«A língua portuguesa empregada na obra [“Os Lusíadas”, de Luís de Camões] é muito mais semelhante ao português hoje chamado de “brasileiro” do que ao português europeu. Essa é uma das evidências de que a língua na Europa sofreu muito mais modificações do que no Brasil.»
Será porventura demasiadamente humilhante persistir em comentar este tipo de investidas com que imbecis brasileiros e políticos em geral, caracteristicamente rancorosos por um conflito eterno com o seu próprio passado colectivo mas extremamente sôfregos e zelosos quanto aos seus interesses particulares, tentam apoucar, amesquinhar e sumamente insultar a memória, o carácter, toda a História do povo português.
Não resta já, caso se admita, por hipótese académica, ter existido a partir de 1822 a mais ínfima ligação emocional ou afectiva entre a super-potência colonial europeia e o que até àquela data foi uma das colónias portuguesas, qualquer relação entre a Língua Portuguesa e o brasileiro.
No âmbito da operação político-económica em curso, que se consubstancia num conjunto de manobras e tácticas de neo-colonialiismo linguístico e de limpeza étnico-cultural tipicamente neo-imperialista (e racista e xenófoba e “anti-tuga”), os mais recentes eventos acabam por não ser de uma relevância tal que justifiquem mais do que um olhar breve — se bem que não alheado ou distraído; infinitamente mais relevantes são os esquemas (de) políticos e seus intectualóides assalariados.
Esta espécie de revanche histórica — característica da pequenez de espírito e da tacanhez comum aos traidores — conta com quatro aliados “naturais” de ambos os lados os lados do Atlântico: os mandantes, os paus-mandados, os executores e os indiferentes. Ou seja, o inimigo conta com muitos aliados e com milhões de alheados. É nestes últimos, ao contrário das aparências, que reside o maior perigo.
Alertar sem carpir mágoas, denunciar sem delação, apontar sem ficar a olhar para o próprio dedo, eis algumas das “tarefas” de que é capaz qualquer um. Isso seria bastante, seria até mais do que suficiente, seria com toda a certeza o fim do experimentalismo ditatorial acordista.
Porque dizer “já chega” não chega. E não abrir sequer a boca é sufocante.
O português brasileiro em Portugal
Mariana Bordignon
megacurioso.com.br, 19.11.21
Em 10 de novembro, uma reportagem do portal português Diário de Notícias alertou para o fato de que “há crianças portuguesas que só falam brasileiro“. Essa é a preocupação de alguns pais e responsáveis que notaram diferenças na fala dos filhos em Portugal: “Dizem grama em vez de relva, autocarro é ônibus, rebuçado é bala, riscas são listras e leite está na geladeira em vez de no frigorífico“. O fenômeno acontece em razão do contato das crianças com vídeos de youtubers brasileiros famosos, como Luccas Neto.
Na pandemia, o acesso a esses conteúdos aumentou consideravelmente, a ponto de influenciar a comunicação dos pequenos, que passaram a falar “brasileiro”. Na reportagem, alguns pais relataram o quanto o contato com as redes sociais afetou a fala dos filhos. “Todo o discurso dele é como se fosse brasileiro. Chegamos ao ponto de nos perguntarem se algum de nós era brasileiro, eu ou o pai”, conta uma mãe.
Mas, afinal, Portugal e Brasil não têm o mesmo idioma oficial? Em tese sim, principalmente depois do Novo Acordo Ortográfico de 2009, que teve o objetivo de unificar a escrita dos países de língua portuguesa. Na prática, porém, as diferenças se mantêm e são bastante acentuadas.
Que português deve ser usado na escola?
Durante a pandemia, os estudantes passaram das aulas presenciais ao modelo online. Foi nessa oportunidade que a psicóloga goiana Adriana Campos presenciou uma conversa entre a filha e a professora de Português. A jovem questionava por que sua nota havia sido menor do que a da colega portuguesa com quem fez um trabalho em dupla. “A professora falou que o trabalho estava excelente, elogiou a criatividade das duas, mas disse para a minha filha: ‘Só que você, infelizmente, ainda fala esse português inapropriado, esse português brasileiro. E você precisa aprender a falar direito’. Eu não conseguia acreditar”, afirmou ela.
O relato da psicóloga se soma a reclamações de brasileiros que afirmam sofrer discriminação em razão de sua variante dialetal. Há depoimentos até de alunos universitários que temem receber notas mais baixas ao usarem a variante brasileira. O receio é tão grande que muitos estudantes chegam a entregar trabalhos em inglês — o programa do Erasmus promove a mobilidade acadêmica entre países europeus, por isso em muitas universidades portuguesas é possível entregar trabalhos em inglês.
Essas atitudes de preconceito linguístico não estão de acordo com a política de acolhimento e incentivo à interculturalidade de Portugal. O secretário de Estado da Educação de Portugal, João Costa, conta que os documentos orientadores para o ensino da língua portuguesa “preveem o domínio do português europeu padrão, integrando também a consciência da diversidade de registros e de características das variantes faladas pelo mundo”.
O “verdadeiro” português
Diante desse alvoroço sobre as mudanças na língua em Portugal, é interessante chamar a atenção para o fato de que a diferenciação entre o português brasileiro e o português europeu é assunto recorrente na área da linguística. Desde 1980, pesquisadores buscam estudar por que as duas línguas estão se afastando.
Muitos acreditam que foi o português do Brasil que se diferenciou e adquiriu características próprias. No entanto, alguns estudos sugerem que não é bem assim. No vídeo “As marcas do português brasileiro”, linguistas comentam que os colonos portugueses que chegaram ao Brasil no século XVI terem transmitido aos indígenas o idioma que falavam em Portugal. Analisando documentos escritos da época, é possível perceber que aquele português se assemelha muito mais ao brasileiro do que ao europeu.
Diante dessa constatação, podemos dizer que o “verdadeiro português“ (e muitas aspas aqui!) é o falado no Brasil. Foi o português europeu que sofreu modificações ao longo do tempo, principalmente a partir do século XVIII, e acabou se afastando daquela língua falada no século XVI.
E onde estão as evidências?
Um dos casos interessantes que vale comentar é a diferenciação entre o gerúndio (no Brasil) e o infinitivo (em Portugal). Os brasileiros usam de forma recorrente a estrutura “estou dançando”, por exemplo, enquanto para os portugueses o mais comum é “estou a dançar”. Analisando um dos textos mais famosos em língua portuguesa, Os Lusíadas, podemos encontrar muitas e muitas estruturas de gerúndio. E a estrutura do infinitivo? Quase nenhuma! A língua portuguesa empregada na obra é muito mais semelhante ao português hoje chamado de “brasileiro” do que ao português europeu. Essa é uma das evidências de que a língua na Europa sofreu muito mais modificações do que no Brasil.
Aqui, vale chamar a atenção para o fato de que o português no Brasil também sofreu alteração ao longo do tempo, principalmente com a chegada de imigrantes a partir do século XIX.
Preconceito linguístico
Sendo assim, a afirmação de que o português europeu é o “certo” e o português do Brasil é o “errado” não faz sentido. Primeiro, nenhuma das formas é certa ou errada, ambas são variantes de uma mesma língua inicial. Segundo, se formos apelar para a língua mais “tradicional”, as marcas do português brasileiro indicam que ele está muito mais próximo do português que veio de Portugal no século XV do que o falado na Europa atualmente.
Então, vale a pena discutir as mudanças sofridas pelas línguas ao longo do tempo? Mas é claro! Agora, temer pelos filhos que falam “brasileiro” em razão da influência de youtubers não tem lógica alguma. Todas as línguas vivas estão em constante transformação. Se influências linguísticas e sociais diversas trazem mudanças a qualquer idioma, por que com o português seria diferente?No caso do receio dos pais portugueses, quem sabe a questão não seja linguística, e sim social. Mas aí caímos em outra temática, assunto de uma próxima coluna!
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Mariana Bordignon S. de Souza, colunista semanal do Mega Curioso, é formada em Letras — Português, pós-graduada em Docência Universitária e especialista em Gestão de Projetos. Está envolvida com o mercado editorial há mais de 10 anos.
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[Transcrição integral, incluindo “links” (a azul). Destaques, sublinhados e “links” (a verde) meus.]
Sucesso de Luccas Neto em Portugal assusta pais e gera revolta
Surenã Dias em 16/11/2021
spinoff.com.br
O youtuber Luccas Neto tem encontrado resistência por parte de país de crianças portuguesas. Isso porque o artista tem ficado famoso no país e mudado a forma que as crianças da região têm se portando nas ruas.
Em matéria publicada pelo portal Diário de Notícias, diversos pais portugueses revelaram que as crianças gostam tanto do conteúdo de Luccas, que estão começando a falar “brasileiro”.
“Todo o discurso dele é como se fosse brasileiro. Chegámos ao ponto de nos perguntarem se algum de nós era brasileiro, eu ou o pai”, conta a mãe do menino, Alexandra Patriarca, ao jornal.
Segundo a publicação, uma criança de três anos chegou a dizer a um pai que viu “um policial” na rua e não um “polícia”, como portugueses costumam falar. Além disso, uma mãe foi surpreendida após a filha pedir balas no supermercado, o que por lá significa literalmente projetil de arma de fogo.
“Neste momento estamos num processo de tratamento como se fosse um vício. Explicamos tudo, que ele não podia ver porque isto só o prejudica. E já notamos que está muito melhor. O que tentamos fazer agora é brincar mais com ele, bloqueamos alguns conteúdos, deixamos apenas a Netflix e tudo o que é em português de Portugal”, acrescenta a mãe.
Vale destacar que no último final de semana Luccas se apresentou em Portugal, no pavilhão Altice Arena, em um show que faz parte de sua turnê de shows pela Europa. Em postagem realizada no Instagram, o artista mostrou que o evento estava lotado e com um público animado.
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[Transcrição integral, incluindo “links” (a azul). Sublinhados, destaques e “links” (a verde) meus.]
Youtubers fazem crianças de Portugal falarem “brasileiro” e irritam adultos
Giovanni Santa Rosa
terra.com.br, 11.11.21Em tempos de pandemia, muitas crianças ficaram mais tempo em casa, e o consumo de conteúdo em vídeos explodiu. Em Portugal, isso levou a um fenômeno inusitado: as crianças passaram a usar expressões e até mesmo o sotaque do português brasileiro, já que há muito mais conteúdo feito por youtubers daqui do que de lá. E aparentemente os lusitanos estão muito preocupados com este problema extremamente gravíssimo.
Youtuber Luccas Neto prestes a deturpar o português de Portugal
No Twitter, o assunto viralizou a partir de uma thread de Adriano Brandão, com destaques da reportagem do Diário de Notícias sobre o assunto e comentários irônicos sobre a abordagem.
De fato, o tom do texto é bem alarmista, tanto que chega a ser engraçado — parece que estão tratando de vícios, drogas, crimes…
Era o caso de Laura, agora com três anos, dois na altura do primeiro confinamento. “Ela chegou lá muito facilmente. Primeiro foi ver o Panda e os Caricas, o Ruca e coisas do género. Mas há muito mais conteúdos brasileiros do que portugueses. Ora, quando acaba o vídeo do Panda, aparece logo outro desses, que é muito mais apelativo para os miúdos. A partir daí é viciante para eles”, conta ao DN o pai, Jaime Pessoa, locutor numa rádio local em Pombal.
…mas o grande problema é a criança usar a expressão “trolar”, chamar a relva de “grama” ou não pronunciar o “R” e o “L” como os portugueses:
Laura não diz que vê um polícia na rua mas sim um policial, a relva é grama. Come tudinho. Já Iara pediu à mãe uma bala no supermercado e “isso foi um sinal de alarme”, conta ao DN Ana Marques, que no mesmo dia percebeu que “não podia deixá-la sozinha com o tablet, porque apesar de ser muito autónoma, só tinha quatro anos”.
A matéria usa como gancho um show do youtuber Luccas Neto, sucesso também em Portugal, para mostrar a influência do português brasileiro nas crianças lusitanas.
Os pais falam muito de vício em YouTube, e alguns comparam até com videogames — lembra quando eles eram apontados como os culpados por todos os males da infância e da juventude?
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Transcrição integral. Destaques e “links” meus.]
Prazado JPG, bom dia.
Mais uma vez estou grato pelo óptimo conteúdo que aqui assiduamente publica.
Sêrá qui Camões fáláva qui nem uzz brásilêiro? Fáláva iguauzinho, cara!
A desonestidade dos brasileiros irrita-me sobremaneira. Logo no início do vídeo a que a criatura alude, surge o linguista Ataliba de Castilho (Átáliba dji Cástchilho), que diz que “os portugueses é que abandonaram a sua maneira de falar”!
Contudo, neste outro video do mesmo canal Pesquisa FAPESP, o “tio” Ataliba legitima e absolve toda a espécie de extravios e “extravagâncias” que surgem na língua falada no Brásiu.
Modernidades conservadoras da língua brasileira, decerto! E os portugueses é que abandonaram a sua maneira de falar!! Já os brazucas, como diz o Átáliba, continuam a falar à moda de 1500, e a língua que lá se fala é “iguauzinha” à do Cabral quando lá desembarcou!
Os brasileiros confundem evolução linguística com involução e aberração linguísticas. Devido à provecta idade do senhor, torna-se difícil determinar se está senil ou é apenas faccioso. As falácias do Ataliba e da Mariana do Piauí – entre outros – mostram-nos que estes brasucas não olham a meios para atingir fins.
Despeço-me, deixando a seguinte questão, escrita em “português conservador” do Brásiu: sêrá qui Camões djizia Neptuno, Netuno ou Ne-pi-tu-no?
Muita saúde.
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1.° vídeo: “As marcas do português brasileiro”
De entre o enorme emaranhado de incongruências (e simples palermices paternalistas), o que se destaca é o reconhecimento tácito de que a deriva chegou a um ponto de não-retorno, o que equivale à consumação explícita da separação. Logo, a permanência do termo “português” na expressão “português brasileiro” é uma questão meramente política, sem um pingo de linguística a “atrapalhar”.
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2.° vídeo: “Quando se trata de português falado, não existe certo e errado”
O conduto é propaganda a que só os pategos tugas, linguistas ou não, dão importância. Conversa para ensinar alguns rudimentos a licenciados brasileiros.
O presigo está contido na frase “tudo vem da conversação” (em Português: tudo provém da oralidade).
O que remete de imediato para a telenovela “C Tá Lôco” e para a extrema importância da deformação mental (e do aparelho fonador) das crianças portuguesas.
Tudo isto não existe, tudo isto é fado triste, tudo isto só de cacete em riste.
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Sinceramente, nem sei o que dizer. Algures falei de carapaça para aguentar esta espécie de pancadas, mas devo confessar que nem dentro de um tanque de guerra é possível não sentir uns abanões. Ainda não me recompus das últimas “notícias” e dos vídeos que vou vendo em série. Coisas indigestas, enfim, ainda vá, é só fazer dieta durante uns dias. Mas “pitéus destes, altamente tóxicos, funcionam como o láudano ou o arsénico: com o tempo, a acumulação de doses tem um efeito letal.
Vou tentar ver as gravações que agora indica.
Mais uma vez, muito agradecido.
Saúde.
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