Línguas e Alfabetos: 2. Soletração

https://www.history.co.uk/history-of-ww2/code-breaking
The Enigma Machine | Image: Shutterstock

E N I G M A

O caso da língua gestual será porventura o exemplo mais ilustrativo daquilo que significa a comunicação entre seres humanos, que motivações específicas as explicam, que finalidades concretas pretendem servir e, partindo dessas motivações e finalidades, como e porquê se distinguem umas das outras.

Sempre evitando pisar os terrenos áridos da linguística e ainda que “traduzindo” quanto possível a nomenclatura técnica (de metalinguagem) envolvida, o que aqui se pretende destacar é o carácter espontâneo — e, portanto, livre — de todas as chamadas línguas naturais, do que resulta, por simples exclusão de partes, que a “língua universau” brasileira (#AO90) não passa de uma asquerosa aberração, passe a redundância.

Ainda que utilizemos para o efeito não apenas as línguas naturais como também as “artificiais”, a constatação ainda assim será a mesma: é absurdo sequer pretender tornar igual aquilo que é por natureza diferente.

https://www.magicalquote.com/movie/the-imitation-game/
«Quando as pessoas falam umas com as outras, nunca dizem o que pretendem dizer. Dizem outra coisa, mas pressupõem que os outros sabem o que elas querem dizer.»

A língua que hoje em dia é comummente utilizada no Brasil tem tanto a ver com a Língua Portuguesa como uma máquina de escrever comum em relação à Enigma, a codificadora utilizada pelas tropas alemãs na II Grande Guerra.

As teclas até podem ser iguais em ambas as máquinas, mas a escrita é diferente porque o significado do que se escreveu numa não tem absolutamente nada a ver com o que resulta na outra. Dois códigos, resultados diferentes.

E então, reza a História, para enfrentar aquele imbróglio em particular surgiu Alan Turing; a sua máquina descodificadora resolveu por fim o enigma da… Enigma. Foi por isso mesmo, segundo alguns historiadores, que os Aliados ganharam a guerra e que Adolf Hitler fez pela primeira vez um favor, isto é, deu um tiro na cabeça.

A máquina de Turing foi em simultâneo predecessora dos actuais computadores mas foi também continuadora, visto que utilizava o mesmo alfabeto da codificadora alemã (em teclado QWERTY), o qual, por seu turno, já era resultado de uma invenção patenteada em 1874 — a máquina de escrever. A linguagem cifrada do lado alemão (Enigma) era descodificada pela equipa de Turing através de determinação de ocorrências e consequente cálculo de probabilidades. Num dos muitos filmes sobre aquele período histórico, aventa-se a hipótese de a chave ter resultado do fecho de todas as mensagens: o conhecidíssimo “Heil Hitler”; significava “over&out”, portanto bastaria fazer corresponder cada uma das letras e deduzir as outras pela sua posição relativa… no alfabeto.

Esse mesmo alfabeto que naquela época, como de resto ainda hoje sucede, obedecia à tabela de comunicações que viria ser oficializada pela Organização Internacional de Aviação Civil.

ICAO – Alfabeto Radiotelefónico

https://unitingaviation.com/news/general-interest/youve-heard-alfa-bravo-charlie-but-do-you-know-where-it-came-from/

ICAO – International Civil Aviation Organization

The ICAO phonetic alphabeth as assigned the 26 code words to the 26 letters of the English alphabet in alphabetical order: Alfa, Bravo, Charlie, Delta, Echo, Foxtrot, Golf, Hotel, India, Juliett, Kilo, Lima, Mike, November, Oscar, Papa, Quebec, Romeo, Sierra, Tango, Uniform, Victor, Whiskey, X-ray, Yankee, Zulu. [Google]

Podemos dizer que, este sim, é o alfabeto de comunicações via rádio utilizado tanto pelos tripulantes portugueses como pelos brasileiros, estejam eles a bordo de um avião, de um navio ou até de uma nave espacial. Pois, pudera, a língua de telecomunicações (como sucede na informática ou na Internet) é o Inglês, não é nem o Mandarim nem o Hindi — apesar de a Índia e a China terem “muitos mais milhões” do que USA, UK e Commonwealth somados — e muito menos é o brasileiro, por mais que julguem alguns tugas que aquilo é que é um gigantone que só visto.

São imensas e muitíssimo diversificadas as aplicações do alfabeto fonético internacional, desde as militares (na NATO, por exemplo) às de comunicações via rádio, incluindo as dos Radioamadores, vulgo “macanudos”, e ainda, em algumas zonas fora de zonas “digitais”, nas comunicações por telefone convencional.

Das duas variantes nacionais do alfabeto da ICAO devemos destacar a utilizada em meios e para fins civis.

Continue reading “Línguas e Alfabetos: 2. Soletração”