizer. Dizem outra coisa, mas pressupõem que os outros sabem o que elas querem dizer.»

A língua que hoje em dia é comummente utilizada no Brasil tem tanto a ver com a Língua Portuguesa como uma máquina de escrever comum em relação à Enigma, a codificadora utilizada pelas tropas alemãs na II Grande Guerra.

As teclas até podem ser iguais em ambas as máquinas, mas a escrita é diferente porque o significado do que se escreveu numa não tem absolutamente nada a ver com o que resulta na outra. Dois códigos, resultados diferentes.

E então, reza a História, para enfrentar aquele imbróglio em particular surgiu Alan Turing; a sua máquina descodificadora resolveu por fim o enigma da… Enigma. Foi por isso mesmo, segundo alguns historiadores, que os Aliados ganharam a guerra e que Adolf Hitler fez pela primeira vez um favor, isto é, deu um tiro na cabeça.

A máquina de Turing foi em simultâneo predecessora dos actuais computadores mas foi também continuadora, visto que utilizava o mesmo alfabeto da codificadora alemã (em teclado QWERTY), o qual, por seu turno, já era resultado de uma invenção patenteada em 1874 — a máquina de escrever. A linguagem cifrada do lado alemão (Enigma) era descodificada pela equipa de Turing através de determinação de ocorrências e consequente cálculo de probabilidades. Num dos muitos filmes sobre aquele período histórico, aventa-se a hipótese de a chave ter resultado do fecho de todas as mensagens: o conhecidíssimo “Heil Hitler”; significava “over&out”, portanto bastaria fazer corresponder cada uma das letras e deduzir as outras pela sua posição relativa… no alfabeto.

Esse mesmo alfabeto que naquela época, como de resto ainda hoje sucede, obedecia à tabela de comunicações que viria ser oficializada pela Organização Internacional de Aviação Civil.

ICAO – Alfabeto Radiotelefónico

https://unitingaviation.com/news/general-interest/youve-heard-alfa-bravo-charlie-but-do-you-know-where-it-came-from/

ICAO – International Civil Aviation Organization

The ICAO phonetic alphabeth as assigned the 26 code words to the 26 letters of the English alphabet in alphabetical order: Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Echo, Foxtrot, Golf, Hotel, India, Juliett, Kilo, Lima, Mike, November, Oscar, Papa, Quebec, Romeo, Sierra, Tango, Uniform, Victor, Whiskey, X-ray, Yankee, Zulu. [Google]

Podemos dizer que, este sim, é o alfabeto de comunicações via rádio utilizado tanto pelos tripulantes portugueses como pelos brasileiros, estejam eles a bordo de um avião, de um navio ou até de uma nave espacial. Pois, pudera, a língua de telecomunicações (como sucede na informática ou na Internet) é o Inglês, não é nem o Mandarim nem o Hindi — apesar de a Índia e a China terem “muitos mais milhões” do que USA, UK e Commonwealth somados — e muito menos é o brasileiro, por mais que julguem alguns tugas que aquilo é que é um gigantone que só visto.

São imensas e muitíssimo diversificadas as aplicações do alfabeto fonético internacional, desde as militares (na NATO, por exemplo) às de comunicações via rádio, incluindo as dos Radioamadores, vulgo “macanudos”, e ainda, em algumas zonas fora de zonas “digitais”, nas comunicações por telefone convencional.

Das duas variantes nacionais do alfabeto da ICAO devemos destacar a utilizada em meios e para fins civis.

Continue reading “Línguas e Alfabetos: 2. Soletração”

SPA – Dia do Autor português em Português



A Sociedade Portuguesa de autores não assume posição pública sobre a questão do Acordo Ortográfico porque entre os seus mais de 26 000 associados há autores que lhe são favoráveis e autores que liminarmente o renegam por o considerarem errado e totalmente desligado da realidade linguística lusófona. No entanto, a SPA considera que este assunto foi erradamente conduzido pelos vários Estados lusófonos, com destaque para o português que não efectuou qualquer consulta às entidades que legitimamente se poderiam ter pronunciado sobre o assunto, designadamente a própria SPA, o Pen Clube e a Associação Portuguesa de Escritores, entre outros. Só por este motivo a SPA sempre se considerou excluída deste debate e de qualquer escrutínio que envolvesse o assunto. Apesar disso, a SPA promoveu em Janeiro de 2013, um acto de consulta aos seus associados, que representam todas as disciplinas criativas que a instituição abarca e obteve o seguinte expressivo resultado: 145 autores manifestaram-se contra o Acordo Ortográfico e 23 a favor. Legitimado por esta votação, o Conselho de Administração da SPA decidiu que o Acordo Ortográfico nunca seria respeitado na regular produção de textos da instituição, que continuou a reger-se pela norma antiga, sem qualquer abertura às novas regras que poderiam decorrer da vigência do Acordo Ortográfico. Agindo desta forma, a SPA respeita e honra a vontade da significativa maioria dos que se pronunciaram. Entretanto a evolução deste assunto na comunidade lusófona veio demonstrar que não existe margem para outra forma de procedimento e que foram os próprios países que têm português como língua oficial que se encarregam de neutralizar o Acordo Ortográfico e de o excluir da nossa realidade linguística e comunicacional, não obstante as formas de obrigatoriedade geradas pelo sector editorial, sobretudo em relação ao livro escolar e infanto-juvenil, que deverão ser respeitadas sempre que os autores as aceitem.

Nos restantes casos, o Acordo Ortográfico é respeitado e levado à prática sempre que a vontade dos autores se manifeste nesse sentido, enquanto se aguarda que o assunto seja definitivamente encerrado ao nível das relações entre Estados, envolvendo necessariamente países como Angola e Brasil, para além de Portugal, devido à sua dimensão demográfica e à sua expressão cultural internacional. Só se deve pôr de acordo aquilo que justifica e legitima esse acordo. A SPA continua, nos seus documentos, a não se reger por um acordo que mostrou ser insustentável.

José Jorge Letria
(Presidente da Direcção)

Artigo publicado na 1º edição da “Sem Equívocos”.