A aberração ortográfica
O facto de mais de meio milhão de crianças serem forçadas, por decreto, a usar a nova ortografia não pode servir de cómoda justificação para se não corrigir urgentemente o desastroso erro da adopção precipitada e ditatorial de um acordo ortográfico que abastarda aberrantemente a língua de toda uma nação, empobrecendo-a marcantemente, e no qual a esmagadora maioria dos portugueses não se revê. Ao contrário daqueles que, por leviandade ou preguiça intelectual, predicam varrer-se o assunto para debaixo do tapete (“caso arrumado, não se fala mais nisso”…), não é, de modo algum, uma questão irreversível. Trata-se da obrigatoriedade de reverter quanto antes uma decisão política inconsciente e irresponsável, que estabeleceu a confusão geral e o caos e que, provocando estigmas profundos na sociedade, se insere na funesta tendência do apagamento da memória e da negação da História – ignorando que a língua portuguesa é, verdadeiramente, o nosso maior património, o nosso atestado de identidade. Mais importante que a bandeira, o hino, a Constituição ou o Estado.
César Faustino, Cascais