«O monumento onde se lê “Aqui Nasceu Portugal”, em Guimarães, foi vendido a um empresário após a autarquia ter abdicado do direito de preferência para a sua aquisição por 190 mil euros.»
Diário de Notícias
Não há acordo sobre o acordo
Mais Guimarães – O Jornal
Catarina Castro Abreu
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A língua portuguesa é usada correntemente em oito países por mais de 260 milhões de pessoas. É a sexta mais falada no mundo e é a língua materna de 203 milhões de pessoas. Une numa mesma comunidade nove países que aprovaram e ratificaram o Acordo Ortográfico de 1990 mas apenas em três vigora a obrigatoriedade da sua utilização. É um tema que continua a acender discussões apaixonadas, inclusivamente no berço de Portugal.
Dos países pertencentes à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), apenas o Brasil, Cabo Verde e Portugal têm o novo Acordo Ortográfico – que não é tão novo assim porque é uma regra que existe desde 1990 – em vigor de forma obrigatória. Em Angola todo o processo está em stand-by e não há uma data definida para a entrada em vigor e muito menos para assumir um carácter obrigatório. Na Guiné-Bissau, o AO de 1990 está ratificado mas, tal como em Angola, também não há data de entrada em vigor nem de obrigatoriedade de aplicação. Na mesma fase estão Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Na semana passada, começaram as comemorações dos 20 anos da CPLP na cidade-berço sobre a “projecção internacional da língua portuguesa”. O Mais Guimarães esteve lá e durante um dia de debates, curiosamente, não se falou do Acordo Ortográfico de 1990 (novo AO). Talvez porque, segundo Murade Murargy, secretário executivo da CPLP, “não haja motivo de fractura entre os países”. Mas o diplomata ressalva que “quando este acordo foi negociado, as pessoas não tinham consciência das implicações que isto ia ter, até mesmo no nosso material didáctico, há implicações financeiras muito elevadas e muitos países não avaliaram esse impacto”.
Murade Murargy acredita que o tempo vai resolver todos os diferendos: “Com o tempo e o desenvolvimento económico dos países, todos vão entrar em sintonia uns com os outros e o AO vai ser aplicado. Não se trata de uma questão política, apenas sim técnica”. Micaela Ramon, professora auxiliar do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, também sublinha que “a ortografia não é um ponto essencial, é um ponto acessório e que não deve, de maneira nenhuma, constituir uma fractura entre os países que têm a língua portuguesa como língua oficial”.
A professora realça que “a questão da ortografia é uma convenção que é muito visível num determinado momento sincrónico. Tem vindo a ser alterada ao longo dos tempos e não é essa convenção ortográfica que descaracteriza na sua essência a língua”. “A língua mantém-se a mesma, mantém-se una na sua multiplicidade e variedades”, vinca.
Para Micaela Ramon o dissenso que existe sobre o AO “é natural”. “A relação que os falantes têm com a língua é sempre afectiva. A língua é um veículo de expressão da nossa identidade, das emoções, das relações com os outros e com o mundo. Tudo o que diz respeito à língua é passível de provocar discussões acaloradas. Isso é natural e até mesmo salutar porque quer dizer que a língua interessa aos seus falantes, na academia e fora da academia”, pontua.
Na academia, diz a professora da UMinho, o AO de 1990 também não é consensual havendo “investigadores com uma perspectiva mais etimológica que dão muita relevância à questão da alteração da norma ortográfica” e “outros que aceitam com naturalidade mais esta evolução”. Sublinha ainda que “este não é o primeiro AO, é mais um dos muitos que têm sido feitos e das muitas alterações à norma ortográfica” que integram a história da língua.
Também Esser Jorge Silva, do Gabinete de Imprensa de Guimarães, revela-se favorável ao novo Acordo Ortográfico. “Por uma razão simples: toda a escrita decorre de acordos políticos. E neste, como noutros casos históricos, foi sempre assim que aconteceu: por decisão política fixou-se a forma de grafar as palavras. Muita gente confunde ‘língua’ com ‘escrita’ e, nessa confusão, surge a afirmação de que a língua não se muda”. Para este responsável, “grande parte do problema tem a ver com a expressão de poder em que alguns gostavam de ver prolongar o colonialismo.
Neste caso há que ter em conta que a língua portuguesa não é hoje exclusiva de Portugal. Nos países outrora colónias o português é o primeiro factor de união”. Por outro lado, pontua, “muita gente que é contra o AO apenas por uma questão de resistência à mudança. Não estão para se reconverterem e, por isso, declaram-se contra. Acho isso compreensível mas a compreensão não deve vigorar como regra”.
Fala ainda da dimensão económica deste Acordo Ortográfico dizendo que “a fixação de formas pelos países onde se fala Português só pode ser boa para a edição de livros, assim alargando o mercado para muitos milhões de leitores”. Uma opinião completamente antagónica tem Paulo César Gonçalves, dramaturgo e letrista, que ironicamente se diz “doutorado em Estudos Comparados da Palermice Humana”. Por questões “óbvias”, a sua opinião vertida ao Mais Guimarães é transcrita conforme o antigo AO e diz que “O famigerado acordo-ortográfico-amigo-de-editoras-e-de-uns-quantos-académicos não é mais do que uma tentativa, por parte de uma série de personagens-menores, de ficar na história (ainda que por razões pífias). Para outros, muitos, é uma forma de lucro. Muito lucro!”.
Cáustico, Paulo César Gonçalves atira: “Fala-se em evolução da Língua Portuguesa, mas a Escola permanece estagnada algures no século XX (e em alguns casos no Século XIX). A disciplina de Português foi transformada em disciplina de “Gramática Luso-Brasileira”; o espírito crítico, por onde anda? Os estudantes são incentivados a ter opinião própria? As disciplinas são (todas) tratadas de forma igual? E os Professores? Servem, tal como os estudantes, de cobaias de tudo e mais alguma coisa?”.
[Transcrição (parcial) de CRUP | Não há acordo sobre o acordo. Corrigi a ortografia. “Links” e destaques meus. Imagem de topo copiada de “Guimarães Digital“.]
Tudo muito “alinhadinho”, como convém. Até dá volta ao estômago.
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Vale pelo que diz o “doutorado em Estudos Comparados da Palermice Humana”.
eheheheheheheheh
Douto “canudo”!
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