
A Guiné Equatorial e os outros desafios da CPLP
Nuno Ribeiro
30/10/2016 – 06:30
A entrada da Hungria para o lote de observadores associados põe em evidência as políticas de Budapeste quanto aos refugiados e relativiza a importância da língua comum como vector de pertença à organização.
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Em véspera da XI cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), segunda e terça-feira em Brasília, o Governo de Lisboa insiste na abolição da pena de morte pela Guiné Equatorial, país membro desde Julho de 2014, que se juntou a Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
“Portugal confia que a Guiné Equatorial cumpra todos os seus compromissos e lembra que um compromisso fundamental é a abolição da pena de morte, visto que a CPLP tem esse requisito”, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Em declarações à Lusa, o chefe da diplomacia portuguesa congratulou-se pelo cumprimento do regime do Presidente Teodoro Obiang da moratória da pena de morte nos últimos dois anos. “É um elemento positivo” da adesão da Guiné Equatorial, admitiu Santos Silva.
Reconhecendo que nem todas as organizações multilaterais condicionam as adesões à abolição da pena de morte, o ministro dos Negócios Estrangeiros sublinhou a importância para Lisboa desta questão. “Portugal é um dos países líderes na luta mundial pela moratória nas execuções mas, também, pela abolição da pena de morte”, considerou. Já a ratificação, por Malabo, dos estatutos da CPLP é considerada, pela diplomacia portuguesa, como “boa notícia”.
Foi na cimeira de Díli, a 23 de Julho de 2014, que a Guiné Equatorial aderiu à CPLP, depois de em 20 de Fevereiro do mesmo ano, em Maputo, os ministros dos Negócios Estrangeiros terem recomendado esse passo aos chefes de Estado. Concluía, assim, um processo iniciado uma década antes quando Obiang apareceu como convidado-surpresa num encontro da organização pela mão do Presidente de São Tomé e Príncipe, Fradique de Menezes, no qual pediu para o seu país o estatuto de observador.
Em 2006, na cimeira de Bissau, este estatuto foi-lhe atribuído. O processo não foi linear e, em 2010, na cimeira de Luanda, Angola, Brasil, Cabo Verde e São Tomé, que se tinham comprometido publicamente com Teodoro Obiang para a entrada da Guiné Equatorial, têm um choque com a diplomacia portuguesa. O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, que estava na capital angolana, ficou à porta do encontro e manifestou o seu desagrado.
Em Março de 2011, são definidas as condições para a adesão, trabalhadas pela presidência angolana da CPLP e por Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Entre elas, o fim da pena de morte, a democratização do regime e o ensino do português.
Visita polémica
O desrespeito dos direitos humanos naquele país africano é alvo de críticas de muitas organizações internacionais. Nas últimas eleições, em 24 de Abril passado, todos os partidos da oposição optaram pelo boicote. Obiang foi reeleito por 98% dos votos e, se cumprir na íntegra o mandato de sete anos, estará 44 anos no poder.
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