‘Todo o mundo e ninguém’

«Portugal precisa de boa imigração e de investimento, do Brasil e dos países de língua portuguesa, da mesma forma que o Brasil e os outros países precisam de uma porta de entrada para um mercado europeu.»
«O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.» [José Manuel Diogo, “APBRA200”, 27.06.22] [post «Portugal, um Estado brasileiro na Europa»]

Na dita “comunidade” brasileira um país serve como capacho de entrada na Europa e de trampolim para África. A dita “mobilidade” só existe num sentido. A dita “reciprocidade” vale apenas no papel.
Todos os custos para um e todos os benefícios para o outro, eis aquilo em que consistem os sucessivos “acordos” entre Portugal e o Brasil. [post “Três mil e cem por dia”]

Brasileiros vão ter “estatuto de igualdade” digital e poder tratar do documento online: “Uma solução que é boa para todo o mundo”

O processo de digitalização “já está muito adiantado”, afirmou o secretário de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Leonardo Gorgulho, que se encontra em Lisboa para uma série de reuniões de trabalho

“Expresso”, 29.05.23

Os brasileiros residentes em Portugal vão ter um documento digital que lhes confere o estatuto de igualdade em relação aos portugueses em várias matérias e poderão tratar da documentação ‘online, garantiu hoje fonte oficial.

O processo de digitalização “já está muito adiantado”, afirmou o secretário de Comunidades Brasileiras e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Leonardo Gorgulho, que se encontra em Lisboa para uma série de reuniões de trabalho.

“Tivemos hoje uma conversa com o SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras], apresentamos a eles o documento que estamos desenvolvendo em seu formato que pretendemos seja o final (…), digital, e a receptividade foi muito boa“, referiu o diplomata.

O embaixador falava ao final da manhã no consulado-geral do Brasil na capital portuguesa, admitindo que o documento poderá estar apto naquele formato já no decurso de Junho.

“Eles estão muito satisfeitos e ficaram muito agradecidos de que a gente propicie esse tipo de alternativa“, acrescentou Leonardo Gorgulho, no encontro em que também participou o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Wladimir Valler Filho.

“Uma solução que é boa para todo o mundo. É boa para o cidadão, que vai receber em menos tempo [o cartão], é boa para o consulado, que consegue fazer o serviço e dispensa a vinda da pessoa aqui [ao consulado-geral em Lisboa] e é boa para o SEF, porque é um documento que vai ter as medidas de segurança que eles precisam que tenha”, explicou.

Segundo o responsável do Itamaraty (Ministério dos Negócios Estrangeiros), a ideia do Governo brasileiro é fazer um processo totalmente virtual dentro do e-consular (programa do consulado) com o qual as pessoas já estão familiarizadas.

“Assim como elas entram hoje no consulado para pedir passaporte e certidões entrarão no e-consular para pedir esse certificado, farão todas as etapas lá dentro, enviarão para validação e receberão um ‘e-mail’. Por esse ‘e-mail’ poderão acessar a esse documento”, especificou Leonardo Gorgulho.

O “documento vai ter um formato digital, um ‘keycode’ [código de acesso] e um ‘link’ para verificação da autenticidade. E as autoridades portuguesas através do código e do ‘link’ darão a validade necessária”, continuou.

De acordo com o responsável do Itamaraty, o Governo brasileiro espera que vá agilizar muito o processo, evitar filas e facilitar a vida das pessoas, pois não precisam de esperar agendamento no consulado para tirar o documento “e vão receber sem sair de sua casa o documento“.

No entanto, Leonardo Gorgulho alertou que se trata de “um documento só para Portugal”, acrescentando que isso demonstra a importância que o Governo brasileiro “dá à comunidade brasileira em Portugal”.

Segundo o diplomata do Itamaraty, o documento reflecte também o diálogo e a utilidade das reuniões de coordenação consular e das bilaterais regulares com Portugal ao longo dos últimos meses.

Por fim, mostra que “as soluções para os problemas podem vir de muitas formas”.

Quanto ao tempo para a entrada em vigor do processo, respondeu:”Não sei em que prazo nós vamos começar a emitir [o documento digital], mas vai ser muito em breve, não vai ser coisa de meses“.

“Estamos fazendo testes, porque isso não pode ser uma coisa leviana. Vamos fazer uma base de piloto, num ambiente controlado, mas isso tudo em etapas muito breves e próximas. A nossa ideia é que ao longo de Junho isso esteja apto”, concluiu.

[Transcrição integral. Cacografia brasileira do original corrigida automaticamente. Gráfico de: “ECO“.]

“Valor económico da língua” brasileira

“ranking” de passaportes por países em função do número de destinos

SPA – Dia do Autor português em Português



A Sociedade Portuguesa de autores não assume posição pública sobre a questão do Acordo Ortográfico porque entre os seus mais de 26 000 associados há autores que lhe são favoráveis e autores que liminarmente o renegam por o considerarem errado e totalmente desligado da realidade linguística lusófona. No entanto, a SPA considera que este assunto foi erradamente conduzido pelos vários Estados lusófonos, com destaque para o português que não efectuou qualquer consulta às entidades que legitimamente se poderiam ter pronunciado sobre o assunto, designadamente a própria SPA, o Pen Clube e a Associação Portuguesa de Escritores, entre outros. Só por este motivo a SPA sempre se considerou excluída deste debate e de qualquer escrutínio que envolvesse o assunto. Apesar disso, a SPA promoveu em Janeiro de 2013, um acto de consulta aos seus associados, que representam todas as disciplinas criativas que a instituição abarca e obteve o seguinte expressivo resultado: 145 autores manifestaram-se contra o Acordo Ortográfico e 23 a favor. Legitimado por esta votação, o Conselho de Administração da SPA decidiu que o Acordo Ortográfico nunca seria respeitado na regular produção de textos da instituição, que continuou a reger-se pela norma antiga, sem qualquer abertura às novas regras que poderiam decorrer da vigência do Acordo Ortográfico. Agindo desta forma, a SPA respeita e honra a vontade da significativa maioria dos que se pronunciaram. Entretanto a evolução deste assunto na comunidade lusófona veio demonstrar que não existe margem para outra forma de procedimento e que foram os próprios países que têm português como língua oficial que se encarregam de neutralizar o Acordo Ortográfico e de o excluir da nossa realidade linguística e comunicacional, não obstante as formas de obrigatoriedade geradas pelo sector editorial, sobretudo em relação ao livro escolar e infanto-juvenil, que deverão ser respeitadas sempre que os autores as aceitem.

Nos restantes casos, o Acordo Ortográfico é respeitado e levado à prática sempre que a vontade dos autores se manifeste nesse sentido, enquanto se aguarda que o assunto seja definitivamente encerrado ao nível das relações entre Estados, envolvendo necessariamente países como Angola e Brasil, para além de Portugal, devido à sua dimensão demográfica e à sua expressão cultural internacional. Só se deve pôr de acordo aquilo que justifica e legitima esse acordo. A SPA continua, nos seus documentos, a não se reger por um acordo que mostrou ser insustentável.

José Jorge Letria
(Presidente da Direcção)

Artigo publicado na 1º edição da “Sem Equívocos”.

Línguas e Alfabetos: 1. Gestual

Aveiro Lisboa Faro Aveiro Braga Évora Tavira Ovar Setúbal

O título deste post representa a forma como seria dita a palavra ALFABETOS, via telefone ou rádiotelefonia, pelos trabalhadores do ramo das telecomunicações — em Portugal e nas ex-colónias africanas, depois PALOP — até meados dos anos 90 do século passado. Entretanto as tecnologias da comunicação evoluíram enormemente e, portanto, aquele alfabeto específico entrou em declínio e praticamente desapareceu, o que não quer dizer que esteja de todo extinto.

Uma forma completamente diferente de “soletrar” a mesma palavra ALFABETOS seria utilizando uma das mãos para formar os “gestos” correspondentes no alfabeto da Língua Gestual Portuguesa (LGP).

Sem entrar em grandes pormenores sobre a (ténue) linha de demarcação que separa as línguas verbais das não-verbais, a verdade é que existem muito mais línguas não-verbais do que aquelas que porventura possamos sequer tentar enumerar. Isto, evidentemente, no pressuposto de não atendermos àquilo que distingue os conceitos de língua, em sentido restrito, e de linguagem, em sentido lato.

Se de facto a língua obedece a um código e este implica uma estrutura, obedecendo por conseguinte a regras definidas (umas mais rígidas ou consolidadas do que outras), então linguagem difere de língua na medida em que — apesar de servir a mesma finalidade, ou seja, a comunicação — não está sujeita a normas, regras, códigos, estruturas ou sequer pressupostos. Mas… será exactamente assim?

Por exemplo, o “código da estrada” cumpre todos os requisitos definidores de “língua” (código, regras, prioridades, estrutura) mas não é… uma língua; cumpre uma função comunicativa mas sequer é uma linguagem. Por outro lado — o que demonstra a fluidez de ambos os conceitos –, os sinais e regras de trânsito remetem para… a linguagem jurídica; e esta, pelo menos nos meios académicos e políticos da área e nos meios jurídicos propriamente ditos (tribunais, órgãos criminais), acaba por autonomizar-se de tal forma — em relação à Língua nacional — que acaba por transformar-se numa língua particular, em certa medida autónoma, o “juridiquês”: cidadão que a não domine minimamente não irá entender sequer o que está a dizer o seu advogado de defesa ao meretíssimo juiz, por hipótese em pleno tribunal criminal, quem sabe se num procedimento legal perigoso para a carteira, para a liberdade ou até para a saúde do “arguido”…

E o que vale para o juridiquês vale para, também por exemplo, o futebolês, o politiquês ou qualquer outra das línguas/linguagens que definem — por exemplo — profissão, estatuto, condição social ou modo de vida; logo, um “povo” (comunidade, grupo, estrato) que partilha entre os seus uma língua/linguagem distinta da dos “outros”, ou seja, daqueles que obviamente não se incluem nessa “população” específica.

Não cabe aqui maçar as pessoas com termos técnicos — até por falta de verdadeiros especialistas em cada uma das matérias específicas –, mas apenas traçar um quadro abrangente e o mais simplificado possível das mais diversas formas de comunicação, daí extraindo os factores comuns, identitários e, por conseguinte, definidores do indivíduo enquanto membro de uma comunidade, um povo, uma nação, um país.

Desta contrastação identitária poderão resultar pelo menos algumas conclusões óbvias, a começar pelo facto de a imposição manu militari da “língua universau” brasileira (vulgo, #AO90) não passar de uma aberração, uma manobra puramente política e economicista, um golpe perpetrado por alguns traidores, trânsfugas, vendidos, mercenários tugas.

Para início de conversa, portanto, vejamos o caso mais flagrante: em Portugal existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP) enquanto que no Brasil o que há é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). São coisas completamente diferentes e, evidentemente, jamais passaria pela cabeça aos surdos do Brasil impor aos surdos portugueses a sua e a estes “adotar” a dos brasileiros.

LGP – Língua Gestual Portuguesa
https://jornalismofluc.shorthandstories.com/alfabeto/index.html
A Língua Gestual Portuguesa é uma das três línguas oficiais de Portugal, reconhecida na Constituição Portuguesa da República em 1997 [APS]
LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais
https://www.pinterest.es/pin/95349717104397984/
Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, uma língua de modalidade gestual-visual onde é possível se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais. [“Libras“][Imagem de “Pinterest“]

[Nota: agradecimentos a Maria João Nunes pela colaboração
prestada quanto ao alfabeto rádio/telefone PT.]

[continua]

Ex-Portugal


A afirmação do Supremo Tribunal Federal brasileiro é lapidar e mais uma vez se confirma: «apenas a União pode alterar as regras da Língua Portuguesa». Referindo-se “União”, como é evidente, à designação que institucionalmente naquele país se utiliza para referir a República Federativa do Brasil. No que respeita à expressão “língua portuguesa”, na mesma frase, é igualmente evidente que se trata de apropriação abusiva da designação para fins de promoção política da língua brasileira.
 

Foi aliás nesse mesmo pressuposto, isto é, assumindo que a “difusão e expansão” daquela língua — com a patine de um idioma europeu de raiz greco-latina — seria impossível caso fosse utilizada a palavra “brasileira” em vez de “portuguesa”.

O texto em brasileiro que seguidamente se transcreve foi copiado da réplica publicada no “site” do hiper-acordista e ultra-brasileirista “Ciberdúvidas“. Daí não ser estranho o interesse dos serventuários do dito “sáitchi pôrrtugueiss” em propagandear o mais possível a situação que julgam estar já consumada e para a qual continuam a contribuir com denodo: tornar mais célere e expedito o processo de linguicídio[nota] em curso tendo por “objetivo” a “adoção” da “língua universau” brasileira em Portugal e nos PALOP.

Ao que parece — e trata-se de uma matéria que bem poderia merecer algum tratamento jornalístico, se porventura a imprensa portuguesa não estivesse quase na íntegra ao serviço dos negociantes do Centrão –, este órgão de propaganda brasileirista “especializado” já passou por dificuldades económicas, mas agora vive uma situação de desafogo, ao que não será certamente estranho o facto de «a partir de Maio de 2019, o sítio electrónico Ciberdúvidas da Língua Portuguesa passou a ser propriedade do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.» Daí, provavelmente, terem cessado os “ajustes directos” (ver imagem em baixo) entre o “sáitchi” e o ISCTE, os quais não chegaram, pelos vistos, para acabar com as dificuldades económicas daquele serviço “gratuito”.

Mas enfim, adiante, passemos a coisas sérias. O tal texto escrito na tal língua do tal brasileiro e etc. e tal.

O assunto é o que está na moda, a “linguagem neutra” (sem “gênero”, ou lá o que é). Convém, como de resto sucede em geral com os textos em brasileiro, que para ler semelhante estucha tenhamos sempre à mão o Dicionário de Brasileiro-Português; realmente, sem tão útil ferramenta, o número de equívocos (a multiplicar pelo grau de hermetismo deste tema em concreto) aumentaria exponencialmente.

Até porque não apenas o léxico, a semântica e a construção frásica diferem drasticamente, como também a terminologia específica da mais recente invenção politicamente correcta — castrar e esterilizar as palavras, apesar de género gramatical não ter nada a ver com sexo — presta-se a inúmeras confusões. Aliás, a ideia deve ser essa.

O que importa, no caso, é que já não basta aos acordistas e neo-imperialistas tugas substituir a Língua Portuguesa pelo “fálá” brasileiro (a língua brasileira procura ser uma transcrição fonética “simplificada”); já não basta que o #AO90 tenha sido imposto manu militari a Portugal e, como segundo objectivo, aos PALOP, com 100% de imposições brasileiras e 100% de subjugação dos tugas que negociaram a venda da nossa Língua. Não, todo esse imenso cortejo de horrores já não satisfaz os vendilhões, os novos donos disto tudo. Querem ainda mais.

Querem que Portugal continue a obedecer caninamente a todos e quaisquer ditames e ainda que os actos legais das instâncias governamentais e as determinações académicas do Brasil passem automaticamente a valer em Portugal.

Assim, no texto que o “Cibercertezas” divulgou entusiasticamente, o que eles querem mesmo é que onde se lê “escolas brasileiras” leia-se “escolas portuguesas”, que os “Projetos de Lei” da “Câmara dos Deputados” brasileira tornem obsoletos quaisquer Projectos de Lei da Assembleia da República portuguesa, que as “Diretrizes” anulem todos os programas e orientações do ex-Ministério da Educação do ex-Governo da ex-República Portuguesa.

A linguagem neutra nas escolas brasileiras – Controvérsias

Sobre a proibição do género neutro no ensino

David Nogueira Lopes

 

«(…) É impossível à democracia discutir os temas relevantes para os grupos sociais se as pessoas não têm sequer conhecimento deles. (…)»

«É vedado o uso, em qualquer contexto ou disciplina, de linguagem que empregue o gênero neutro.» Esse é o teor do Projeto de Lei 198/2023, que tramita na Câmara dos Deputados, e pretende a alteração da Lei de Diretrizes e Bases na Educação para proibir a linguagem neutra nas escolas.

A linguagem neutra, também chamada de «não binária» ou «não sexista», é aquela que não especifica o gênero das palavras para evitar a binariedade entre feminino e masculino. Seus defensores utilizam no lugar dos pronomes masculino e feminino a vogal e, como em “todes” no lugar de todos ou todas, ou a consoante x, como em “amigx” no lugar de amigo ou amiga.

É uma proposta defendida como meio de não excluir as pessoas que não se sentem enquadradas nos gêneros masculino e feminino, tendo, no Brasil, como maior expoente “iativisti” PriBertucci, “autorie” do Dossiê de Linguagem Neutra e Inclusiva, um livro que propõe a transformação da língua portuguesa para adoção da linguagem não binária. “Criadorie” da linguagem neutra no Brasil, “eli” acredita que é preciso modernizar nossa língua para refletir os comportamentos do mundo atual.

Embora pareça um tanto estranho, no tema não comporta ridicularizações. Ao contrário, exige uma reflexão profunda sobre até que ponto nossos comportamentos refletem uma postura respeitosa para quem pensa ou age diferente. Lembremos que a exclusão do diferente está na base das grandes atrocidades praticadas pela raça humana, como a Inquisição, a Escravidão e o Holocausto.

Por isso, é preciso ter muita calma na hora de tratar de temas tão sensíveis como este, da linguagem neutra. Não podemos simplesmente ignorar que há pessoas que não se sentem representadas pelos gêneros masculino e feminino e, por isso, pedem que as tratemos por um outro tipo de pronome, um que seja neutro. O fato de representarem uma parcela menor da sociedade não justifica o desprezo da maioria, porque tal argumento autorizaria também desprezar, por exemplo, a cultura dos povos originários, o que soa impensável.

A língua é sem dúvida a principal ferramenta da comunicação humana, e ninguém contesta que ela está em constante mutação. Por exemplo, o gênero neutro era adotado no Latim, a língua que deu origem ao idioma português. É bem verdade que ele era utilizado para designar objetos inanimados, como um castelo (castrum) ou o mar (pelagus). Ainda hoje o português carrega palavras que provêm do gênero neutro em Latim, como corpus e curriculum.

Com o tempo, a Língua Portuguesa passou a utilizar o gênero masculino para designar também o gênero neutro, como acontece com a palavra todos. Mas essa generalização pela utilização do masculino incomodava o movimento feminista, que não se via representado, obviamente, pelo pronome masculino, de maneira que se passou a defender uma linguagem que incluísse o gênero feminino. Por isso começamos a ver empregados nos discursos as palavras «todos e todas», ou «todas e todos». Seguiu-se, então, ao lado da chamada linguagem inclusiva, a demanda pela linguagem neutra, de onde veio o «todos, todas e todes».

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Ligar os pontos

Já o tinha dito, até por mais do que uma vez, mas como na última a expressão estava em Inglês pode ser que alguém não tenha percebido.

Além disso, a figura do burro era demasiadamente fácil. Talvez tratando-se desta outra figura, com algo de mítico e outro tanto de místico, não seja assim tão infantil (e lúdico) ligar os pontos para que por fim se veja o que lá está.

Realmente, mas que mistério encanitante, o que será aquilo? Se já não é um jumento, ora vejamos, será porventura um cavalo? Bem, mas nota-se ali, na fronte do animal, uma coisa pontiaguda que os equídeos não têm ou, pelo menos, se têm, isso deve ser muito raro.

Como? Perdão? Como disse? Ah, um unicórnio! Pois, olha que bem visto, deve ser isso mesmo! E se, ainda por cima, tem aquele bico na cabeça, não haveria outro motivo para tal apêndice, não sobejam de facto muitas outras hipóteses, há-de ser um unicórnio. Custou a descobrir mas pronto, lá se conseguiu.

Bicho que aliás pode comportar dois sentidos, o mais corriqueiro, por assim dizer, o de criatura lendária que simboliza a pureza, a graciosidade, enquanto que na outra acepção, a que para o efeito interessa, a ideia de unicórnio que remete para os empreendimentos ligados à economia, ao lucro, ou seja, as chamadas “startup“, empresas de alguma forma inovadoras que surgem de repente, fruto de uma ideia — por vezes profundamente estúpida, outras não tanto assim.

O #AO90 foi a tal ideia com tanto de inovadora como de estúpida mas, complementada com uma outra ideia ainda mais imbecil (a CPLB) e com os passos associados que se lhe seguiram, pelo menos a avaliar por aquilo a que agora vamos assistindo, estamos aparentemente perante uma startup de sucesso… até ver.

Se ainda não percebeu, se acha que os cascos, o focinho e mais as crinas, tudo isso não indicia — sem margem para dúvidas — que se trata de um unicórnio, qual é essa bela besta que aparece na figura, concretamente, então experimente completar o exercício. Ligue os pontos. São só 10, que diabo!

Vá lá, coragem, atreva-se. Até uma criança consegue.

1. cronologia
2. Operação coração

4. Lusofobia

5. Os assimilados do 28.º

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