«Portugal, um Estado brasileiro na Europa»
Este documento foi publicado no “Jornal de Notícias” há já mais dois meses mas, por algum estranho motivo, passou despercebido a todos os rastreadores automáticos e dele não existem sequer referências ou menções em blogs, no Fakebook, no Twitter ou noutras redes sociais. Não por mera coincidência, o texto aqui transcrito no último post é igualmente deste autor.
O qual assina ainda, num jornal brasileiro, uma coisinha espantosa com o seguinte título: “Portugal se apresenta cada vez mais como um Estado brasileiro na Europa“. Essa outra pérola está também transcrita mais abaixo.
Fica assim, portanto, escarrapachada — por uma “autoridade” na matéria — a verdade nua e crua sobre as reais finalidades políticas e empresariais do AO90. Já ninguém voltará a dizer “não percebi, faz-me um desenho”.
Aí está, enunciada com toda a clareza, a estratégia urdida ao longo das últimas três décadas: a “língua universau” brasileira, funcionando como pretexto “ideológico” para dar cobertura política à CPLB, resulta naquilo que o agora citado pau-mandado formula como sendo «a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.»
Tal cidadania (da língua brasileira, repita-se) acarretará as mais óbvias implicações, tanto as já aqui profusa e repetidamente documentadas como aquelas que, embora previsíveis, como foi agora exarado, pelo que podem os adeptos da brasileirofonia ficar descansados, «o ‘premiê’ português sabe disso e vai lutar em Bruxelas por um regime especial de cidadania para os cidadãos dos países de língua» brasileira.
O que implicará também, como inerência, outro “fato” à medida que — apesar de todo roto e coçado — envergará o noivo deste infeliz enlace entre um pato e um mastodonte.
Sobre esse “fato” à medida, diz Seu Manuéu, em jeito de rasgados elogios à pinta do animal, que «Portugal apresenta-se cada vez mais como um Estado brasileiro na Europa».
E não precisa de dizer mais nada, presumo. Não só deixa de ser necessário fazer um desenho, como sequer precisam tais evidências que se enumerem de novo umas quantas “coincidências”, que se responda à milésima pergunta das mais habituais e comezinhas, ou até que se enumerem e sequenciem outra vez os pontos para que as pessoas descubram, unindo-os, que imagem surgirá no final.
Estes dois textos mais os “perfis” citados após devem chegar e sobrar para que os portugueses — ao menos alguns deles — não descubram que essa imagem é aquela que fazem assistindo a tudo isto enquanto pastam placidamente, sacudindo as moscas com o rabo e baixando as orelhinhas como compete aos quadrúpedes.
A primeira cidadania da língua
José Manuel Diogo*
“Associação Portugal-Brasil 200 anos (APBRA200)”, 27.06.22
O Governo português tomou medidas inovadoras e disruptivas para facilitar a vinda de cidadãos brasileiros. E isso é muito bom porque Portugal precisa de imigrantes para inverter o envelhecimento do país.
A criação de um visto de maior duração (180 dias) que permite a entrada legal de imigrantes dos países de língua portuguesa em Portugal com o objetivo de “apenas“1 procurar trabalho é um verdadeiro convite para que os nossos irmãos brasileiros venham morar cá.
A medida vem em muito boa hora e é boa resposta a uma operação de propaganda2 negativa que se gerou numa manhã de filas – propositadas ou espontâneas – que os agentes intervenientes nos assuntos aeroportuários, públicos e privados, causaram recentemente.
Porque o que é relevante sublinhar sobre o futuro das relações entre Portugal e o Brasil não são as filas de aeroportos momentâneas, mas sim as políticas de fundo que os portugueses3 pretendem implementar.
O Governo de Lisboa, antecipando questões impostas: pela nova realidade política de uma guerra prolongada na Ucrânia, por um lado; e a necessidade urgente de combater o risco demográfico que a nação lusa vive, por outro; são os pontos fulcrais onde se joga o futuro da relação entre Portugal, o Brasil e os outros países da CPLP.
Portugal precisa de boa imigração e de investimento, do Brasil e dos países de língua portuguesa, da mesma forma que o Brasil e os outros países precisam de uma porta de entrada para um mercado europeu.
O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos
In JN
[Transcrição integral mantendo a cacografia brasileira do original.
Destaques, sublinhados e “links” meus.]1 – aspas conforme original
2 – “Jornal do Incrível”?
3 – poucos; apenas os coniventes
Portugal se apresenta cada vez mais como um Estado brasileiro na Europa.
José Manuel Diogo*
“Folha de S. Paulo” (Brasil), 29.06.2022Os dois países parecem interessados nesse movimento: a língua portuguesa sendo instrumento de cidadania. Será que a União Europeia vai permitir?
Hoje os sinais são fortes como os fatos. A história se desenha em frente de nossos olhos, e aquilo que era a intuição de poucos é hoje certeza e vontade de muitos. Viver em Portugal está no topo da lista dos desejos de cada vez mais brasileiros.
Faça a experiência. Perdendo-se pelas ruas de São Paulo, no Uber, em mercados, teatros, jardins, academias e restaurantes, não importa de que sofisticação ou preço, da Mooca à Faria Lima, popular ou elitizado, sinta a reação ao nome “Portugal”. Ela se alterou substantivamente nos últimos anos.
Onde antes existia desconhecimento (ou mesmo vazio), hoje existe um desejo afável de proximidade que se expressa, às vezes nervosa-miudinhamente, em manifestações de carinho que vão se organizando à volta de uma ideia que, cada vez mais, todos sentem como normal — ir morar em Portugal.
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