Já aqui foi referida, aliás por diversas vezes, uma das facetas (mais) visíveis da operação de limpeza étnico-linguístico-cultural em curso: a começar pela substituição do código de página da Língua Portuguesa (CHCP 860) pelo do crioulo brasileiro (CHCP 850), todas as plataformas e serviços da Internet, assim como os sistemas operativos de computadores e redes, incluindo as telecomunicações pessoais (telemóvel, e-mail, chat) e ainda os programas de computador mais comummente utilizados (Windows, Word etc.), tudo passou a estar em língua brasileira.
Não interessa agora que uma parte dos portugueses se alheie da questão, que não queira saber o que se passou, o que se está a passar e o que isso implica. Há quem finja não ver o que tem diante dos olhos, assim como quem se entretenha a arranjar explicações para o inexplicável; há os parolos, fatalistas e bajuladores armados em pragmáticos (“eles são 230 milhões e nós só 10 milhões“), há os “espertalhões” armados em pacifistas (“não queremos guerras com o Brasil“) e há também os “puristas”, aquela misteriosa espécie de zombies que embirram solenemente com anglicismos, francesismos, espanholismos ou estrangeirismos em geral, mas que pouco ou nada se ralam (alguns até apreciam esse tipo de escatologia linguística) por terem “virado” qualquer coisa de nada recomendável (e até “adotaram” um “xodó”, ou o “escambau”, qui légau).
Há por aí de tudo, em suma, do mais nojento ao mais intolerável, mas felizmente há também quem não se deixe abater pela propaganda sistemática, ignorando a campanha de desinformação dos media avençados e dos mercenários contratados.
Dessa resistência é exemplo este leitor do “Público” que, em “Cartas ao Director”, refere o ChatGPT — a mais recente invenção no vastíssimo campo da estupidez artificial — como sendo mais uma demonstração prática das manobras que visam a substituição da Língua Portuguesa pela brasileira… e daí a liquidação da Cultura, do património, da identidade nacional. Embora já contaminado — pelo menos, aparentemente — pelo “purismo” (ou puritanismo) anti-estrangeirismos, este leitor revela a sua preocupação com o que se passa naquela máquina de encher chouriços mentais.
Máquina esta cuja disfunção está ilustrada no “diálogo” mais abaixo, em que à minha afirmação, «Português só há um», o imbecil real que programou a besta virtual responde com propaganda acordista, desinformação brasileirista, intoxicação política.
O ChatGPT e o futuro do Português
São muitas as preocupações relativas à popularização de uma nova ferramenta da inteligência artificial: o ChatGPT. Como o nome indicia, desde logo, trata‑se de um programa interactivo, cujas virtudes residem na capacidade progressiva de responder às perguntas dos cibernautas num registo multímodo (da resolução de dúvidas pontuais, por exemplo, à produção integral de artigos científicos). Entre essas preocupações, por conseguinte, destacam‑se as de natureza académica e política.
Mas não devem ser apenas a pirataria intelectual e a propaganda da desinformação os motivos maiores do nosso desassossego. No que diz directamente respeito a Portugal, o uso intensivo dos “autómatos de conversação” há‑de erodir irreversivelmente o génio da língua portuguesa — por força de um duplo constrangimento, a saber: a actual predominância do “portinglês” e ainda a pressão crescente (acentuada pelo novo acordo ortográfico) do Português do Brasil. Entre Cila e Caríbdis, perguntar‑se‑á, haverá futuro para o idioma de Camões?
Eurico de Carvalho, Vila do Conde
[“Cartas ao Director”, jornal “Público” de 14.02.23. “Links” e destaques meus.]
resposta do sistema de estupidez artificial ChatGPT
Essa afirmação não é correta. Embora a língua portuguesa tenha se originado em Portugal e tenha sido desenvolvida ao longo dos séculos pelos povos que falam essa língua em todo o mundo, é importante reconhecer que existem várias variações regionais e nacionais do português.
Por exemplo, no Brasil, a variante do português falada é diferente daquela falada em Portugal, com diferenças no vocabulário, pronúncia e até mesmo na gramática. Além disso, os países africanos de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe) também têm suas próprias variantes do português, que foram influenciadas pelas línguas locais e pelas culturas desses países.
Em resumo, embora o português tenha uma raiz comum em Portugal, a língua evoluiu de maneiras diferentes em diferentes partes do mundo, dando origem a uma variedade de variantes regionais e nacionais do português.