Germano e a “lusofonia”

«The first references to the Cape Verde Islands can be found in a written work by a Roman who died in the year 45 A.D. Until the mid-15th century, the Cape Verde Islands remained almost completely undiscovered. There was a myth that every ship sailing south of the Canary Islands did not return. In fact, this had to do with the wind and current that sent the ships one way. After improved ships and sailing techniques it was possible to sail the other way. Due to these technical improvements more and more countries were discovered. Including the Cape Verde islands.»
«It is unclear who exactly discovered which island. In general it is assumed that the Portuguese Diogo Gomes and the Italian Antaonio de Noli discovered the southern islands of Cape Verde between 1455 and 1461 (Santiago, Maio, Fogo, Brava). Diogo Alfonso discovered the northern islands.»
«The archipelago was named Cabo Verde, which means green cape. The green cape is also a peninsula in Senegal and is the westernmost point of the African mainland. The explorers have named Cabo Verde (Cape Verde) after this green cape in Senegal.» [CapeVerdeIslands.org]

(nota: esta transcrição no original em Inglês justifica-se, em todos os casos de conteúdos da Internet apenas disponíveis em brasileiro ou dizendo respeito ao Brasil [na Wikipedia, por exemplo], porque as nossas referências culturais e históricas têm muito mais a ver com as línguas das ex-potências colonizadoras europeias do que com a de uma ex-colónia sul-americana.)

A frase terá talvez escapado aos censores de serviço no jornal online “Observador” mas só por si justifica a transcrição integral deste e de outro artigo (da RTP) sobre o mesmo assunto, bem como a disponibilização das respectivas entrevistas em vídeo (ver em baixo).

O escritor cabo-verdiano Germano Almeida confessa o seu portuguesismo, num registo intimista, para variar, e recusa liminarmente o conceito de “lusofonia”, essa abstracção inventada para enfeitar um artifício brasileiro, a CPLP. A dita frase reza como segue: «a língua portuguesa [é] língua de contacto, [é] língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona».

Cabo Verde foi o 2.º país a subscrever a vigarice primordial, em 2005, logo a seguir ao Brasil (2004) e imediatamente antes de São Tomé e Príncipe (2006); tudo na sequência imediata e como consequência directa da Declaração de Brasília (2002). Este acto, aliás altamente suspeito, dada a extraordinária “coincidência” e a não menos estranha sequência específica (porquê Cabo Verde e São Tomé?), tornou efectiva — com a assinatura de apenas 3 dos 8 Estados da CPLP — a entrada em vigor do AO90 em todos os países daquela organização fantasma (ou fantoche, como se preferir). Nos (bizarros) termos do convencionado na XIV Cimeira da CPLP, em Brasília (2002), contrariando os princípios basilares do Direito internacional, nomeadamente quanto a ratificação de Tratados entre países independentes, a manobra encetada pelo Brasil — com a solícita assessoria de mercenários portugueses — foi de imediato secundada por aqueles dois pequenos territórios, tornando assim, em nome de todos os demais Estados-membros e ignorando totalmente a soberania de cada um deles, compulsiva e obrigatória a geral entrada em vigor do AO90.

Apesar de o país Cabo Verde ter sido politicamente instrumentalizado por uma potência estrangeira, ou seja, em concreto, mesmo tendo sido uma das duas ex-colónias portuguesas em África a vender-se aos interesses geopolíticos, estratégicos e económicos brasileiros, há que reconhecer a independência cultural, logo, linguística, dos naturais daquelas nove ilhas ao largo do Senegal. Tanto assim é que, na actualidade e desde 2017, Cabo Verde tem a sua própria língua nacional, o Crioulo, sendo o Português ensinado ali como língua estrangeira.

Valerá por conseguinte, e assim ficará para a posteridade, a dupla condição de Cabo Verde, de subserviência mas também de independência. Nessa duplicidade se inscreverá não apenas a frase do escritor como também a bonomia de que dá mostras, como se estivesse perante uma bifurcação sem saber ao certo o caminho, o rumo, o destino a tomar. Quem na altura assinou o documento de capitulação alheia não representa minimamente o povo cabo-verdiano, não apagará jamais o seu passado e nunca por nunca conspurcará o seu futuro.

Escritor cabo-verdiano Germano Almeida não gosta da expressão “lusofonia”

Somos escritores de diversos países que usam a língua portuguesa como língua de contacto, como língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona.”

“Observador”/Agência Lusa
OmarCamilo/LUSA
27 Out 2021

O escritor cabo-verdiano Germano Almeida, prémio Camões em 2018, disse esta quarta-feira, no festival Escritaria, em Penafiel, não gostar da expressão lusofonia, considerando que a língua portuguesa não representa “uma cultura lusófona”.

“Eu não gosto muito da expressão lusofonia. Somos escritores de diversos países que usam a língua portuguesa como língua de contacto, como língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona“, afirmou na conferência de imprensa do evento que esta quarta-feira se realizou no museu municipal daquela cidade do distrito do Porto.

O escritor, que está a ser homenageado pelo festival Escritaria até domingo, acrescentou: “Nós temos muitos pontos comuns, obviamente, sobretudo Cabo Verde, que é um país feito pelos portugueses. Mas as ilhas – não só a sua orografia, mas sobretudo a ausência de meios de vida, a falta de chuva, sobretudo – fizeram de nós pessoas diferentes”.

Segundo o autor, “é isso que a gente tenta traduzir na literatura e na música“.

Isto [língua comum] pode ser um elemento importante para os países de expressão portuguesa, mas não nos faz lusófonos; ‘lusógrafos’ sim”, observou aos jornalistas.

Sublinhando que teve sempre com Portugal, onde estudou e fez serviço militar, “uma relação óptima”, ressalvou que os portugueses não fizeram dos cabo-verdianos portugueses.

“Portugal foi sempre uma presença estranha. Nunca me senti português, sempre me afirmei cabo-verdiano. Mas, se um dia Cabo Verde desaparecesse, o país que eu adoptaria seria Portugal, mais nenhum outro”, acentuou o galardoado com o Prémio Camões de 2018.

O ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, vai estar em Penafiel, no Festival Literário Escritaria.

O governante cabo-verdiano participará na conferência “O papel da Lusofonia – À conversa com Germano Almeida e Abraão Vicente”, além de outras iniciativas incluídas na programação oficial do festival, até 31 de Outubro, disse esta quarta-feira o presidente da câmara de Penafiel, Antonino Sousa.

O festival literário Escritaria de Penafiel inclui dezenas de actividades dedicadas ao livro, ao teatro, a exposições, música e artes de rua.

“Germano Almeida, um dos mais proeminentes escritores em língua portuguesa, terá silhueta e frase em Penafiel para memória futura, a par com os anteriores homenageados”, assinala a organização.

No sábado, será lançado o novo romance de Germano Almeida, “A Confissão e a Culpa”, o último volume da sua “Trilogia do Mindelo”.

Lídia Jorge, Pepetela, Manuel Alegre, José Saramago, Alice Vieira, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís são alguns outros escritores homenageados em edições anteriores do festival.

[Destaques e “links” meus. Cacografia da brasiLusa corrigida. Imagem de mapa de: CountryReports.]

Autor Germano de Almeida lamenta que jovens leiam pouco e sejam influenciados “pela sociedade e nem sempre por coisas boas”

Rádio e Televisão de Portugal, 30.10.21

Em entrevista à RTP, Germano Almeida confessou que não contava com a homenagem no festival literário e que ficou surpreendido “com a exposição”.
“Ao mesmo tempo, estou divertido e comovido”, expressou o autor cabo-verdiano, que começou a escrever mais “a sério” aos 50 anos.”Não me defino com escritor.

Digo sempre que sou contador de histórias”, afirmou, acrescentando que “lia muito”. “Devo ter lido todos os livros que havia na Boa Vista naquele tempo”.

Quanto aos jovens que não lêem, Germano Almeida lamenta porque estão a ser “influenciados pela sociedade e nem sempre por coisas boas” e que os “meios de comunicação modernos não dão muito tempo aos jovens”.


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