«Defending a country’s identity» [Cátia Cassiano, “Updated Words”]

Defending a country’s identity

Cátia Cassiano
“UpdatedWords” (Australia), 9 May , 2023

Defending a Country’s Identity it’s the duty of its citizens and its governments who are elected to defend and represent their country abroad. That identity is shown by the country’s culture, its traditions, its food, and the language is how those identity traits are communicated to others. Without a language, there is no culture, and without culture, there is no country.

Languages are complex beings I would say. They can be spoken in different parts of the world and they develop their own intricacies that represent that part of the world. They form variants and they share the same core rules and vocabulary, but they create their own, which is a product of a different evolution and cultural influence. This is a reality for many languages like English, Spanish, Portuguese, and others. Most countries understand this and respect those differences since they only enrich the language itself by creating diversity and culture. Unfortunately, the Portuguese government does not and that is hurting the country’s language, culture, and identity.

Incompetenty, disrespect, and contempt

In 2009, the then-Portuguese Government approved the New Orthographic Agreement of the Portuguese Language 1990 (AO90). According to them, it was aimed to “unify” the language and simplify things. There was no consultation on the matter and linguists were appalled by such an idea. The problem is that the government is imposing a change to the variant spoken in Portugal, which does not reflect the country’s culture or natural evolution. Some say they imposed the Brazilian variant on the Portuguese, the reason for such claims is that the majority of changes favour the Brazilian variant over the European variant. This is rather unnatural for the Portuguese and that is the reason causing such revolt. But let’s make it clear, this is not a war between Portuguese and Brazilians, both Portuguese and Brazilians are against it. This is a fight against a bunch of politicians who know nothing about languages and their evolution and use them as a tool for their corrupt endeavours.

The government is democratically elected to protect, defend, represent, and run the country. The Portuguese Government has done none of the above. They never represented the country or its interests, they certainly did not defend it and as per running the country, you just look at the economy and make your own conclusions. In my view, they are incompetent to run the country, they disrespect its customs and culture and they treat its citizens with contempt and that is why people have revolted against them.

The citizens’ revolt

Portuguese citizens from all walks of life spoke out about this appalling change. Those who create it don’t even know how to apply it and if you look at the Diary of the Republic, which is the official document where all government proceedings and Laws are registered, you will find a mix of rules, which make it even more confusing to read and understand. The children are learning a language they don’t identify with and this is the reality of a country with centuries of history and culture.

A group of Citizens joined forces and signed a Citizens’ Legislative Initiative (Iniciativa Legistativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico – ILCAO) with thousands of signatures proposing the annulment of this absurd. It wasn’t passed. But we won’t give up. Ms. Isabel Ferreira, the author of the blog “O Lugar da Língua Portuguesa” (The Portuguese Language Place), has written an Appeal to the Portuguese President, Marcelo Rebelo de Sousa, explaining why this absurd must be abolished. Again, we all stepped in and sign up. I was one of those who have proudly participated in both initiatives and I will continue to do so until we have justice. If you want to join us, please, follow the link and send Ms. Ferreira an email with your name and profession. You must be a Portuguese Citizen. Let’s fight for what’s right, let’s fight for this culture, these people, and their language.

Cátia Cassiano

[Transcrição integral. Destaques meus. Acrescentei imagens e “links” (a verde),
sendo de minha autoria os extractos e/ou comentários apensos.]

[tradução automática]

Defender a identidade de um país

Cátia Cassiano
“UpdatedWords” (Australia), 9 May , 2023

Defender a identidade de um país é um dever dos cidadãos e dos governos eleitos defender e representar o seu país no estrangeiro. Essa identidade manifesta-se na cultura do país, nas suas tradições, na sua gastronomia, e a língua é a forma como esses traços de identidade são comunicados aos outros. Sem língua, não há cultura e, sem cultura, não há país.

As línguas são seres complexos, diria eu. Podem ser faladas em diferentes partes do mundo e desenvolvem as suas próprias complexidades que representam essa parte do mundo. Formam variantes e partilham as mesmas regras e o mesmo vocabulário, mas criam o seu próprio, que é o produto de uma evolução e de uma influência cultural diferentes. Esta é uma realidade para muitas línguas como o inglês, o espanhol, o português e outras. A maioria dos países compreende este facto e respeita essas diferenças, uma vez que elas apenas enriquecem a própria língua, criando diversidade e cultura. Infelizmente, o governo português não o faz e isso está a prejudicar a língua, a cultura e a identidade do país.

Incompetência, desrespeito e desprezo

Em 2009, o então Governo português aprovou o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90). Segundo eles, o objectivo era “unificar” a língua e simplificar as coisas. Não houve qualquer consulta sobre o assunto e os linguistas ficaram chocados com tal ideia. O problema é que o governo está a impor uma mudança na variante falada em Portugal, que não reflecte a cultura nem a evolução natural do país. Há quem diga que impuseram a variante brasileira aos portugueses, a razão para tais afirmações é que a maioria das mudanças favorece a variante brasileira em detrimento da variante europeia. Isto não é natural para os portugueses e é essa a razão da revolta. Mas vamos deixar claro, esta não é uma guerra entre portugueses e brasileiros, tanto portugueses como brasileiros estão contra. Trata-se de uma luta contra um bando de políticos que não sabem nada sobre as línguas e a sua evolução e que as usam como um instrumento para os seus projectos corruptos. Continue reading “«Defending a country’s identity» [Cátia Cassiano, “Updated Words”]”

«Descolonizar a língua portuguesa» [JPT, “Nenhures”]

Descolonizar a língua portuguesa

Os prémios literários têm o valor que se lhe decide dar. Derivam em parte dos regulamentos e objectivos das instituições que os atribuem, estas de pequeno porte (órgãos autárquicos, fundações menores), nacionais ou até globais (o Nobel é caso máximo). E nisso também das composições sociológicas e ideológicas dos júris que os seleccionam. Tudo isso é muito esquecido e o público tende a dar-lhes um valor como se absoluto, um estatuto “objectivo”. Mas os prémios têm outras funções – para além de salvaguardarem os tais objectivos dos seus financiadores – e nisso são positivos: chamam a atenção dos leitores, que depois logo seguem ou não tais recomendações. E remuneram económica, estatutária e, se calhar o mais importante, afectivamente os escritores. Dito isto, valem o que valem…

O Camões também, e por maioria de razão. É um prémio político – instaurado como uma vertente da sedimentação da tal “comunidade de sentimentos” assente na língua, já gizada no Estado Novo do salazarismo de 1960s. Uma das hastes no domínio da “língua e cultura”, nos anos da sua instauração ombreando com esse rumo do republicanismo (maçónico) colonialista que desembocou no Acordo Ortográfico. Mas é também um prémio político dada a sua metodologia, essa consuetudinária alternância anual entre premiado português e brasileiro, de quando em quando polvilhada de um africano. Vertente política – associada à da influência da sociologia das academias – escarrapachada aquando da recusa de jurados da direita brasileira em premiarem Jorge Amado, tendo escolhido outro brasileiro. Coisa restaurada no ano subsequente, já com outros jurados brasileiros aceitando premiar Amado e nisso quebrando-se, afinal pois política oblige, o mandamento político da tal alternância.

Pouco me importa isso: desde que um autor de uma obra única, multifacetada, riquíssima, excêntrica, cosmopolita como Ruy Duarte de Carvalho morreu sem ter ganho o prémio – apesar de autores da reduzida dimensão de Luandino Vieira ou Pepetela terem antes sido premiados – deixei de dar algum crédito ao que os pequenos júris (dois portugueses, dois brasileiros, dois “africanos”) faziam nas suas escolhas. Claro que rejubilei com a atribuição a Raduan Nassar, claro que me ri do meu Portugal geringôncico quando da premiação à “literatura de combate” de Manuel Alegre. Isto porque os tais jurados (já conheci alguns, amigos mesmo) premeiam quem lhes “apetece”. Como referi a questão identitária sempre foi a fundamental – a nacional. Agora introduziram-se outras: o sexo, a raça (a “etnia”, como escreve um conhecido colunista do jornal de referência “Expresso”).

Essa trindade identitária impulsionou o prémio dado a Paulina Chiziane, o qual foi também ancorado por critérios quantitativos – o júri sustentou a sua decisão devido a que a autora é “muito estudada nas universidades”. Entenda-se, Chiziane é muito investigada nas universidades brasileiras pois essas suas características identitárias são apelativas às tensões político-ideológicas vigentes naquele país. Não se trata de discutir o interesse de Chiziane sob um ponto de vista de cânone literário (instrumento que estes “pensamentos abissais” actuais reduzem a qualquer coisa como “epistemicídio”), nem tão pouco de remeter a relevância dos seus textos para uma dimensão documental sobre a sociedade moçambicana. Trata-se de, pura e simplesmente, consagrar as tais identidades: nacional, sexual, racial. Justificando-se o júri de académicos feito, e repito-me, por critérios quantitativos…

Insisto, tudo bem. O “Camões” é o que é, vale o que vale, mero instrumento político. Qual a razão de sufragarmos as atribuições por critérios nacionais e não por outros? E com toda a certeza que não depende do meu gosto pessoal – aliás o meu “gosto” seria lapidado por quaisquer antagonistas, pois reduzido a reflexo imediato (pavloviano até) das minhas vis características identitárias (branco, português, ocidental, homem, heterossexual. E, quem sabe até, reaccionário).

No meu país as pessoas louvam, dadas que são ao fetichismo identitário – que aliás julgam ser sinónimo de posicionamento político. Mesmo que não a tenham lido – ficção e, já agora, os textos “ensaísticos”… Por isso Paulina Chiziane vai agora a Portugal receber o Prémio e faz um discurso a clamar pela “descolonização da língua portuguesa”. E lá está a esquerdalhada a bater palmas – até a minha família literata publica “Obrigado, Paulina Chiziane!”, comovida com a indigência.

A problemática é simples. Essa expressão de Chiziane convoca duas temáticas em voga, que a tal esquerdalhada adora: a necessidade da purificação da língua (o “cancelamento”, por assim dizer), a afirmação de que Portugal é tal e qual um império colonial (“um país racista que não se descolonizou”). Chiziane diz, o pessoal do “Público” e do “Jornal de Letras” comove-se, solidário, e escreve entre aplausos “Obrigado, Paulina Chiziane!”.

Escola primária em Tofo, Moçambique [“link” origem da imagem]
Volto um quarto de século atrás, quando até trabalhava na área, mas agora com menos pertinência pois as coisas mudaram um pouco: não é a língua portuguesa que tem de ser expurgada, até porque ela vem tomando rumos diversos consoante os contextos linguísticos nos quais vem sendo usada. O que poderia mudar são as práticas linguísticas portuguesas (e outras). As práticas linguísticas não são a “fala”, são as práticas de quem trabalha na área. Como defendia eu no final de XX quando trabalhava no país de Paulina Chiziane, o que Portugal (esse onde os esquerdalhos agora bramem “obrigado”) deveria fazer como política linguística tinha três dimensões: 1) deixar de andar a passear embaixadas de literatos – escritores bons, medianos, medíocres, académicos e jornalistas culturais sufragados pelo “Jornal de Letras”, ou seja, gente do PS e do PC – e desdobrar-se em apoios à rede de Institutos de Magistério Primário então criados com financiamento do Banco Mundial; 2) apoiar projectos de fixação das línguas nacionais – mesmo que estas práticas sejam violentadoras das diversidades internas a cada continuidade linguística (e sobre isso é sempre de voltar aos magníficos textos de Patrick Harries sobre o Sul de Moçambique) – nisso dinamizando as áreas de estudos linguísticos no nosso país, sempre hiper-deficitários à excepção de alguns trabalhos de missionários ao longo dos séculos; 3) apoiar fortemente as políticas de ensino em línguas nacionais, valorizando o bilinguismo e combatendo o glotocídio. Usando assim o português, seu ensino e sua prática, como língua de civilização – de cultura abrangente, tenho que traduzir o termo para os patetas esquerdalhos.Enfim, um quarto de século depois as situações mudaram, os países africanos serão menos dependentes em recursos humanos e económicos para estas questões. Mas de qualquer forma pensar dentro deste eixo é apelar ao desenvolvimento dos estudos linguísticos, das “práticas linguísticas” no seio dos países de língua portuguesa. Não é andar a surfar a indigente moda “revolucionária” de apontar ao nosso país “escravocrata”, “racista“, “por descolonizar”, a ter de expurgar a sua língua, de “cancelar” termos.Mas a mediocridade não está apenas nos que aplaudem isto. Está também no texto da premiada, atrevido porque infudamentado. A rapaziada da capital pode aplaudir e agradecer mas Chiziane foi a Lisboa mandar “bocas”. Num discurso preguiçoso e sobranceiro, provocatório. Quer ela limpar a língua portuguesa – não a que se fala alhures, mas a que está nos dicionários portugueses. Atira ao ar meia dúzia de palavras, que têm semânticas históricas como é óbvio. Mas basta ir à internet (eu estou longe de casa e dos meus dicionários). Os dicionários actuais não são os de 1923 nem de 1953, as palavras surgem com outros conteúdos (e sim, os melhores dicionários devem ser históricos mas nem todos o terão de ser…). Ou seja, Chiziane ou só tem dicionários velhos ou, pura e simplesmente, foi receber o maior prémio da sua carreira (ela em 1998 dizia a Saramago que queria ganhar o Nobel, mas ainda não o conseguiu) com um discurso que nem sequer fundamentou bibliograficamente, as tais meras “bocas”.Mas há um pormenor final que muito se casa com a “aceitação” do discurso literário de Chiziane, esse apreço de folclorismo alimentado. Entre várias palavras “coloniais” que encontra nos dicionários (portugueses) e que representam a perenidade colonial, a autora clama contra a desvalorização do “matriarcado”, que reclama ser valorizável por ser existente no Norte de Moçambique. Há muito medíocre que invectiva quem fala de “ideologia de género”, dizendo que os que a isso se referem são “reaccionários”, “conservadores” ou quejandos. Mas um dos traços que caracteriza a tal “ideologia de género” é exactamente a recuperação ideológica do mito do “matriarcado”. De facto, o que existe em Moçambique grosso modo a Norte do Zambeze são sociedades com opções matrilineares – relações de parentesco privilegiadas com o lado materno, sucessão de postos e práticas de herança preferenciais por via uterina. E muitas vezes com formas de casamentos tendencialmente matrilocais (os noivos formam a nova casa junto da família da noiva).Dentro de correntes feministas radicais estas opções sociais vêm sendo ditas “matriarcado” (o poder das mulheres), vistas como virtuosas. Uma mistificação recuperando o velho mito das sociedades sobre poder das mulheres (as Amazonas, o recente Astérix entre os Citas, etc.), apresentado de modo algo matizado. Ora Chiziane nem sequer vem alimentada por esse histriónico feminismo académico, pois desde sempre confundiu na sua ficção a matrilinearidade/matrilocalidade com o tal “matriarcado”, um mero caso de ignorância antropológica – algo que muito potencia o apreço que lhe têm as tais “universidades”, de radicalismos identitaristas alimentadas, as quais se tornam, afinal, critério quantitativo de premiação literária. E agora vem-nos dizer “coloniais” ou “colonialistas” porque aprendemos a destrinçar as realidades.E tu, Patrícia, aplaudes isto, agradeces. Para quê?!

[Transcrição integral de artigo, da autoria de José Pimentel Teixeira, publicado no blog “Nenhures” (estan.blogs.sapo.pt) em 08.05.23. Destaques meus. Acrescentei imagens e “links”, sendo os extractos apensos de minha autoria.]

“Agitprop” anti-AO90 (fotos)

Língua Portuguesa
Angola Cabo Verde Guiné-Bissau Macau Moçambique Portugal São Tomé e Príncipe Timor-Leste


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No comment (em tuguês, xarepe)

Variando um pouco, em vez de notícias, conteúdos ou artigos sobre o #AO90, a matéria que hoje aqui reproduzo é uma selecção de comentários a um post sobre a Língua… inglesa. Esta excepção à regra justifica-se não apenas porque os textos do jornalista Pedro Correia, pelo menos aqueles que publica no blogDelito de Opinião“, costumam suscitar alguma febre comentadeira, mas também porque, ou principalmente porque, no caso deste post em concreto, o tema remete para algo que já aqui foi escalpelizado (e devidamente esfolado, espero) por diversas vezes: o purismo linguístico.

Ou seja, aquilo a que o blogger Pedro Correia se refere, aliás fazendo eco de uma corrente de “opinião” cada vez mais grossa — literalmente — e cada vez mais incompreensível, dado ser fundamentalista nos argumentos — basicamente –, é o dever patriótico de verter para Português os estrangeirismos “em geral” e, de entre estes, com particular vigor (ou sanha), os anglicismos.

Trocando em miúdos a provavelmente excessiva adjectivação, trata-se da aborrecidíssima premissa que postula (é favor não confundir, se bem que o tema se preste a inúmeros equívocos, a forma verbal “postula” com  o substantivo “pústula”)  — liquidar aquelas mais do que malévolas expressões idiomáticas inventadas pelo Mafarrico yankee, tais como “hardware” e “software” e “upload” e “download” e assim (não, “assim” não é um dos pecados cámones),  trocando-as pelos respectivos “equivalentes” em Português. Alguns desses puristas diriam “destrocando-as” ou até, quem sabe, “destrocando-zi-as”, mas, faz de conta, ‘isso agora não interessa nada’.

Como também não interessa, pelos vistos[1], que não seja o Inglês, que se impõe naturalmente, porque é a língua franca da actualidade, mas sim o brasileiro, um crioulo de origem portuguesa que se afastou irremediavelmente da sua matriz, a língua que alguns brasileiros “adotivos” tentam impor violentamente a todos os portugueses.

Os “puristas” ralam-se imenso com estrangeirismos, mas pouco ou nada com “usuários” a “subir” e a “baixar”; adoram levar com “futchibóu em gérau” mas ficam furibundos até com sinais de trânsito (o sinal de “stop” deve passar a “párá” em brasileiro, “ô cara”?).

Não confundamos, não pelo menos assim tanto, à portuguesa, alhos com bugalhos: uma coisa é o exagero e o que isso comporta de absurdo (ou de risível), e outra coisa bem diferente, radicalmente diferente, é a eficácia na comunicação, a utilidade — caso a tenha, de facto — do termo ou da expressão original, quantas vezes intraduzível, quantas vezes insubstituível, ou na língua franca ou em qualquer outra; um idiota a armar aos cucos, tentando impressionar (ó patego, olh’ó balão) quem imagina que irá ficar tanto mais impressionado quanto mais ele usar bacoradas em “estrangeiro”, não tem nada a ver com a naturalidade no discurso,  com a fluidez e até com o encadeamento de ideias e o rigor da argumentação que anglicismos (ou francesismos, ou espanholismos ou umbundismos ou quimbundismos) podem facultar, se utilizados com alguma parcimónia e um módico de sensatez.

É o que se passa, aliás, nos diversos níveis da linguagem. Da gíria ao calão, passando pelas linguagens técnicas (informática, médica, farmacêutica, arquitectónica, gráfica) ou artísticas (poética, literária, pictórica, musical), existe todo um universo de planetas linguísticos, cada um deles com sua atmosfera e seus relevos, suas matas e seus desertos, seus mares e continentes, até com o próprio  Sol e satélites únicos…

O pretensiosismo de alguns cretinos merece, quando muito, se não algumas gargalhadas, a mais soturna indiferença. Confundir o que dizem uns tipos armados em carapaus de corrida com a Língua Portuguesa (ou a inglesa, ou a francesa, ou a servo-croata) é não apenas (igualmente) pretensioso, como não comporta qualquer tipo de mérito ou, de resto, seja o que for de válido — muito menos de um ponto de vista meramente linguístico.

Aliás, esta espécie de militância desviante (e enviesada) pelo purismo fanático acaba por ser contraproducente: enquanto alguns se entretêm com suas divagações algo onanistas, retiram enfoque àquilo que verdadeira e exclusivamente está em causa. Desviam as atenções, desmobilizam vontades, inutilizam trabalho, diminuem, reduzem e amesquinham — a troco de nada — a luta contra o único (e real) estrangeirismo que merece combate: o extermínio da Língua Portuguesa pela imposição de uma língua alienígena.

Comentários

Em Portugal dever-se-ia falar português, pelo menos nas nossa instituições. Esta senhora está há tanto tempo em Portugal a ser paga principescamente, deveria ter aulas para falar português e não francês, inglês ou outra língua.
A língua portuguesa é uma das línguas oficiais da UE, e é a mais falada, ou uma das mais faladas no mundo, no continente europeu, americano e africano. [Maria Teresa – ]

Estivesse a senhora em Madrid e ao fim do primeiro mês já “hablava” castelhano. Nós, por cá, somos assim.
Se valorizamos tão pouco a nossa língua e dobramos a cerviz a qualquer estrangeiro, como havemos de exigir que a administradora da “empresa aérea de bandeira” portuguesa fale… português? [Pedro Correia –  ]

Concordo. Mas eu passo-me com os estrangeirismos ( digo) palavras inglesas que se lêem e são usados na linguagem verbal, quando temos um vocabulário riquíssimo e que devia ser usado.  [Maria Araújo – ]

A última moda (já com uns bons anitos) na empresa onde trabalho é recebermos correspondência em inglês de escritórios brasileiros. E, pior ainda, respondemos-lhes também em inglês. Há uns anos, a administração ainda se ralava vagamente com isso, e havia indicação para se responder em português (tal como para os nossos vizinhos espanhóis que nos escreviam em castelhano). Hoje em dia já não ligam, e segue tudo em inglês. É o cúmulo do deixa andar. Em contrapartida, para certos clientes franceses que nos escrevem em inglês, respondemos em francês. Não tenho nada contra, mas a falta de coerência é gritante.
E sim, a hegemonia do inglês americano é geral e irreversível. Infelizmente, o que ajuda à comunicação por um lado, prejudica na aprendizagem e no uso das línguas nacionais pelo outro. Não sou purista, mas esta falta de amor pela língua-mãe (que se nota e agrava cada vez mais, e não só em Portugal, como é óbvio) é triste. No mínimo. [Ana CB – link]

Nem fazia ideia disso, Ana. Brasileiros e portugueses a comunicarem em… “amaricano”.
Mas já quase nada me surpreende. [Pedro Correia –  ]

Nem o Pedro calcula a quantidade de brasileiros que nos perguntam ” Fala portugueis?”. Apetece dar uma resposta torta do género ” Eu falo, mas você não.”  [Maria Dulce Fernandes–  ]
O declínio das outras línguas preocupa-me pouco ou nada, já o declínio da nossa língua (escrita e falada) é gritante. A maior pérola que “apanhei” foi ter enviado um contrato para o Brasil escrito na nossa língua de Camões e para o mesmo ser aceite lá, teve que ser traduzido com certificação, de Português para Português?!! Tudo isto após acordo ortográfico!  [Anónimo – ]
Isso não me espanta. Afinal o “acordo ortográfico” não é Português…!  [Zé Nabo – link]

Continue reading “No comment (em tuguês, xarepe)”

Os assimilados do 28.º

assimilation, in anthropology and sociology, the process whereby individuals or groups of differing ethnic heritage are absorbed into the dominant culture of a society. The process of assimilating involves taking on the traits of the dominant culture to such a degree that the assimilating group becomes socially indistinguishable from other members of the society. As such, assimilation is the most extreme form of acculturation. Although assimilation may be compelled through force or undertaken voluntarily, it is rare for a minority group to replace its previous cultural practices completely; religion, food preferences, proxemics (e.g., the physical distance between people in a given social situation), and aesthetics are among the characteristics that tend to be most resistant to change. [Britannica]

O indivíduo que assina os dois textos cujas transcrições se seguem é portador de passaporte de cidadão português mas escreve, tanto no seu blog pessoal como no jornalzuca “Folha de S. Paulo”, numa mistura de cacografia brasileira — em construções frásicas características do Português — com a mais retinta língua brasileira, em todo o “esplendor” da respectiva anarquia gramatical. Por conseguinte, para que se possa aferir da medida do fenómeno de  aculturação a que voluntária e alegremente não apenas o dito indivíduo como alguns outros tugas aderiram, tive o cuidado de desligar o conversor automático antes de, se bem com imenso embaraço e constrangimento, transcrever semelhantes obscenidades anti-vernaculares com igual lastro de pura estupidez.

Este Seu Manoéu, já anteriormente aqui citado, não apenas faz gala da sua “identidade” brasileira como tem por modo de vida impingir entusiasticamente ao tugazinho — que sem qualquer disfarce evidentemente despreza —  a putativa bondade das pretensões tardo-neo-colonialistas do Itamarati e as ainda mais putativas virtudes dos números circenses em que ele próprio se especializou, como vergar a coluna até ao chão, limpar com a língua (aniquilando a Língua) o chão que eles literalmente pisam e fazer vénias infinitas aos “caras”.

Como desfecho do transcrito desfile de imbecilidades “puxa-saquistas”, surge a gravação de uma entrevista deste e de outro brasileiro à SICN. Realmente, trata-se de uma sequência linear: o Manoéu diz no primeiro texto que teve uma conversa com um gajo qualquer sobre a “terrinha”, daí salta para explicar a converseta, urbi et orbi, no pasquimzuca do costume, e por fim o mesmo Manoéu e o tal gajo qualquer (“gajo” em brasileiro é “cara”) são ambos, por mera coincidência, entrevistados por um canal de desinformação brasileirista da tugalândia.

Dessa suposta “entrevista” — pura e dura sessão de propaganda, é claro — ressaltam algumas frases lapidares que ilustram perfeitamente o facto de o processo de colonização inversa estar em curso e que métodos de intoxicação da opinião pública têm sido sistematicamente utlizados pelos media a soldo dos neo-imperialistas.

Tudo dito? Se calhar não. Ficaram desta vez claras, finalmente, as intenções daquela gente? Provavelmente não. E as técnicas de anestesia geral, o papel dos órgãos de intoxicação social, dos “opinion makers”, dos infiltrados, vendidos e traidores? Entendido? Parece que ainda não. 

A inércia, a apatia, o embotamento, a indiferença? Nada? Nem assim?

Bom, será então necessário fazer um desenho. Mais um. Ou vários.

Não faz sentido pensar na promoção do Brasil no exterior sem considerar Portugal

JM-Diogo
Post published: Dezembro 21, 2022
blog “O homem de lá e de cá”

Em uma conversa política e viva com o Paulo Dalla Nora, falávamos sobre a imagem externa do Brasil. Entre os lagostins e a paçoca de amêndoa tentávamos compreender melhor as oportunidades em esta “nova era” de relacionamento entre Portugal e o Brasil.

Será que o governo brasileiro está olhando em todas as possibilidades? Será que já pensou no que fazer com este seu “novo estado brasileiro na Europa“? Portugal fará parte da cabeça da estratégia de promoção da imagem internacional do Brasil?

Quando chegou a sobremesa, depois do vinho do Dão, o Paulo dizia que não fazia nenhum sentido o BNDES estar em Londres — ainda por causa do Brexit, mas que ainda era menos razoável ter agência de promoção externa do Brasil – a APEX – agarrada às burocracias de Bruxelas.

Pensei que a melhor coisa era escrever sobre isso na Folha de S. Paulo.

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