Uma das Caldas

Nota prévia

Após uma relativamente longa suspensão, em sinal de respeito para com as vítimas da tragédia que estalou na Ucrânia, mas atendendo a que apesar de tudo continua sem qualquer alteração em Portugal o processo de genocídio cultural em curso, decidi retomar a publicação de conteúdos neste “blog”, na expectativa e com a esperança de que esteja para breve a reconquista da independência, da auto-determinação e, numa palavra, da paz naquele país.


Ora cá está um fantástico monumento à pura e simples estupidez. De todo o acervo publicado no Apartado 53, nunca tais píncaros de imbecilidade tinham sido alcançados — apesar das inúmeras, mirabolantes produções de todos os gurus acordistas já aqui transcritas –, especialmente se tivermos em atenção os requintes de debilidade que denota D. Teresa no seu estendal de inacreditáveis asneiras.

No qual estendal não vale sequer a pena corrigir a cacografia, porque o paleio (de chacha) que a autora bolça não vem embrulhado em espécie alguma de “redacção”: aquilo não é nem brasileiro, se bem que a única regra gramatical desse crioulo seja a total ausência de regras gramaticais, nem é, muito longe disso, a anos-luz, algo que remotamente se pareça com Português.

Diz que é “professora”, a autora do naco, mas, por algum insondável mistério da sorte, parece já estar reformada, o que é sem dúvida tremendo alívio para os alunos e as escolas das redondezas das Caldas das Taipas, essa simpática localidade dos arredores de Guimarães que até tem um jornal e tudo… facto do qual manda a hombridade reconheço com humildade o meu imperdoável desconhecimento. Aliás, é para mim surpreendente, confesso, que nas Taipas haja um periódico; do local apenas conhecia a piscina (jamais esquecerei as manchas amarelas alastrando em volta dos banhistas, além do hábito que alguns deles tinham de ali tomar o seu banho quinquenal, além de calções levavam consigo uns nacos de sabão-macaco) e os bons pesqueiros que então havia no troço de rio Ave que do outro lado da estrada faz uma curva larga.

Além de ser muito mais pitoresco ler o textículo conservando-lhe todos os aleijões, mesmo os mais dolorosos e de penosa leitura (ignoremos a parte da TLEBS, para variar e para facilitar), parece-me que além do modo intocado também o conteúdo merece uma “reflexão” aprofundada, ou seja, deverá cada qual partir o coco a rir à sua maneira, mas sempre tentando conservar uma (com)postura (con)digna, por exemplo, abafando as gargalhadas com uma almofada (ao menos um lenço, vá) para não incomodar desnecessariamente a vizinhança.

Note-se-lhe o estilo furibundo, por exemplo. A xôdona passa-se positivamente dos carretos porque, para seu dela grande escândalo, há quem não “adote” o AO90.

O textículo abre, evidentemente em sentido figurado, logo com um tremendo murro na mesa que, certamente, deve ter assustado imenso, pobres animais, as trutas, os barbos, as achigãs do rio Ave: «Pasme-se… Instituições do ensino superior, institutos politécnicos e universidades não o adotaram e, boquiabertamente…, há universidades em que uns professores o adotaram e outros não, transformando em joguetes os alunos que têm de fazer a correção ou não dos seus textos de acordo com o professor.»

“Pasme-se”, diz ela. E diz bem. Ao menos isso. A sua estremada (e estrumada) dedicação à “causa” do II Império brasileiro vai ao ponto de, aliás como é hábito naquele tipo, tratar a murro e a pontapé a Gramática — erros de concordância, hipercorreções, acordo verbal a trouxe-mouxe, etc. — e em simultâneo enaltecer os méritos das luvas de boxe na escrita.

Isto não é “acervo” coisa nenhuma, isto é só parvo todos os dias. Ainda que por absoluta excepção, reproduzir aqui esgalhanços publicados na imprensa regional ou local é um risco tremendo: no chamado “Portugal profundo” há de tudo, naturalmente, mas por vezes a tendência dos jornais locais é, fatalmente, desgraçadamente, dar voz à mediocridade igualmente profunda dos titulares de canudo ou cargo público. Ora, de entre essa desprezível minoria arranjam sempre maneira de se destacar os que também na “província” fundam escolas de samba e organizam uns “cafuné prus coroné” ou coisa que o valha.

De facto, existem os traidores, mercenários e vendidos, os que directa ou indirectamente têm algo a ganhar, não só em contado como também em mordomias, em “tachos”, em “revisões”, em “pareceres”, em “favores”, em publicações, em currículo (marado), em “contactos”. Mas existem além desses, se bem que ainda — felizmente — em números residuais, uns quantos mamíferos que, por estarem como as nódoas entranhadas no mais incrustado do tecido social, sentem uma irreprimível vontade de defecar em público por escrito.

Entre ambas as sub-espécies, a urbana e a provinciana, desde que ignorando o maior ou menor pretensiosismo que lhes é comum, não há por onde ou como escolher: denunciar a idiotia de uns, expor a desonestidade intelectual de outros e sobretudo combater a má-fé de todos eles, eis o que em suma desde há décadas deixou de ser um simples direito e passou a ser um dever absoluto.

O (des)acordo ortográfico e a TLEBS

Teresa Portal

 

O Acordo Ortográfico (AO) foi e continua a ser uma questão polémica, pois apenas adotado, unilateralmente e, para cúmulo, pelo país que fala e escreve a língua-mãe.

 

Pior ainda, apenas uma pequena fatia do país foi “obrigada” a adotá-lo, o Ministério da Educação. Faz dez anos que as escolas o utilizam.

Pasme-se… Instituições do ensino superior, institutos politécnicos e universidades não o adotaram e, boquiabertamente…, há universidades em que uns professores o adotaram e outros não, transformando em joguetes os alunos que têm de fazer a correção ou não dos seus textos de acordo com o professor.

Parece que o navio não é governado pelo mesmo comandante e não é mesmo. Há dois pesos e duas medidas para a Educação, o que não é de admirar, pois existem dois Ministérios: o da Educação e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

E eis que temos a sociedade portuguesa dividida entre a adoção ou não do AO, a começar pela comunicação Social com televisões e jornais a adotá-lo e outros não.

Mas se a desorganização fosse apenas esta! O problema é bem mais profundo! Para muitos, os leigos, as alterações ficaram pela saída do C e do P. Deixem-me rir! Depois, há os que foram obrigados a estudá-lo e a adotá-lo e não o fizeram nem o consultam, a grande maioria dos professores que lecionam as outras disciplinas sem ser o Português. E mesmo entre estes, há quem dê pontapés no AO.

Se não houver à mão um “Pai dos Burros” (dicionário, como lhe chamava) com o AO, há o Google. Escreva “auto-estima ou autoestima ortografia” e recebe logo a resposta. E não se deixe levar pelo dicionário do Windows que deveria ter o AO e não tem. Se escrever “pôr do sol” como é agora, ele manda-lhe colocar os hífens. E não é só neste caso, em muitos, como: jardim de infância, cor de laranja, dia a dia…

As aberrações não acabam aqui. Em Portugal, há duas escritas para a mesma palavra como: “caracterização ou caraterização”… Confesso que adorei esta incongruência porque, atendendo ao (des)conhecimento do AO de muitos dos professores, principalmente dos que não lecionam a língua e que andam à cata dos erros para descontarem a dita percentagem nos exames, facilitaram a tarefa a um aluno para meter recurso.

Depois os contrassensos- Nós escrevemos Egito, o P não é lido. O Português do Brasil mantém-no porque é lido. Nós temos o facto porque lemos o C e eles mantiveram o fato porque não o leem. Já agora creem, leem, veem (v.ver) perderam o acento circunflexo mas têm e vêm (v.vir) mantêm-no. Tanta asneirada!

De rir é a explicação encontrada para a acentuação da primeira pessoa do plural no Pretérito Perfeito do Indicativo dos verbos de tema em a (terminam em –ar) “Por favor, acentuem-me essa forma verbal! Ouçam como a pronúncia é diferente entre as formas do presente e do pretérito do indicativo: “Estudamos sempre muito, mas ontem estudámos muito mais”. A explicação? Idiota! A tradição. A forma não é acentuada nos países onde não haja essa tradição. Nós temos essa “tradição”.

Por amor de Deus, sempre que tenham dúvidas, consultem o Google. Está lá tudo ou então coloquem perguntas no Ciberdúvidas. Podem ter a certeza de que os linguistas e gramáticos respondem. Podem é receber a resposta por email, se os “enrascou” ou vê-la publicada online se a consideraram pertinente, plausível e inteligente. A mim já me devem conhecer pelas perguntas “estúpidas que os enrascam”.

E agora vou entrar na TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário). Ignoro se a terminologia das Universidades mudou ou não, uma vez que o título menciona apenas os Ensinos Básico e Secundário. Adoro gramática e, quem me conhece, sabe que, até esclarecer um determinado problema, não descanso. Quando não é a Gramática do Português Contemporâneo Lindlay-Cintra então é o Ciberdúvidas.

Mudada a terminologia gramatical, já devem estar a par disso, nomeadamente os que têm filhos na escola e não sabem como os ajudar, vejam até onde chega a estupidez da situação com a gramática a ser omissa, a não dar resposta. Vou contar um caso que coloquei no Ciberdúvidas. Na gramática tradicional (eu já estudei quatro desde o tempo em que fui aluna!), consideremos a terminologia antes desta “novidade”, as conjunções coordenativas adversativas eram: mas, porém, todavia, contudo. Segundo a nova terminologia, só há uma conjunção- mas. As outras três passaram a ser advérbios conectivos/conetivos (outra das palavras com duas escritas). Pois bem, inventei um problema, uma vez que a gramática era omissa. Exemplo: “O João é apreciador de marisco; porém, detesta camarão”. Como classificar esta oração que na gramática tradicional era coordenada adversativa? Resposta deles: “Colega, não se meta por caminhos escusos. Utilize apenas a conjunção adversativa”. Eu era a idiota e eles sacudiam a água do capote. Voltei à carga. “Caros senhores, tenho duas turmas. Uma ainda estuda a gramática tradicional e a resposta foi oração coordenada conjuncional adversativa. A outra já utiliza a nomenclatura atual (eram anos diferentes e aconteceu termos de usar duas nomenclaturas para turmas diferentes). Por acaso, o exercício é igual. Como é que os alunos vão classificar essa oração?” Forçados a responder, disseram: “Colega, diga que é uma coordenada adversativa assindética (sem conjunção)”. Não aparece isso em gramática nenhuma. Mostrei s resposta aos alunos mas ajuntei: “Não aparece em nenhuma gramática!”

E podia continuar com um rosário de lamentações, em que dificultaram a vida dos professores e dos alunos, muitas vezes complicando o que era simples como a classificação das palavras quanto à formação. Um quebra-cabeças e uns palavrões que nem digo para não vos assustar ainda mais. As palavras compostas foram as que mais mudaram no AO ao perderem os hífens, ao unirem-se umas às outras: minissaia, autorretrato, subdiretor, …

A criação do Complemento Oblíquo fez com que muita gente que já olhava para a gramática de viés, a olhasse ainda mais “obliquamente”.

Acho que não vale a pena estar a bater no ceguinho.

Como adoro gramática, eis a razão por ter escolhido Alemão (gramática às carradas) e adorar o Francês, o Português por serem também extremamente gramaticais e, apesar de ter seguido Filologia Germânica, que trouxe o Inglês por arrasto, tive dois aos de Latim no liceu. Por acaso já ouviram falar dos casos latinos? Nominativo, Acusativo, Genitivo…

Pronto, já cá não está quem falou.

E se faz parte daqueles que não utiliza o AO, não sei muito bem em que país vive, se será o meu ou não, pois fui obrigada a adotá-lo em 2012.

Sabem que comecei a carreira de escritora. Pois bem, já me apareceu um concurso em que queriam que escrevesse segundo o acordo de 1945. Sei lá qual era esse acordo! Às tantas ainda tinha de utilizar os acentos graves que desapareceram da língua portuguesa. Acho que devem saber que só existem na contração da preposição a com o determinante artigo definido a e as- à, às e com os pronomes/ determinantes demonstrativos àquele, àquela, àqueles, àquelas e àquilo (sempre pronome). Mas quando andava na escola, os adjetivos quando se transformavam em advérbios adquiriam o acento grave para dizer que a sílaba já não era tónica: amável – amàvelmente. Também teria de utilizar o ph para pharmácia e o th para Thereza, como escrevia a minha avó?

Ao escrever a data, lembrei-me: sabem que os meses, as estações, do ano, os dias da semana se escrevem com letra minúscula agora?

Sou mesmo uma “maluquinha” da correção gramatical e ortográfica.

Estude o dicionário, questione o Google ou massacre o Ciberdúvidas…

[Transcrição literal ipsis verbis (cacografia brasileira/erros de Português conforme original). Os destaques e sublinhados a verde são meus. Imagem de topo de: “Reflexo Digital” (sem indicação de autoria). Imagem de achigã de: “Toca A Pescar“.]

Categoria:Escolas de samba de Portugal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A Rainha (escola de samba)
Amigos da Tijuca
Batuque do Conde


3 thoughts on “Uma das Caldas

  1. Caro JPG, renovo os meus agradecimentos ao trabalho que incansavelmente tem desenvolvido neste blogue contra o detestável AO90. No que concerne ao mundo actual e aos acontecimentos dos últimos meses e dias, nem sequer tecerei comentários.
    Deixo-lhe aqui mais um vídeo, um autêntico desfile de horrores, pelo qual, desde já, peço desculpa.

    A “reportagem” foi feita pela Sputnik Brasil. Não é despiciendo lembrar que a filial de língua brasileira da Sputnik News, órgão de propaganda e desinformação do Kremlin, é um instrumento ao serviço da difusão e propagação da língua brasileira, que nem sequer se dá ao trabalho de disfarçar o viés anti-lusitano.

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    1. O vídeo é também um monumento à estupidez, como a das Caldas. A arrogância dos brasileiros, professores e estudantes (além de outros especializados em farinha Amparo) é mais do que monumental; é colossal.
      Claro, para aqueles novos bwana é o indígena que deve aprender a língua deles e não o colonizador a entender a espécie de Quimbundo tuga.
      Fica para próximo post.
      De novo, muito obrigado por mais esta pescaria de pérolas.

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  2. Boa noite.

    Ó senhores – JPG e demais colegas de escrita -, eu nem ia mais longe, acreditando ficar comprovada a sua tese pelo “documento anexo”: mas aquela senhora tem os ombros desnudos para quê? para quem?
    Mas por alminha de quem está um ser humano com mais de meio século em exposição? Até podia ser um génio gramatical ou de outra área qualquer. A mim, fogem-me as meninges para aquela “imagem” e… bloqueio. Juro que até a mais ínfima das rodinhas dentadas do meu pensamento ganha areias na engrenagem, revolvem-se-me as restantes entre os sons areados e pára tudo ali. Juro que bloqueei logo no início, ainda o meu olhar resvalava pelas pérolas do colar abaixo, muito antes de ler as verbais com que a senhora nos foi borrifando, por entre os seus indignados “brados aos céus”. De convulsão em convulsão, confesso-me perplexa e, até, quiçá, temporária e “obliquamente” estrábica.

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